domingo, 22 de janeiro de 2012

A barbárie contra todos os Pinheirinhos


Atanásio Mykonios



Pinheirinho é aqui! Pinheirinho é todo o lugar onde a barbárie do capital investe contra os pobres. O mundo é aqui. Toda a história dessa sociedade se encontra na contradição essencial da produção de mercadorias. Todos os paradoxos convergem para o que está acontecendo em Pinheirinho. Sua gente não é diferente de todas as gentes do mundo. Quem pode proteger os pobres contra a barbárie das forças de segurança institucionais?
A justiça, o Estado, a instituição, qualquer coisa que represente as relações sociais se move com o intento de proteger o dinheiro e a valorização do valor. E isso expulsa os pobres da cidade, empurra-os para os lugares de risco, para as terras sem valor, até que sejam alvos de nova valorização.
O sonho da cidade que transborda em indiferença aproxima todos para a sobrevivência. Agora, nesse mesmo momento, alguns dormem, outros assistem à TV, alguns jogam baralho, muitos no silêncio que o domingo nos oferece. Mas a cidade parece abrigar a todos, mas de formas diferentes, a crueldade e a perversão com que os mais fracos são tratados na cidade é algo que não se revela, porque as ruas não mostram tudo.
Mas não é possível calar diante da atrocidade imposta pela lógica social do valor. Nada parece poder barrar essa lógica, porque os indivíduos não existem, são apenas conformidades momentâneas à realização absoluta do valor-dinheiro.
O deus supremo investe sobre os ímpios, indolentes  incrédulos. Aos que tiveram o azar de nascerem no infortúnio das relações sem-valor, são lançados no inferno sem chance. Cabe à polícia, aos governos, aos equipamentos de segurança, aos exércitos, às igrejas, às escolas, controlarem os pobres, reprimirem suas manifestações, seus desejos de liberdade.
Poderão consumir e manter-se nos liames desde que não invadam os espaços limpos que a estetização da mercadoria faz resplandecer. O entretenimento faz com que os sentidos fiquem submersos e entorpecidos, assim todos poderão viver no conforto das emoções sem saída, cuja determinação expressa a condição dos seres humanos sem qualquer distinção para a sua própria individualização e humanização.
Pinheirinho nos mostra a intolerância com que a sociedade produtora de mercadorias enfrenta os problemas de seus indivíduos. A justiça, no mundo do valor de troca está acima dos pobres. Mesmo com o empenho do Estado em introduzir ou incluir os pobres no bolo da acumulação do capital, não haverá tantos pedaços para todos.
E para toda essa repressão, a burocracia tem o papel do carrasco social a serviço da ordem e da lei. Que sejam todos desapropriados, que sejam todos lançados à rua, que todos paguem em conformidade com a lei. Destitua-se o humano! Quem estiver em desacordo, é efetivamente excluído.
Ao olhar para o alto e para o horizonte, tenho pouco a dizer. Minha ânsia por justiça se transforma em protesto de palavras. Que ao menos penetrem a consciência.
Pinheirinho não é nada sem as pessoas que nele vivem. É preciso resistir contra esse sistema!