terça-feira, 22 de dezembro de 2020

A síntese do poder no Brasil

 Por Atanásio Mykonios

 

A burguesia brasileira é realmente estranha. Ela parece ser feita de uma mentalidade, ao mesmo tempo, semelhante à de todas as burguesias, mas também é única. Seu capitalismo praticado, em grande medida, parece negar o capitalismo. É difícil entender o jogo e as estratégias dessa classe. Ela parece manter na mais absoluta dependência econômica, mas isso também não explica tudo. Ela também mantém o Brasil autossuficiente, do ponto de vista das relações de produção e exploração. Explico. Para aquilo a que se propõe produzir e trocar, parece bastar o quinhão que sempre lhe coube. Estrangular a classe trabalhadora, com a extração do excedente, jogá-lo no mercado da rede de bancos e também delegar aos bancos parte do poder. É bem verdade que toda burguesia é apátrida, suga tudo que pode, a qualquer momento, sob quaisquer circunstâncias, onde quer que esteja. A brasileira é a que consegue exercer o maior poder sobre a classe trabalhadora pelo mundo afora. É por isso que sua estratégia é de extermínio da classe trabalhadora, mantida, no interior do território, como se estivesse num imenso campo de concentração. A criação de mais valor, aqui, é a custa de uma guerra campal contra os trabalhadores. Por isso não importa a essa burguesia avançar socialmente, avançar para relações mínimas de contenção de poder ou minimizar os efeitos do massacre sobre trabalhadores negros, mulheres, minorias etc. Ela quer o poder absoluto e o exerce sem medo ou piedade. É preciso compreender que essa classe é a expressão que mais se aproxima da perfeição, capaz de juntar a eficiência do modo escravista de produção e seus métodos de violência material em último grau e o modo capitalista, com suas nuances e firulas tecnocráticas. A burguesia brasileira é a síntese de que é possível a prática do capitalismo selvagem e sua convivência com países cujas engenharias sociais são menos predatórias ou, diria, com um traço menos genocida. A revolução que aqui vier a ocorrer, será um marco na história da luta de classes pelo mundo.

 

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Os apóstolos da Educação

Por Atanásio Mykonios


 
A gente luta pra defender a "Educação". A gente luta pra defender o "Ensino público de qualidade e gratuito", a gente luta pra defender a "Universidade", a gente luta pra defender os "Pobres na Educação". E não conseguimos defender a nós na Educação como trabalhadores. Nós parecemos apóstolos da Educação. Mas parece termos vergonha de lutarmos como trabalhadores. A gente defende essas coisas em abstrato, mas não sabe lutar como classe explorada. A subjetividade transformar essas causas em lutas totalmente vazias e com isso a gente acredita que pode conquistar as pessoas para defenderem a "Educação", o "Ensino", a "Universidade", os "Pobres". Tudo vira utopia, tudo vira esperança, tudo vira música, tudo vira meme. Por dentro, a gente só pode enfrentar quem nos explora, reconhecendo a identidade de trabalhadores da Educação. O trabalhador vive concretamente os problemas, na pele, no preço da comida, do aluguel, das condições reais da sua vida. Na universidade, a gente não se considera trabalhador, não fala disto, não se organiza como tal. A vergonha é tanta que a gente fica lutando por dentro, contra a destruição da "Instituição", de novo, de forma abstrata, mas a gente não se levanta como trabalhadores que ainda somos. Congelam salários, reduzem o que temos, ameaçam etc., e a gente só discute o que o reitor faz e como ele tá destruindo a "Universidade". O terrível é dizer isso pros "Colegas" e todo mundo fazer cara de paisagem.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

A ciência nunca será abandonada pelo Capital

 Por Atanásio Mykonios




        A destruição do sistema de saúde não é causada por um psicopata ou pelo seu governo composto por topeiras. É a burguesia que se aproveita desse psicopata e de seu governo para impor os interesses do Capital. Acusar o psicopata de que é um energúmeno negacionista, não passa de ingenuidade. O Capital nunca pode prescindir da ciência. A forma material com que o Capital realiza seu objetivo é a ciência. Ao transformar tudo na forma mercadoria, ele o faz cientificamente. Ao substituir ações estatais ou semi-estatais por atos privados, coloca no seu lugar o mecanismo de exploração direta, mas não deixa de utilizar a ciência. A diferença é que será utilizada na forma mais acaba de troca de valor.

