quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

O poder do transporte e o transporte do poder

Por Atanásio Mykonios



Eu fico pensando que o transporte público tem uma característica muito peculiar no Brasil. É um oligopólio, em muito lugares é um monopólio. Mas é uma espécie de capitalismo patrimonialista. As empresas, em Mogi das Cruzes, por exemplo, não têm grandes investimentos com o transporte, mas mantêm o oligopólio, por quê? Porque assim elas controlam a cidade. Eu demorei a entender isso. As empresas controlam toda a cidade, elas podem ter outros negócios que são derivados do transporte. Controlar a cidade é saber quem é quem, o que faz, como faz, onde faz e quando faz. As empresas de transporte público, em todas as cidades, têm um poder imenso, sobre a máquina da prefeitura, sobre os vereadores, sobre as câmaras municipais em geral. As empresas de transporte público sabem onde estão os melhores investimentos, os melhores terrenos, as melhores localizações. Manipulam o valor dos imóveis, mostram o quanto é possível revitalizar essa ou aquela região. Por onde passa uma linha de ônibus, muita coisa pode melhorar para os moradores. Como se trata de um oligopólio ou um monopólio (em muitos casos), fica difícil elevar a produtividade do serviço para ganhar em grande escala. Por isso, as inovações são lentas e difíceis de serem alcançadas. A única coisa que parece que constantemente é alvo de mudança nas empresas de transporte é a força de trabalho. As empresas pressionam para diminuírem o valor da força de trabalho e é sobre essa categoria de trabalhadores que recai o maior peso de todo o processo de manutenção do negócio.

Outro detalhe é que as planilhas são maquiadas para fornecerem dados que não condizem com a realidade, para depois as empresas exigirem mais aumentos na tarifa. Qualquer monopólio exige muito esforço político, exige manter o poder político para manter o poder econômico. Todo monopólio mantém o poder com mão de ferro e é por isso que a repressão policial também segue na mesma proporção. Não há solução para o transporte público, não haverá enquanto as cidades continuarem a ser uma fonte de renda para as empresas. Outro aspecto importante é que as cidades, atualmente, estão organizadas para o automóvel. Há uma pressão para reduzir o transporte público, o número de veículos de passeio é muito grande em relação ao total de veículos (contando ônibus, caminhões, utilitários, etc.). A indústria do automóvel é um grande sistema que integra diversos produtores, fornecedores, distribuidores, etc., e seus interesses estão em criar uma cidade para o automóvel e não para a coletividade. A cidade, cada vez mais é pensada para o automóvel de passeio. Em muitos países há subsídios para o transporte público, em outros, ele é totalmente subsidiado pelo Estado, em outros é totalmente estatal. Aqui, os capitalistas olham os usuários como fonte inesgotável de renda e riqueza. Não abrirão mão de seus privilégios, mesmo sendo monopólios ou oligopólios. Os trabalhadores, na sua grande maioria, não são rentáveis para o sistema, são transportados para os seus lugares de trabalho e ganham pouco, não dá pra valorizar o sistema de transporte, no fundo ninguém quer esse tipo de negócio a não ser que seja um monopólio em grande perspectiva de segurança para o cálculo econômico.


Ao meu ver, a tarifa zero pode ser a única solução, mas mesmo assim, os trabalhadores continuarão a serem explorados em seus locais de trabalho, há pesquisas que indicam que com a tarifa zero, muitas regiões ganhariam em negócios, haveria maior circulação, os trabalhadores poderiam consumir mais. Mas isso também é um perigo, porque os pobres podem circular por todas as partes. Esse é outro problema nessa questão. O medo das elites em permitir que os pobres circulem com maior facilidade pelas ruas e pelos bairros também deve ser considerado para o cálculo econômico do transporte público, aqui em Mogi das Cruzes como em todas as cidades. Portanto, minha cara, há diversos elementos que contribuem para entendermos essa questão que é muito mais complexa e diversificada.