Por Atanásio Mykonios
Toda guerra é insana. Exércitos são formados,
treinados para matar e destruir. Os homens e as mulheres são recrutados para
cumprirem seu destino de morte com a certeza de que farão o melhor. Imbuídos de
suas certezas coletivas, avançam decididamente sobre o inimigo, é sua missão destruí-lo
a qualquer custo. A maioria desses soldados não sabem a razão das guerras, mas
as lutam com firmeza. São tragados pelo terror e a infâmia, desaparecem nos
campos, nos vales, nos esgotos, somam-se aos desvalidos e em seguida são esquecidos.
Carregam suas bandeiras como libertadores de um mundo enclausurado, rompem os grilhões
e atacam por todos os lados.
Não importa se as guerras travadas hoje têm novas
formas, mais brandas ou menos dolorosas. Talvez as guerras não destrocem tantos
corpos nem aniquilem as crianças e os velhos, abandonados nas trincheiras do
terror. Continuam a serem guerras que esmagam as liberdades, sufocam cada
lampejo de dignidade, tudo sucumbe, mas tudo também tem um fim, como as
guerras, os impérios, a dominação, como a opressão que esmaga a juventude. Haverá
um dia em que esses que nos combatem morrerão ser saber por que fomos eleitos
seus inimigos. Haverá o dia em que muitos cairão em si mesmos e compreenderão a
que foram submetidos.
Nenhuma guerra é justa, mesmo que o ódio pareça sê-lo,
cada corpo destroçado pela fome, na doença, na loucura, pela ignorância, será
erguido no portal da história, todos saberão que as guerras não têm dono,
apenas demência, sofreguidão, tortura e crueldade. Saberão que seus governantes
não tiveram a sensatez para barrar o terror, entenderão que o direito e a
justiça pelo pão e pela paz são conquistas dos homens e das mulheres. Os donos
da guerra nunca sucumbiram às suas próprias atrocidades, planejam a morte com a
racionalidade científica, ordenam a vitória, remontam ao passado glorioso, sem
terem a noção de que sua selvageria cobrará o preço da iniquidade sobre todos.
Hoje, estamos presos a uma guerra sem fronteiras, que
se move através dos aparelhos, é a guerra dos que odeiam o mundo, a alegria e a
arte. É a guerra dos que chegam ao poder, contra a paz. Este homem e aquele
outro que nos governam, e tantos que emergem de todos os porões, têm o cálculo
do presente, estão mergulhados em sua cegueira histórica e contemplam orgulhosos
sua própria ignorância. Dão suas ordens e comandos aos exércitos virtuais e
seus comandados obedecem caninamente como soldados prestes a matarem. Não sobreviverão,
sabemos disso, serão tomados pela força de seu ódio, como soldados rasos, morrerão
assim como muitos de nós.
Não há guerras que não deixem marcas profundas. As guerras
destroem o que há de mais sublime em cada um de nós. Sairemos dessa guerra
derrotados, teremos de reconstruir a nós mesmos e a nossa terra. Estamos por um
fio, por todos os lados desmoronamos, sabemos, no entanto, que o caminho
escolhido por este homem não terminará em flores. As flores serão esmagadas,
pisadas, em algum lugar renascerão assim como cada um de nós terá de cumprir a
dolorosa tarefa de renascer.
As certezas que ora nos movem, muito em breve serão nada
mais que a nossa vergonha. Os ódios compartilhados que hoje são nutridos com
orgulho, desvanecerão com o vento que espalhará as nossas cinzas. Ficaremos aos
montes entulhados nas estradas a nos perguntar o que fizemos de nós mesmos. Nada
pode permanecer até o fim como começou. Talvez não saberemos disso em momento
algum, talvez tenhamos de pagar pela nossa estupidez e brutalidade e de fato
pagaremos. Aqueles que agora compreendem a dimensão dessa tragédia, são os
guias que apontam os caminhos para uma multidão de cegos.
Tenhamos a serenidade e a paciência necessárias. Nenhuma
guerra é justa.