domingo, 8 de novembro de 2020

Os mesmos discursos

 Por Atanásio Mykonios

 

Há um complexo nacionalista que afeta a todos os políticos quando são guindados ao poder. Os eleitos parecem que, em seus discursos inaugurais, voltam-se para os supostos valores da nação. A crise do capital em âmbito mundial é tratada com os argumentos subjetivos. Dos venezuelanos aos chineses, dos indianos aos brasileiros, dos estadunidenses aos uruguaios, dos gregos aos franceses. Dilma no seu segundo mandato, Obama, nos dois, Hugo Chaves também, Maurício Macri, Macron, Putin e tantos outros. A nação é exortada, as tradições são ressuscitadas para vencer os inimigos imaginários. A nação ainda é o lugar absolutamente abstrato para fazer frente a problemas estruturais, históricos, materiais e objetivos. A classe trabalhadora é submersa numa realidade fictícia, os problemas são tratados de modo que a nação pode superá-los. O apelo ao espírito nacionalista ressurge, como nos tempos nazistas ou stalinistas. O capital faz o que quer com os países e os seus estados-nacionais. Isso mostra que a mundialização do capital não conhece fronteiras. A ingenuidade está presente, se bem que depois, o movimento real do sistema social do capital e suas necessidades é mais imperioso que a boa vontade e as boas intenções dos governantes, supostamente nacionalistas. O Estado, as fronteiras e a exploração interna continuam imperando. O discurso com o verniz de salvação nacional é um elemento do bloqueio dos significados reais da situação.

 

sexta-feira, 6 de novembro de 2020

Este regime

  Por Atanásio Mykonios


Estamos sob um regime genocida há século e mais. O republicanismo não mudou a essência do regime brasileiro. O Estado é genocida, sob vários ângulos ou aspectos. Não devemos tratar os fatos que envolvem todo tipo de violência contra as mulheres brasileiras, como dados apenas de uma cultura, de maneira a individualizar os genocidas. Trata-se de uma política de Estado, que conjuga exploração, violência, brutalidade, estupro, dominação econômica e ideológica. O aparato judicial é um dos elementos de manutenção desse genocídio contra as mulheres. O sistema do Capital aprisiona as mulheres num campo de concentração social, o extermínio das mulheres é sistemático, metódico e mantém uma estrutura de opressão. A humilhação é um método eficaz de arrancar qualquer resquício de dignidade. A economia brasileira é um mercado de carne humana, exposta sob os holofotes da exploração sexual, cujo caráter reside nas mais profundas raízes da dominação patriarcal capitalista. E a carne da mulher é o elemento determinante desse regime, que encontra nela, sua razão de ser. As religiões vivem e transitam sib o tacão dessa bestialidade, nada fazem contra esse estado de coisas, ao contrário, reprimem e consolidam esse holocausto. Ainda não entendemos com alguma clareza o caráter genocida desse regime. A política e seus políticos não escondem a natureza desse regime, orgulham-se de sua obra. Somente uma revolução para por abaixo esse regime, sabemos disso, mas...

 

Qual a diferença?

 Por Atanásio Mykonios

 

Há quem comemore a demissão desse Rodrigo Constantino. É preciso observar que as empresas de comunicação que empregavam esse jornalista, têm ligações com o poder econômico e não seria diferente, não o é de fato. Assim como uma empresa como Facebook, que é um eficiente meio de comunicação para drenar a mercadoria mais valorizada que nós produzirmos - a informação. Qual a diferença entre o jornalista que emite opiniões e ganha dinheiro, em troca dessa atividade, e eu, que escrevo no Facebook? Primeira diferença, a audiência. Segunda, eu produzo pequenos textos, e os algoritmos transformam isso em mercadoria para o sistema do Capital sem qye eu nada receba em troca. Ambas as empresas atuam como elementos-chave tanto do ponto de vista ideológico quanto econômico. Eu e esse jornalista de merda temos mais em comum do que a minha vã filosofia pode supor.

Unidade para quê?

