Por Atanásio Mykonios
Há muitas tarefas a serem realizadas pela civilização.
Uma delas, irremediável condição, é a educação. Não reportei nada sobre o Dia
do Professor porque em parte passei a pensar sobre esta questão. Um dia em que
passamos em branco, na medida em que não somos capazes de refletir sobre nossa
real condição de trabalhadores da educação. Não somos diferentes de outras
categorias do trabalho assalariado e abstrato. Na mais das vezes, educamos para
o mercado, assim mesmo, de roldão a regressão também faz parte do pacote –
regressão intelectual, com toques de extrema burrice, cretinice, ignorância
assumida, tanto por parte de nos professores-trabalhadores quanto também por
parte de alunos, sem contar coordenadores, diretores, supervisores. Pior ainda
são os donos de escolas! De fato, parece haver uma resistência metódica em
lidar com a realidade, aprofundar a experiência do real e da materialidade para
a compreensão do que nos explora e nos controla. Imaginamos que podemos criar consciência
com os livres e as aulas e negligenciamos a nossa própria prática. Dessa forma,
não somos exemplo para ninguém, muito menos para nossos próprios alunos. Ensinar
a pensar não é suficiente se este pensamento não está intrincadamente
relacionado com o real, a totalidade e modo como realizamos nossa sociedade.
Nossas instituições de
ensino estão cada vez mais voltadas para a burocracia das formas de transmissão
mecânicas e técnicas do conhecimento – uma ciência sem conhecimento é o produto
de um esvaziamento que a forma mercadoria introduz na sociabilidade totalizante
do capitalismo. Como qualquer mercadoria, somos colocados na prateleira para,
quem sabe, formar pessoas humanas, termo tão ao gosto de teólogos e filósofos. Mas,
convenhamos, formamos trabalhadores qualificados ou não, com mais ou menos
conhecimento técnico. Mas ainda somos tratados, por nós mesmos, com aquela
afeição que caracteriza uma mitologia educacional. Ao invés de sermos tão
parabenizados pelos nossos alunos, deveríamos ser criticados, questionados e,
sobretudo, instados a pensar em nossa real prática como lecionadores de
pessoas. Afinal, como é que podemos formar os trabalhadores para o capitalismo
e não atinarmos para essa forma estúpida que nos explora definitivamente? Somos
uma das âncoras do capitalismo, porque sem técnica, sem treinamento, sem
tecnologia, sem ciência, sem obediência, os trabalhadores não podem transformar
o mundo numa imensa mercadoria.
Não quero com isto
menosprezar a nossa categoria. Mas contribuir para colocá-la no lugar histórico
que deve estar.