domingo, 24 de março de 2013

A PRÉ-HISTÓRIA DE NOSSOS SENTIMENTOS

1. Vejo as pessoas exaltarem seus próprios sentimentos.

2. Vejo essa gente apresentar seus sentimentos como os melhores.

3. As pessoas comparam seus sentimentos aos dos outros e ao fazerem isso cobram o mesmo grau de intensidade que imaginam ter em seus próprios sentimentos.

4. Eu penso que deveria ser o contrário, quanto mais se ama, mais humilde, mais livre, mais sensível, mais respeito, mais carinho e perdão.

5. Então, acredito, que quanto mais se ama, e ainda vejo a dificuldade em discernir os graus de sentimentos, dessa forma hierarquizamos os sentimentos e as relações entre os seres humanos. 

6. Pois hoje vejo as pessoas a exercitarem com mais alto grau de vaidade aquilo que imaginam ser os seus sentimentos.

7. O verdadeiro narcisismo consiste em revelar a si mesmo os sentimentos de si em comparação ao outro. 

8. Eu ao fazerem isso, se tornam cegas, não pelo que sentem pelos outros, mas cegas pelo que veem de seus sentimentos.

9. Idolatram seus próprios sentimentos, de tal forma que os confundem com a máxima de que o outro deve cumprir com o desígnio dos sentimentos.

10. O desígnio dos sentimentos é que outro deve cumprir com o que se espera que o outro faça com o sentimento alheio. 

11. Por isso, hoje, quanto mais as pessoas amam, mais se tornam egoístas. 

12. E quanto mais egoístas, mais se tornam vítimas do amor e culpam o outro por não terem sido amadas na mesma medida, na mesma dose, com a mesma entrega.

13. Porque o outro nunca é livre diante do sentimento perfeito. O outro é como aquela mercadoria, que aparece perfeita aos olhos do comprador e que deve satisfazê-lo com a promessa que carrega na sua alma.

14. A alma da mercadoria é a sua perfeição e é o que o comprador de fato espera satisfação perfeita.

15. Sem saber, o amor do outro se torna uma mercadoria, pois ela tem de cumprir com a necessidade de NOSSA SATISFAÇÃO.

16. Quanto mais vítimas se tornam, mais superiores também se tornam porque seu amor é certo e superior ao outros

17. Por isso a maioria das canções não fala simplesmente de traições, mas do grau e da intensidade do amor, como aquela música que diz, “Mas como é grande o meu amor por você”.

18. A pessoas não deveriam dizer isso e se o dissessem, deveriam não exigir nada, porque onde há uma escala de sentimentos e amores, há uma hierarquia e onde há uma hierarquia, há uma escala entre o superior e o inferior.

19. Onde há a escalas de sentimentos em qualquer relação, existe a verticalização das relações, assim, o poder se instala.

20. Onde o poder se instala, alguém deve fazer o que o outro espera. Porque o superior na relação sempre “sabe o que é o melhor” para ambos ou para o outro.

21. As mães amam mais os filhos, por isso sabem o que é o melhor.

22. O chefe ama a sua empresa e por isso sabe o que é melhor para ela.

23. O professor ama a sua profissão, por isso sabe o que é o melhor para os seus alunos. 

24. Quem ama não sabe nada, eis a primeira regra ali onde se imagina haver amor. 

25. Porque no fundo, o amor é a maior expectativa da humanidade, em relação ao outro.

26. Afinal, temos muito a aprender, estamos na pré-história dos nossos próprios sentimentos. 

27. Ao final e ao cabo, nos tornamos escravos dos próprios sentimentos e enquanto formos escravos, a pré-história prevalecerá.