 Por Atanásio Mykonios

 

"Toda unanimidade é burra", disse Nelson Rodrigues. Por que se cobra tanto que a esquerda tem de ser "unida"? Tem-se o pensamento de que a direita é unida e por isso, todas as alas à esquerda têm de se unir também. A direita não é unida, são os capitalistas que conseguem, minimamente, unir-se em torno do Estado para controlá-lo, com sua força política. A esquerda tem de ser plural. O que tem de ser uma força política consistente é a organização dos trabalhadores, pois somos nós, os trabalhadores que sofremos na pele, o poder econômico e político sobre nós, na forma da luta para impor a lógica da exploração da nossa capacidade de trabalho. A esquerda existe e não necessariamente pode representar os trabalhadores. Essa confusão persiste, em grande medida, porque em nossa condição de trabalhadores, somos obrigados a viver sob a égide da subjetividade, devido à total dependência diante do capital. Se temos apenas a nossa capacidade de trabalho para trocar pela subsistência, somos lançados, por consequência, na subjetividade quase absoluta. O problema da esquerda e suas alas é ser capturada pela subjetividade e nisso, nós trabalhadores, vivemos a confusão ideológica, que é típica do fetiche social da mercadoria. Demora para compreender esse processo. A direita sofre do mesmo mal, sua suposta unidade é apenas a soma dos fatores do bloqueio do real significado da exploração e do papel do Estado. A maioria dos membros da direita vive no reino da subjetividade, tanto quanto os trabalhadores em geral.

domingo, 13 de setembro de 2020

A ignorância das relações de exploração e produção

 Por Atanásio Mykonios 


O que mais me incomoda e faz sofrer, no interior das lutas, principalmente na universidade, é que as pessoas que querem fazer política, as poucas que ainda se interessam e se inquietam, não conseguem levar em conta o fator da economia. Isto é, não conseguem entender que a base de toda luta política contra a destruição e a desigualdade começa por entender as relações de poder econômico, as relações de exploração e produção. Quem sustenta a universidade? De onde vem o dinheiro, concretamente falando, quem sustenta materialmente os nossos salários e as nossas ações? Vem dos trabalhadores mais pobres. Como isso não faz parte do entendimento e do horizonte da maioria que trabalha na universidade, há uma abissal indiferença, o que gera um olhar ilusório quanto ao objeto de luta. Então, tentam fazer política sem conhecer a substância dessa realidade. Isso dói profundamente, porque a esquerda e a direita se igualam nesse campo de atuação, são duas esferas completamente alienadas, cujo padrão é sempre moralizar tudo. Enquanto isso, não conhecem aqueles que produzem a riqueza que nos sustenta, ou não querem conhecer, o que parece mais adequado. Nisso, os servidores públicos são tão vítimas do fetiche quanto os religiosos.

sexta-feira, 19 de junho de 2020

Marx contra o Estado

Por Atanásio Mykonios





Para saber o que Marx pensava acerca do Estado, depois do Manifesto Comunista, com ideia em fazê-lo ruir assim como as classes sociais. Ou seja, muito tempo depois, ao escrever sobre a Comuna de Paris, Marx advoga o fim do Estado, e o coloca de modo negativo.

“O 4 de setembro foi apenas a reivindicação da República contra o grotesco aventureiro que a havia assassinado. A verdadeira antítese do próprio Império – isto é, do poder estatal, do Executivo centralizado do qual o Segundo Império fora somente a fórmula exaustiva – foi a Comuna. Esse poder estatal é, na verdade, uma criação da classe média, primeiramente [como] um meio para eliminar o feudalismo, depois [como] um meio para esmagar as aspirações emancipatórias dos produtores, da classe trabalhadora. Todas as reações e todas as revoluções serviram tão somente para transferir esse poder organizado – essa força organizada da escravização do trabalho – de uma mão para outra, de uma fração das classes dominantes para outra. Ele serviu às classes dominantes como um meio de subjugação e corrupção. Ganhou novas forças a cada nova mudança. Serviu como instrumento para suprimir toda sublevação popular e esmagar as classes trabalhadoras depois de estas terem sido combatidas e usadas para assegurar a transferência do poder estatal de uma parte de seus opressores para outra. Foi, portanto, uma revolução não contra essa ou aquela forma de poder estatal, seja ela legítima, constitucional, republicana ou imperial. Foi uma revolução contra o Estado mesmo, este aborto sobrenatural da sociedade, uma reassunção, pelo povo e para o povo, de sua própria vida social. Não foi uma revolução feita para transferi-lo de uma fração das classes dominantes para outra, mas para destruir essa horrenda maquinaria da dominação de classe ela mesma. Não foi uma dessas lutas insignificantes entre as formas executiva e parlamentar da dominação de classe, mas uma revolta contra ambas essas formas, integrando uma à outra, e da qual a forma parlamentar era apenas um apêndice defeituoso do Executivo.”

