Por Atanásio Mykonios
Engana-se todo aquele que acredita sinceramente que a religião
deve estar apartada do Estado, dos negócios do Estado ou da política em geral. Ainda
bradamos o lema de que “o estado é laico”. Mas afinal, do que se nutre a religião,
qual é o seu propósito perante seus fies? Para que serve a religião diante dos
seres humanos vivos? A religião fala para os vivos, mesmo evocando a memória
dos mortos. As religiões dizem aos vivos como têm de viver para merecerem seu
destino após a morte. E como as religiões o fazem? Elas nos dizem como devemos
viver, nos casar, como fazer sexo, dividir os nossos bens, o que comer, o que
vestir, com quem falar etc. Nisso, as religiões levam uma vantagem fantástica em
relação a outras formas de saber. Isso não se faz sem se imiscuir na vida
concreta dos fiéis, não pode ser feito sem que as religiões se metam na vida
social em geral. Por isso elas se metem na política e no Estado e continuarão a
fazê-lo. A nossa herança iluminista foi e, no meu entendimento, continua uma abissal
ilusão que reputa à política e ao Estado uma racionalidade que não se dá nem
nunca ocorreu. Por isso, as religiões anseiam tomar o Estado para si. O Estado
só é laico para nós, que ainda vivemos a honra iluminista e a suposta
racionalidade da política, que talvez ainda esteja no rastro aristotélico. Para
as religiões, o iluminismo não passa de mais um equívoco materialista. Isso é
um imbróglio do qual o Estado moderno não consegue se desvencilhar nem nós,
independente de sermos ou não ateus.