Por Atanásio Mykonios
No meu entendimento, o que ocorre é que aquilo que chamamos
de classe média, que não passa de uma invenção da sociologia norte-americana, na verdade é uma parte especializada de trabalhadores, está mostrando a sua realidade histórica como uma força de trabalho especializada que faz questão de aparentar o que não é. Essa gente, que é
assalariada, não se vê como tal. No entanto, o que ocorre é que as camadas
médias especializadas e bem remuneradas não têm nenhuma experiência política,
não têm inserção em nenhum movimento social, não sabem o que é uma assembleia,
não sabem o que é uma greve, não conhecem nenhuma relação com a política real. Portanto,
não têm história social, são camadas de trabalhadores duplamente alienadas e
que vivem num vácuo social. Por isso, essa gente não sabe que mesmo numa
sociedade liberal, são necessárias mediações políticas. É assim que vemos as
maiores aberrações ditas em público porque, no fundo, essas camadas médias não se manifestam enquanto grupos
organizados, mas como hordas de indivíduos que bradam suas palavras de ordem,
completamente isolados na massa. São manifestações puramente individualizadas. São a expressão não apenas
de uma ignorância da prática política, revelam, sobretudo, um obscuro mundo que
a forma social da mercadoria coloca – o mundo da regressão intelectual e da exponente estrutura
social do egoísmo metódico e psicologicamente desestruturado na forma de mecanismos
de repressão e complexos constituídos pela cisão entre o mundo da mercadoria e do
mundo real.
O que essas camadas não entendem é que não há possibilidade
de uma real ação política que não passe pelas mediações institucionais, mesmo que estas estejam em frangalhos, mesmo que a corrupção tenha tomado a estrutura da sociedade, são necessárias mediações, porque o Estado-nacional ainda é uma realidade estrutural. Até mesmo a chamada
democracia liberal não pode abrir mão disto, até mesmo os movimentos golpistas têm
como condição uma ordem institucional posterior, quando me refiro a uma
possibilidade militar golpista.
É nesse sentido que essas pessoas, travestidas de manifestantes, pregam por meio de várias
formas, o fim das mediações, querem o controle direto do Estado-nacional, querem o fim de tudo. Mas essa gente, infelizmente, foi tomada de assalto pelos reais interesses de um
movimento que está às costas dessas camadas médias, foram tragadas por uma espécie
de manipulação que à primeira vista parecia solidária com a raiva e a indignação desses grupos médios de trabalhadores.
Contudo, os reais interesses tanto da economia em geral quanto dos vários grupos políticos conflitam com o voluntarismo mais tacanho e
com a ignorância social colocada de forma pública como expressão da aberração intelectual de que essa gente é portadora. Isso também nos mostra que agora podemos observar que
o que emerge de anos de clausura, é uma camada média dos trabalhadores
absolutamente imberbe, regressiva, sem qualquer conhecimento
político, sem fundamento em seus argumentos, sem prática social (a não ser experiências movidas pelo voluntarismo em ações sociais caritativas), sem inserção histórica. O que sobre é a indignação que de forma abstrata se iguala à indignação de qualquer um. Por mais que o ódio
continue, essa gente vai minguar nas ruas e os aparentes condutores saberão que
será necessária uma maior formação.
O liberalismo tem pouco a oferecer diante da crise
estrutural do capital, a não ser o mais do mesmo ,com o recrudescimento da
exploração em favor do capital. E essas camadas têm pensamentos e jargões fascistas, cospem todas as barbaridades que lhes vêm à mente, mas ainda não podemos considerar esses movimentos como fascistas, do ponto de
vista organicamente articulado. Há um fascismo que permeia essa movimentação,
mas muito mais na ordem da escravatura como herança social de nossa história. Penso
que, a partir de algum momento, sobrarão poucos grupos, mais radicais, que
continuarão a vociferar, se sentindo cada vez mais abandonados e traídos pelos grupos
institucionais, então o filtro histórico nos mostrará o que eles realmente pregam. O resto
será canalizado para as eleições, é aí que serão travadas as batalhas
políticas, uma vez que o governo federal já sucumbiu ao que a direita quer.
Lembrando
que a direita não é necessariamente a aglutinação de capitalistas. São os
capitalistas que coordenam a certa distância, a direita e mesmo a
extrema-direita.