Karl Marx, Guerra Civil na França, p. 127, Boitempo, 2011.

terça-feira, 2 de junho de 2020

Quando o trabalhador é contra o trabalhador

Por Atanásio Mykonios

       

            Quando o policial descobrir a sua condição histórica de trabalhador explorado, talvez aí, não nasça alguma consciência de classe, talvez descubra a quem serve e por que o serve. O tempo histórico não é garantia de consciência histórica, apenas é o tempo do movimento real das relações sociais, todas. O policial é um trabalhador que assim como tantos, parece não ter noção de que é trabalhador. Por outro lado, não é só aqui, no mundo inteiro, o capital e os Estados têm fortalecido as polícias, têm armado até os dentes as polícias, com o que há de mais moderno em termos de reprimir e matar. Aqui como em muitos países, as polícias foram tornadas intocáveis. Isso torna a possibilidade de que um policial tenha clareza histórica de que é um trabalhador explorado, é cada vez mais difícil e distante. Quanto maior o poder de intervenção dado à polícia, por parte do capital e do Estado, mais poder as polícias adquirem e mais autonomia e distantes da sociedade se colocam. Elas se tornaram um cancro histórico da sociedade. As polícias começaram a cobrar seu quinhão nesse latifúndio social. Querem não apenas a garantia para reprimir, não apenas continuar a garantir a produção do capital e a exploração, executando com precisão suas funções. Querem poder, querem um pedaço do poder. Seria ingênuo acreditar nas funções constitucionais das polícias. O Estado é posto para garantir as relações de desigualdade por meio do contrato desigual entre classes. Por isso, a polícia sempre estará do lado de quem sempre esteve. Como os trabalhadores da polícia poderiam compreender a sua condição de explorados se fazem parte da proteção ao capital?

sexta-feira, 29 de maio de 2020



A luta ideológica e a indústria da falsidade (nova face da luta de classes)

Por Atanásio Mykonios



           Interessante as reações. Um bando de criminosos que age à revelia, nos porões das gavetas sociais e que tem poder político. As esquerdas não tiveram condições de confrontar o exército de robôs porque não tinham e não têm capital para isso. É compreensível. Temos de entender que estamos lidando com uma batalha cujo inimigo utiliza a cultura da imagem e possui capital e capacidade de intervenção e capacidade de inverter a balança de poder a seu favor. Esse confronto tem características muito diferentes do ponto de vista das consequências políticas. Só agora foram confrontados no campo onde ainda é possível, no jurídico, pelo menos aqui no Brasil. Lá fora começa a haver quem os confronte com tecnologia, aqui somos pobres e sempre chegamos atrasados nas lutas. O campo da batalha agora é outro, até os trabalhadores mais pobres já estão familiarizados com esse campo, e por isso mesmo, são o alvo preferido do exército tecnológico. Por isso a reação animalesca dos promotores dessa política, com seus instrumentos, seus robozinhos, seus brinquedinhos escondidos no quarto da empregada, sua tecnologia da falsidade em escala industrial. Reagem como adolescentes raivosos, cujos pais querem controlar seu passa tempo favorito. Se nós não temos poder econômico para lidar com esse poder à extrema-direita, que é capaz de provocar verdadeiros terremotos políticos, bloqueando os significados, retorcendo a verdade, porque esse é o sentido real da ideologia, temos de nos preparar para essa nova face da luta de classes. A luta presencial historicamente é e será importante, mas a luta no campo virtual veio para ficar.

