segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Uma interpretação, dentre tantas, acerca da eleição paulista

Por Atanásio Mykonios



Uma mentalidade contra presos, cuja alegação reside nas questões econômicas, a saber, de que um preso é mais custoso que um aluno, levando a uma espécie de fascismo econômico contra os pobres confinados nas cadeias brasileiras.

O discurso contra os trabalhadores em geral, já desmobilizados pelo sindicalismo tacanho e omisso.
Esse discurso contra os homossexuais, que atinge em cheio as liberdades e direitos individuais e coletivos.

O discurso contra movimentos sociais, que encarnam a precária condição social das massas desvalidas.

Uma polícia pronta para exercitar com ferocidade a sua condição de cão de guarda da sociedade escravagista.

Uma política educacional que leva à eficiência mercadológica em todos os seus níveis de aplicação.
No meu entendimento, o eleitorado paulista votou em Alckmin não por Alckmin, mas contra o PT e contra o resto do país. Em parte, na undécima hora, migraram os votos de Marina Silva para Aécio, não por causa de Aécio, mas por causa do PT.

Os que me conhecem sabem que eu, de modo sistemático tenho anulado meus votos desde a eleição de 2006 – não foi diferente nesta e não o será para o segundo turno. Não acredito mais em voto útil nem acredito na escolha do “menos pior” ou na escolha contra o fascismo ou coisa que o valha. Já estamos em plena barbárie do estado-nacional, seja ele comandado por qualquer uma das correntes que se arvoram ao poder.

Pode também parecer que esta pequena reflexão seja uma defesa dos governos do PT e seus aliados desde 2002. Seria demais me estender nas mazelas que foram cometidas pelo PT e pelo lulismo desde a chegada ao poder central-nacional. Suas alianças foram uma vergonha para a política e para a esquerda em geral. Parte da esquerda foi tragada por esse mecanismo sórdido burocraticamente articulado para dar continuidade à governabilidade perpetrada pelo PT.

A corrupção petista não foi diferente da cometida por outros grupos políticos. O aparelhamento das estruturas do Estado seguiu a velha cartilha gramsciana de controle hegemônico das estruturas de poder.

Os quadros petistas engordaram e aumentaram suas áreas de influência sobre setores da sociedade como sindicatos, partidos menores, movimentos sociais e organizações não governamentais. O lulismo soube separar problema social de ganho econômico. Tratou a pobreza como política social (incluindo aí as organizações não governamentais, os psicológicos, as polícias, as igrejas, etc., enquanto a economia caminhava incólume com a própria logica do capital).

No entanto, os ignorantes e acéfalos que vociferam tantas idiotices contra as esquerdas e contra as forças que comandam o Estado-nacional brasileiro, deveriam se dar conta de que o PT não abriu mão, sequer por um instante, do capitalismo que vige entre nós e no mundo inteiro.

A lógica capitalista está também no modo como o Estado-nacional brasileiro guiou e articulou as ações de políticas sociais que beneficiaram materialmente uma parcela significativa da sociedade. Não houve revolução, não houve redistribuição de renda dos mais ricos para os mais pobres. O capitalismo do PT e do lulismo foi uma alavanca inteligente em que propiciou a que parte deste capitalismo de desenvolvimento interno garantisse o crescimento interno, ampliando o mercado por meio de uma vasta cadeia de produtores, que gerou condições gerais de robustez de uma parte dos produtores internos e externos. Nada mais do que a ampliação de um mercado interno, mesmo que aos olhos das classes mais abastadas isto signifique uma espécie de revolução cabocla, para inserir no modo de produção e exploração os que já são explorados.

O que guindou o PT a esta ação histórica se deve a muitos fatores. De minha parte eu considero que o Estado-nacional não deixou de ser o braço jurídico e armado do próprio capital, interno e externo, produtivo e financeiro. Mas, caminhou para fazer ascender um contingente populacional que estava, no meu entendimento, lançado à própria sorte. E por quê?

Porque a escória social e indigente está por toda parte. O capitalismo não necessita do trabalho vivo dessa massa imberbe. Necessita de que compre mercadorias. É uma massa que, de alguma forma, está na zona do rebaixamento humano, irrecuperável. Mas, se considerarmos a fábrica social do valor, ou, dito de outro modo, o sistema social de produção de valor, o PT não fez nada mais que ampliar a exploração do capital de modo mais qualificado.

Essa massa, agora, está no mercado, passiva ou ativamente. No capitalismo, até mesmo a indigência é um elemento de exploração do sistema social do valor – quer dizer que a miséria também é um alvo duplo do capital, primeiro porque é um sintoma da estupidez da exploração do tempo excedente de trabalho socialmente necessário para a produção de mercadorias e, por outro lado, é alvo do capitalismo social que avança sobre essa forma social – a miséria, para dar aos produtores mais fôlego de produção e para que as massas não se sintam desamparadas totalmente.

Ou seja, os pobres derivados do capitalismo, no próprio capitalismo, não têm alternativas. Ou são sustentados ou são eliminados.

Então, qual o recado que o eleitorado paulista deu a uma parte do Brasil?

Ele não quer mais prosseguir com essa estratégia de alavancar a pobreza com os instrumentos do próprio capitalismo. Quer fazer com que as leis que regem livremente o mercado sejam aplicadas aos pobres porque este eleitorado faz parte do Estado da federação onde essas leis foram aplicadas em sua radicalidade. A riqueza do Estado de São Paulo se deve, no entendimento deste eleitorado, ao próprio esforço liberal da livre concorrência entre empresas e trabalhadores e entre trabalhadores em geral.

A máxima da ideologia do capital, que implica levar às últimas consequências a sua própria contradição, revela aqui, neste pleito, um caráter selvagem e destrutivo. Em outras palavras, trata-se de um recado segregacionista. Isto é, a economia política mostra a sua condição em que, de alguma forma, se alia a identidades regionais que se ampliam para identidades religiosas e étnicas. De certa forma, a impressão que tenho é de que os paulistas de fato se sentem superiores ao resto do país.


O PT de Dilma não mudou uma vírgula no cenário que se avizinha quanto à da crise global do capital, um cenário que, diga-se, será catastrófico em vários aspectos. O PT não diz o que fará. O PSDB já tem em sua prática o que fará.