sexta-feira, 6 de novembro de 2020

Este regime

  Por Atanásio Mykonios


Estamos sob um regime genocida há século e mais. O republicanismo não mudou a essência do regime brasileiro. O Estado é genocida, sob vários ângulos ou aspectos. Não devemos tratar os fatos que envolvem todo tipo de violência contra as mulheres brasileiras, como dados apenas de uma cultura, de maneira a individualizar os genocidas. Trata-se de uma política de Estado, que conjuga exploração, violência, brutalidade, estupro, dominação econômica e ideológica. O aparato judicial é um dos elementos de manutenção desse genocídio contra as mulheres. O sistema do Capital aprisiona as mulheres num campo de concentração social, o extermínio das mulheres é sistemático, metódico e mantém uma estrutura de opressão. A humilhação é um método eficaz de arrancar qualquer resquício de dignidade. A economia brasileira é um mercado de carne humana, exposta sob os holofotes da exploração sexual, cujo caráter reside nas mais profundas raízes da dominação patriarcal capitalista. E a carne da mulher é o elemento determinante desse regime, que encontra nela, sua razão de ser. As religiões vivem e transitam sib o tacão dessa bestialidade, nada fazem contra esse estado de coisas, ao contrário, reprimem e consolidam esse holocausto. Ainda não entendemos com alguma clareza o caráter genocida desse regime. A política e seus políticos não escondem a natureza desse regime, orgulham-se de sua obra. Somente uma revolução para por abaixo esse regime, sabemos disso, mas...

 

Qual a diferença?

 Por Atanásio Mykonios

 

Há quem comemore a demissão desse Rodrigo Constantino. É preciso observar que as empresas de comunicação que empregavam esse jornalista, têm ligações com o poder econômico e não seria diferente, não o é de fato. Assim como uma empresa como Facebook, que é um eficiente meio de comunicação para drenar a mercadoria mais valorizada que nós produzirmos - a informação. Qual a diferença entre o jornalista que emite opiniões e ganha dinheiro, em troca dessa atividade, e eu, que escrevo no Facebook? Primeira diferença, a audiência. Segunda, eu produzo pequenos textos, e os algoritmos transformam isso em mercadoria para o sistema do Capital sem qye eu nada receba em troca. Ambas as empresas atuam como elementos-chave tanto do ponto de vista ideológico quanto econômico. Eu e esse jornalista de merda temos mais em comum do que a minha vã filosofia pode supor.

Unidade para quê?

 Por Atanásio Mykonios

 

"Toda unanimidade é burra", disse Nelson Rodrigues. Por que se cobra tanto que a esquerda tem de ser "unida"? Tem-se o pensamento de que a direita é unida e por isso, todas as alas à esquerda têm de se unir também. A direita não é unida, são os capitalistas que conseguem, minimamente, unir-se em torno do Estado para controlá-lo, com sua força política. A esquerda tem de ser plural. O que tem de ser uma força política consistente é a organização dos trabalhadores, pois somos nós, os trabalhadores que sofremos na pele, o poder econômico e político sobre nós, na forma da luta para impor a lógica da exploração da nossa capacidade de trabalho. A esquerda existe e não necessariamente pode representar os trabalhadores. Essa confusão persiste, em grande medida, porque em nossa condição de trabalhadores, somos obrigados a viver sob a égide da subjetividade, devido à total dependência diante do capital. Se temos apenas a nossa capacidade de trabalho para trocar pela subsistência, somos lançados, por consequência, na subjetividade quase absoluta. O problema da esquerda e suas alas é ser capturada pela subjetividade e nisso, nós trabalhadores, vivemos a confusão ideológica, que é típica do fetiche social da mercadoria. Demora para compreender esse processo. A direita sofre do mesmo mal, sua suposta unidade é apenas a soma dos fatores do bloqueio do real significado da exploração e do papel do Estado. A maioria dos membros da direita vive no reino da subjetividade, tanto quanto os trabalhadores em geral.