O espetáculo da educação



Por Atanásio Mykonios


           No espetáculo da sociabilidade, a educação não poderia ficar de fora. Chegou a hora e a vez do espetáculo da educação a distância. O show da educação através dos computadores e celulares. O distanciamento social se converte em distanciamento pedagógico. A didática se transforma em show de horrores. Professores e professoras se tornam apresentadores de programas de auditório. O show não pode parar. Tirem as crianças da sala!!! As aulas presenciais, que eram terrivelmente sofridas, agora são transmitidas em cadeia municipal ou estadual de limpeza social, todos em casa sem condições materiais. O auditório presencial é substituído pela tela individual. Em breve uma só pessoa apresentará as aulas. Os artistas da educação não terão sequer direito à produção, nem maquiagem, muito menos camarim. Assistiremos a anúncios de papelarias, copiadoras, livrarias, editoras, moda estudantil, etc. Enfim, o espetáculo da educação será a educação do espetáculo. Os estudantes serão os espectadores do vazio do conhecimento, a tecnologia da informação é a nova ideologia de classe para reproduzir as estruturas de exploração. Os trabalhadores mecanizados agora serão trabalhadores informatizados. Bits e bytes compõem a educação. Por trás de tudo isso, no fundo, os novos educadores serão os algoritmos.

sexta-feira, 1 de maio de 2020

Nosso dia

Por Atanásio Mykonios
 

1 de maio. Dia do trabalhador. Dia da história dos que são explorados, oprimidos, humilhados, desterrados. De todos os assalariados, dos desempregados e das mulheres. É o dia das populações famintas, dos encarcerados e das mães. É o dia do sangue e da chibata, do tronco, das faxineiras e dos ambulantes. 1 de maio. Dia da trabalhadora e do vagabundo, dos pedintes e dos abandonados. É da criança no cruzamento, do pipoqueiro, do pescador e de todas as prostitutas. É o dia das greves e das demissões, dos doentes e estudantes, que trabalham produzindo seu saber. 1 de maio, é dos negros encarcerados, dos poetas e pintores. É a história do suor, da venda e da compra. É o dia 1 de maio, dos velhos, dos aposentados e do ambulante, da enfermeira e do padeiro. Sim, é dos que lutaram e dos que morrem, do gari e das fiandeiras, das cabeleireiras e dos ubers. E dos garçons e dos esquecidos, dos guardadores de carros e flanelinhas, dos andarilhos e do repositor do supermercado, de tantos açougueiros e das rimas desfeitas. É de todos nós que vendemos nossos corpos para produzir capital e miséria. O 1 de maio, o mês da mãe, do ventre, das grávidas, dos sonhadores, dos resistentes, dos embotados. O dia dos professores, dos escritores e revolucionários. É o dia 1 de maio. Os trabalhadores merecem a reverência, o trabalho não merece essa reverência. É o dia da vergonha, da revolta e do grito, do fetiche, da luta e dos lábios que gritam Liberdade.

quinta-feira, 30 de abril de 2020

Ele é feito dessa matéria

Por Atanásio Mykonios

 
 
             Na reunião do Crítica Social, ontem à noite, sobre o processo histórico da derrocada atual, disse o que penso sobre o presidente. Penso que ele é um homem oriundo dos porões, do esgoto social, da ordem dos torturadores. Ele tem um caráter de torturador, seu mundo é o porão da tortura, lá onde o cheiro da carne submetida a toda forma de atrocidade é para ele o perfume seleto. Ele pensa, ele age, ele fala, ele encara o mundo como um torturador à procura do corpo perfeito para humilhar e fustigar lentamente. Sua visão de mundo foi forjada nas celas obscuras, cheias de urina, fezes, gritos no escuro, dores e sangue, que os militares criaram para seu deleite. Seus heróis são do mundo fora do mundo, dessa rotina profissional da morte lenta, do choque, do pau-de-arara, das agulhas, torniquetes e vaginas devoradas por roedores. Ele jamais terá compaixão para com o sofrimento, seja lá de quem for. Sua inteligência é do torturador que não vê nem precisa estar à luz do dia. Eke respira o gás que exala dos canos furados dos corredores fétidos das galerias de sangue. Seus colaboradores se reconhecem pelo mesmo ofício, pelo mesmo ódio profissional e pela mesma predileção em torturar, pelos mais diversos meios. Torturam mulheres, professores, enfermeiras, estudantes, miseráveis, caixas de supermercado, cegos e analfabetos. Um torturador não reconhece nenhuma humanidade, como algoz perfeito, tem o domínio da vida, do corpo, dos olhos, do pensamento, do ânus. É o Senhor da morte. Tripudia, promove a humilhação, idolatra o escárnio, submete e tem prazer pela submissão. Ele é feito dessa matéria, insensível, sem concessão para com suas vítimas. Ele é o algoz perfeito para uma elite assassina e pervertida. Todo torturador é um pervertido. Todo torturador deseja que suas vítimas percam o prumo moral, sejam destruídas, implorem pela morte. O torturador é incansável, insaciável, por carne e dor. Entendam isso de uma vez.

