Por Atanásio Mykonios
Para saber o que Marx pensava
acerca do Estado, depois do Manifesto Comunista, com ideia em fazê-lo ruir
assim como as classes sociais. Ou seja, muito tempo depois, ao escrever sobre a
Comuna de Paris, Marx advoga o fim do Estado, e o coloca de modo negativo.
“O 4 de setembro foi apenas a
reivindicação da República contra o grotesco aventureiro que a havia
assassinado. A verdadeira antítese do próprio Império – isto é, do poder
estatal, do Executivo centralizado do qual o Segundo Império fora somente a
fórmula exaustiva – foi a Comuna. Esse poder estatal é, na verdade, uma criação
da classe média, primeiramente [como] um meio para eliminar o feudalismo,
depois [como] um meio para esmagar as aspirações emancipatórias dos produtores,
da classe trabalhadora. Todas as reações e todas as revoluções serviram tão
somente para transferir esse poder organizado – essa força organizada da
escravização do trabalho – de uma mão para outra, de uma fração das classes
dominantes para outra. Ele serviu às classes dominantes como um meio de
subjugação e corrupção. Ganhou novas forças a cada nova mudança. Serviu como
instrumento para suprimir toda sublevação popular e esmagar as classes
trabalhadoras depois de estas terem sido combatidas e usadas para assegurar a
transferência do poder estatal de uma parte de seus opressores para outra. Foi,
portanto, uma revolução não contra essa ou aquela forma de poder estatal, seja
ela legítima, constitucional, republicana ou imperial. Foi uma revolução contra
o Estado mesmo, este aborto sobrenatural da sociedade, uma reassunção, pelo
povo e para o povo, de sua própria vida social. Não foi uma revolução feita
para transferi-lo de uma fração das classes dominantes para outra, mas para
destruir essa horrenda maquinaria da dominação de classe ela mesma. Não foi uma
dessas lutas insignificantes entre as formas executiva e parlamentar da
dominação de classe, mas uma revolta contra ambas essas formas, integrando uma
à outra, e da qual a forma parlamentar era apenas um apêndice defeituoso do
Executivo.”
Karl Marx, Guerra Civil na França,
p. 127, Boitempo, 2011.