domingo, 8 de março de 2015

Um recado mais aos homens do que às mulheres

Por Atanásio Mykonios

Seria mais honesto que neste dia, ao invés de somente elogiar as mulheres, reconhecer que há uma série de injustiças, mazelas, opressão, violência, contra todas as mulheres. Contra aquelas que lutam, contra aquelas que não se comprometem.

Seria mais justo se cada um reconhecesse que ainda somos uma sociedade cujo poder é masculino, os sistemas políticos, a estrutura econômica, nossas religiões, enfim, o mundo é masculino, masculinizado e estruturado para o poder do masculino.

Até agora, não foi possível derrubar e destruir este poder que é estrutural e sistêmico. É preciso, portanto, apreender as forças sociais e políticas de dominação que estão na raiz de todo modo de exploração contra a mulher, desde o seu nascimento até a sua atualidade.

O capitalismo aprofunda essa desigualdade de poder, aumenta a exploração sobre as mulheres, segrega-as conforme a organização social, conforme a cultura que nos dá em parte a nossa própria face de domínio.

A herança escravagista está entre nós e em nós. Submetemos as mulheres à lógica da dominação do corpo, por meio da ideologia da Casa Grande sobre a Senzala. Ainda vivemos em um ambiente em que possuir a mulher é como possuir gado, ovelhas, cabras, cavalos,  bois e mais atualmente, como possuir um carro ou um negócio. Estuprá-la para muitos é apenas um detalhe na filigrana da dominação.

Os homens, especialmente neste país, se valem de seu poder político e econômico para imporem, sob o manto de discursos religiosos e morais, o escárnio sobre a existência feminina, impondo-lhe toda sorte de controle social e controle econômico, colocando-a sob um tapete quando lhe interessa e utilizando de um discurso anacrônico para garantir mais direitos e submissão.

Há uma regressão observada a olhos nus. A crise do capitalismo que nos leva a uma crise das formas de poder político, cria uma espécie de campo de batalha em que este homem, com seu poder masculino sobre o mundo, atua de forma a esmagar qualquer avanço legítimo de confronto para os direitos e para a igualdade.

A moralização da sociedade brasileira, por meio do que há de mais nojento e abjeto, tendo como arautos os que mais praticam a violência com seus discursos de ódio e manipulação, encontra um campo fértil até mesmo entre contingentes aparentemente esclarecidos, mas que promovem a perseguição e o ódio contra até mesmo as mulheres que lhes deram a vida.

No trabalho ou em qualquer outro lugar, os olhares masculinos servem para manter a presa sob o controle, como se as mulheres só pudessem circular e viver em uma espécie de grande campo de concentração social.


A democracia sexual só será possível no momento histórico em que essas estruturas de dominação e o sistema capitalista forem destruídos por completo e que formos capazes de construir, a partir dos nossos próprios escombros, uma nova forma social em que a mulher não esteja sob o tacão econômico, religioso, cultural, político, ou de qualquer outra natureza, que grassa hoje e que é, sob todos os aspectos, a vergonha de nossa civilização.