domingo, 29 de março de 2020

Os capitalistas brasileiros e a dívida dos EUA

 Por Atanásio Mykonios


De acordo com Departamento do tesouro dos EUA, a dívida pública do Estado, do ponto de vista de seus títulos mantidos por compradores externos, é dividida da seguinte forma:
China – 17,3%
Japão – 16,05%
Outros País – 8,6%
Brasil – 4,8%
Reino Unido – 4,7%
Reparem, os capitalistas brasileiros detêm 4,8% da dívida pública dos EUA.
A dívida dos governos no mundo é de 69,2 trilhões
A dívida dos EUA hoje está no total de 23,61 trilhões de dólares, portanto, 34,12% de todas as dívidas dos estados-nacionais pertencem aos EUA.
A dívida da China hoje está em 6,60 trilhões de dólares
Segundo o Institute of International Finance, com pesquisas e levantamentos, tendo como fontes o FMI e o BIS (Bank for International Settlements), a dívida total global, nos três primeiros trimestres de 2019, chegou a 252,6 trilhões de dólares.
A soma do PIB produzido mundialmente, em 2019, chegou a 86,593 trilhões de dólares. Ou seja, na verdade, as dívidas mundiais representaram 2,92 vezes mais que o PIB mundial, isto é, 392% do produto interno bruto produzido pelos países mundo afora.
Os 252,6 trilhões foram divididos da seguinte forma:
Dívida das famílias: 47,5 trilhões
Dívida das empresas e corporações não-financeiras: 74,4 trilhões
Setor financeiro: 61,5 trilhões
Governos: 69,2 trilhões

Mais um detalhe.
Os capitalistas brasileiros, segundo o BANCO CENTRAL, em 2018, declararam que seus capitais investidos no exterior foram no total de 493 bilhões de dólares. Isso mesmo.

Ou seja, os capitalistas brasileiros, são credores da dívida pública dos EUA, assim como a China, o Japão etc. Agora a gente entende o papel do PAULO GUEDES em sugar tudo que pode da nossa classe trabalhadora.

quarta-feira, 25 de março de 2020

Os trabalhadores e a guerra do capital

Por Atanásio Mykonios



Às vésperas da Primeira Grande Guerra, a Itália mergulhou numa crise entre os fascistas de um lado, os comunistas e socialistas do outro.

A questão é decidir se a Itália deveria entrar na Guerra ou não. Os comunistas e socialistas lutavam contra a entrada na Guerra, porque defendiam que os trabalhadores deveriam se unir internacionalmente e não lutarem uns contra os outros, porque era uma guerra dos capitalistas para realinhar o capital.

Enquanto isso, os fascistas queriam que a Itália entrasse de cabeça na Guerra, porque assim o caráter nacionalista do fascismo poderia ser consolidado, um inimigo externo seria o álibi perfeito para unir a nação e constituir a nação fascista.

Agora, os fascistas querem que os trabalhadores cumpram seu papel nessa nova Guerra, o capital precisa dos trabalhadores. Os trabalhadores estão sendo forçados a ir para a linha de frente para não morrerem de fome.

Ocorre, que nesse momento, os socialistas e comunistas não conseguem se contrapor nessa Guerra. E a união em torno do trabalho, não importa quantos morram, para salvar o estômago dos trabalhadores, será o que pode levar os trabalhadores ao sacrifício em nome de uma suposta causa maior.

