Por Atanásio Mykonios
Eu fico pensando que o
transporte público tem uma característica muito peculiar no Brasil. É um oligopólio,
em muito lugares é um monopólio. Mas é uma espécie de capitalismo
patrimonialista. As empresas, em Mogi das Cruzes, por exemplo, não têm grandes investimentos
com o transporte, mas mantêm o oligopólio, por quê? Porque assim elas controlam
a cidade. Eu demorei a entender isso. As empresas controlam toda a cidade, elas
podem ter outros negócios que são derivados do transporte. Controlar a cidade é
saber quem é quem, o que faz, como faz, onde faz e quando faz. As empresas de
transporte público, em todas as cidades, têm um poder imenso, sobre a máquina
da prefeitura, sobre os vereadores, sobre as câmaras municipais em geral. As empresas
de transporte público sabem onde estão os melhores investimentos, os melhores
terrenos, as melhores localizações. Manipulam o valor dos imóveis, mostram o
quanto é possível revitalizar essa ou aquela região. Por onde passa uma linha
de ônibus, muita coisa pode melhorar para os moradores. Como se trata de um oligopólio
ou um monopólio (em muitos casos), fica difícil elevar a produtividade do
serviço para ganhar em grande escala. Por isso, as inovações são lentas e difíceis
de serem alcançadas. A única coisa que parece que constantemente é alvo de
mudança nas empresas de transporte é a força de trabalho. As empresas pressionam
para diminuírem o valor da força de trabalho e é sobre essa categoria de
trabalhadores que recai o maior peso de todo o processo de manutenção do
negócio.
Outro detalhe é que as planilhas
são maquiadas para fornecerem dados que não condizem com a realidade, para
depois as empresas exigirem mais aumentos na tarifa. Qualquer monopólio exige
muito esforço político, exige manter o poder político para manter o poder econômico.
Todo monopólio mantém o poder com mão de ferro e é por isso que a repressão
policial também segue na mesma proporção. Não há solução para o transporte
público, não haverá enquanto as cidades continuarem a ser uma fonte de renda
para as empresas. Outro aspecto importante é que as cidades, atualmente, estão
organizadas para o automóvel. Há uma pressão para reduzir o transporte público,
o número de veículos de passeio é muito grande em relação ao total de veículos
(contando ônibus, caminhões, utilitários, etc.). A indústria do automóvel é um
grande sistema que integra diversos produtores, fornecedores, distribuidores,
etc., e seus interesses estão em criar uma cidade para o automóvel e não para a
coletividade. A cidade, cada vez mais é pensada para o automóvel de passeio. Em
muitos países há subsídios para o transporte público, em outros, ele é
totalmente subsidiado pelo Estado, em outros é totalmente estatal. Aqui, os capitalistas
olham os usuários como fonte inesgotável de renda e riqueza. Não abrirão mão de
seus privilégios, mesmo sendo monopólios ou oligopólios. Os trabalhadores, na
sua grande maioria, não são rentáveis para o sistema, são transportados para os
seus lugares de trabalho e ganham pouco, não dá pra valorizar o sistema de transporte,
no fundo ninguém quer esse tipo de negócio a não ser que seja um monopólio em
grande perspectiva de segurança para o cálculo econômico.
Ao meu ver, a tarifa zero pode
ser a única solução, mas mesmo assim, os trabalhadores continuarão a serem
explorados em seus locais de trabalho, há pesquisas que indicam que com a tarifa
zero, muitas regiões ganhariam em negócios, haveria maior circulação, os
trabalhadores poderiam consumir mais. Mas isso também é um perigo, porque os
pobres podem circular por todas as partes. Esse é outro problema nessa questão.
O medo das elites em permitir que os pobres circulem com maior facilidade pelas
ruas e pelos bairros também deve ser considerado para o cálculo econômico do
transporte público, aqui em Mogi das Cruzes como em todas as cidades. Portanto,
minha cara, há diversos elementos que contribuem para entendermos essa questão
que é muito mais complexa e diversificada.