Essa questão é histórica e emblemática. Bolsonaro cumpre um papel nesse processo, um papel crucial entre levar os trabalhadores à morte ou os trabalhadores levá-lo a sua morte.

sexta-feira, 20 de março de 2020

O tamanho do capital brasileiro no exterior

Por Atanásio Mykonios


 

Segundo o Banco Central (capitais brasileiros no exterior)

• Em 2018, os capitais estrangeiros aplicados na Agricultura, na Indústria e nos Serviços somaram U$ 499,29 bilhões.
• Os investimentos de capitais brasileiros, no Brasil, nos mesmos três setores da economia, no mesmo ano, somaram 345,71 bilhões de dólares
• Por outro lado, os capitais brasileiros no exterior somaram 493,18 bilhões de dólares. Destes, U$ 171,518 bilhões pertenciam a pessoas físicas e U$ 321,66 bilhões a pessoas jurídicas.
• O total de declarantes brasileiros com investimentos de capitais no exterior em 2018 foi de 63464.
• E acima de 1 bilhão de dólares investidos, somaram apenas 46 capitalistas brasileiros.
• Ou seja, os estrangeiros investiram mais do que os brasileiros, no próprio capitalismo nacional. Os capitalistas brasileiros têm um montante de meio trilhão de dólares aplicados e investidos no exterior.
• Agora é possível compreender o que ocorre no Brasil, a razão pela qual os capitalistas brasileiros são essa corja de bandidos.
• E por que o governo é o seu braço armado.
• O número de declarantes em 2007 era de 15231 e em 2018 esse número saltou para 63464 declarantes.
• Ainda em 2018, do total de declarantes, 58597 eram pessoas físicas e 4867 pessoas jurídicas.

quinta-feira, 19 de março de 2020

Paremos de ilusões

Por Atanásio Mykonios


          O pessoal que está no governo não está ameaçado, o Guedes é uma besta tão grande quanto o Bolsonaro, o Moro, o Weintraub, o Araújo, o Salles, o Onix, o Heleno etc. Aliás, todo o governo é feito de bestas e foi colocado lá e todos eles detestam os trabalhadores e os pobres, todos eles. Então, a gente só tem agora é que ver quando essa crise vai levar esse governo ao colapso total, todo o governo e não só o Bolsonaro. Porque todo mundo ali foi colocado para trabalhar contra nós, contra os pobres, contra as mulheres, os negros, os idosos, os índios etc. Então, acho que não faz muita diferença só ele cair. O Guedes reage ao vírus com a ética e a lealdade que deve aos capitalistas, não existe para essa gente nenhum compromisso com a população, com quem quer que seja a não ser com seus próprios interesses. O vice-presidente não é um corpo estranho nesse hospício, não há ninguém que aponte para algo diferente, isso é ilusão. A composição desse governo foi muito bem pensada, se há alguém que soube e continua a aparelhar o governo, este foi o grupo que apoia Bolsonaro.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

A ironia do trágico


Por Atanásio Mykonios
 
 
Parece estranho, parece irônico, talvez soe trágico ou simplesmente um paradoxo. O governo é uma ironia histórica. Nos manuscritos que Marx escreveu exaustivamente, entre os anos de 1857 a 1858, intitulados Grundrisse, uma obra absolutamente essencial para a compreensão do movimento do pensamento de Marx, ali, ele tem umas sacadas impressionantes. Numa delas, ele afirma que para destruir o capital, seria necessário fazer ruir o Estado e as classes sociais. Isto não é um dado qualquer, revela a profundidade da tarefa histórica que os trabalhadores têm pela frente. Para quem conhece minimamente o pensamento marxista, consegue também compreender, a partir da obra A agrada família, que a constituição histórica do capital, introduziu a figura do direito, porque é o Estado o mecanismo institucional do processo do direito.

Ocorre que no processo histórico, das determinações e as formas social que o capital foi assumindo, o Estado se tornou o apanágio das lutas sociais, e os movimentos sociais – sendo o primeiro e fundamental desses movimentos, o dos trabalhadores contra o capital – ao serem absorvidos pela forma-Estado, perderam a sua real autonomia.

A ironia, a estranheza ou a tragicidade atuais revelam que justamente a direita e os liberais colocam a forma-Estado sob questão, no limite das condições em que o capital, em seu atual estágio, encontra-se. E os movimentos de trabalhadores, no seu conjunto, tragados pela estrutura estatal, apegam-se as formalidades estatais, porque o direito concedido pelo Estado aos trabalhadores, nada mais foi do que a concessão do controle por parte dos mecanismos de exploração do capital.
 
Desesperados, agarramo-nos ao Estado, como forma de garantia dos direitos que, ao final e ao cabo, representam a perda da nossa própria autonomia. Nisso, reside uma aporia, a sociedade produtora de mercadorias se tornou, no seu processo dialético, a tautologia social, impregnada da forma-social-estatal.

Mas a crise estrutural – mesmo que há aqueles que, no campo marxista, defendam que a crise é cíclica e que o capital retomará a sua pujança – leva ainda mais a fundo a política como forma de ação de libertação dos movimentos sociais e dos trabalhadores. A crise atual levou de roldão os partidos e os sindicatos. Mesmo com mais de 30 partidos e aproximadamente 15 mil sindicatos de trabalhadores, nenhuma dessas “instituições” é capaz de responder criticamente ao que que está acontecendo.

Estamos como baratas tontas, rodando como enceradeiras, sem sair do lugar, o horizonte de nossas ações é muito parco, porque, efetivamente, fomos tragados por um processo de crise do capital, um redemoinho sem precedentes. As forças da esquerda não conseguem lidar com esse pesadelo. Por outro lado, a superexploração avança a passos largos, o que estamos vivendo é o processo de que o capital necessita para tentar, de modo pífio, recompor-se.

A produção de valor chega a seu “limite absoluto”, como Robert Kurz afirmou em seu livro Dinheiro sem valor. As ditaduras não precisam parecer como as ditaduras de antigamente. Agora, a estrutura social é ditatorial, as esferas sociais militarizadas, o controle integrado por meio dos mecanismos informacionais, o capital fictício é uma insanidade. O volume negociado nos derivativos chega a 640 trilhões de dólares.
 
Estamos ruindo sem saber o que está acontecendo. Qualquer solução por dentro do sistema, nada mais é que a tentativa de respiro diante de um colapso iminente.
Temos uma longa tarefa pela frente!

domingo, 19 de janeiro de 2020

Agora é a farsa

Por Atanásio Mykonios


          Eu penso que veremos isso aumentar. Será preciso que essas forças cresçam ainda mais e nos coloquem encurralados para que o confronto ocorra. Enquanto continuarmos a abrir mão da nossa capacidade, como trabalhadores, de criarmos a solidariedade, seremos esmagados. Seremos esmagados pelos fascistas e pelo capital. Agora estamos sendo atacados por todos os lados. Não nos enganemos, o momento do confronto está chegando e só depois do confronto é que saberemos quem prevalecerá. Pois essa turma da pesada que está aí não vai parar. Nem a turma que dá as cartas na economia nem os sanguinários fascistas. Essa turma quer o confronto e nós não. Mas teremos de ir.

          As duas forças são de um lado o Guedes e de outro o Bolsonaro. Ambas as partes estão entrelaçadas. Para os capitalistas, a meu juízo, não faz muita diferença que essas forças estejam juntas, a burguesia é apátrida. Nós é que ficamos com a ilusão de que os capitalistas darão um jeitinho na sanha fascista do Bolsonaro. Penso que para ela, tanto faz.

A individuação cidadã


“E, como se trata de um sistema econômico totalizante, que não rege apenas a produção de bens, mas também a própria produção de força de trabalho, tendendo, portanto a desenvolver extensiva e intensivamente até abranger a globalidade da sociedade, a individualização dos trabalhadores encontra-se reproduzida na individualização dos cidadãos. A nação ideal se firmaria no relacionamento de cada cidadão com as instituições políticas e só esta prévia subordinação à autoridade inspiraria cada um a relacionar-se com os outros. O povo, para esses tipos de concepções e de práticas, não é uma teia de solidariedade, mas uma adição de unidades individualizadas. E assim se passou da velha definição do cidadão como animal social à sua definição como ser psicológico, em função precisamente daquele aspecto que opõe cada um aos restantes. Se na cidade grega todo animal social podia vir a ser um dirigente político, na nação contemporânea cada ente psicológico é potencialmente um ente patológico. É este o estágio último da individuação.”

João Bernardo, em Economia dos conflitos sociais, na página 335.