Por Atanásio Mykonios
Há
um processo de guerra para o controle das fontes de energia em todo mundo. Os gestores, tecnocratas e os próprios capitalistas associados estão preocupados em obter
o controle direto dessas fontes. Os conflitos mais intensos que observamos na atualidade
têm como foco prioritário vastas regiões onde petróleo, gás natural e carvão
são alvo de ações extremas.
Num
primeiro momento ficamos com a impressão de que se trata de ações patrocinadas
por grupos extremistas que desejam a separação ou controle de áreas já sob sua
influência. Os meios de comunicação apresentam apenas a parte da realidade que
lhes interessa, o conflito parece se resumir a um amontoado de extremistas, fanáticos
e estúpidos guerreiros com inspirações meramente religiosas.
No
entanto, se ampliarmos a lente, perceberemos que coincidentemente, tais
conflitos têm como base avançar sobre o poder de estados-nacionais, a fim de
desmontá-los e conseguir o controle direto dessas fontes.
Em
outras palavras, para os capitalistas associados, parece não haver mais
interesse em manter grandes estados com poder de controle sobre fontes e
recursos de energia para fazer o capital manter os equipamentos de respiração
artificial que o mantêm com essa sobrevida. É preciso, portanto, chegar com
segurança a esses recursos e para isso, nada melhor do que desmontar alguns Estados-nacionais
que são obsoletos para essa ordem capitalista e financiar grupos extremistas
com caráter separatista. Na Líbia, na Nigéria, na Síria, no Iraque, na Ucrânia,
na Venezuela, o processo é praticamente o mesmo, com a diferença que na
Venezuela, não é preciso a articulação de grupos de natureza separatista. Por
outro lado, haja vista o ataque que está sendo promovido contra a Rússia – a queda
do preço do barril criou desconforto para a economia interna russa.
Esses
países e regiões em conflito bélico revelam mais que coincidências, mostram que
o escopo desses conflitos armados têm como pano de fundo a obtenção do controle
direto desses recursos, mas as forças econômicas e políticas utilizam o fator étnico
e religioso para escamotear os reais intentos desse processo.
Em
outros lugares, os gestores e os capitalistas não necessitam de grupos
separatistas ou de radiais religiosos, o próprio Estado-nacional se encarrega
dessa tarefa. Isto é, o Estado-nacional faz as vezes de um grupo terrorista. É o
caso do Brasil, por aqui ainda não temos esses supostos fanáticos que beiram à
condição medieval, temos, na verdade, tecnocratas muito bem articulados com os
interesses mundiais. A suposta incompetência do governo do Estado de São Paulo
revela, no entanto, uma grande competência no que concerne ao agir com métodos de
um terrorismo de estado contra a população de um modo geral.
No
Brasil, ao menos por enquanto, não temos inimigos contra a nossa cultura
ocidentalizada, nossos conflitos e problemas dizem respeito a determinados
grupos que ignoram ou fingem ignorar os grandes interesses que movem a relação
entre o Estado-nacional e as forças do capital.
A
água é um grande interesse, a água é a fonte fundamental da existência humana.
A água é essencial para a produção em grande escala. É notória a capacidade das
reservas que o Brasil possui quanto à água.
A considerar o que é possível inferir dos atos
do governo do Estado, me parece, cada vez mais, que a estratégia é, sem dúvida,
a mesma que em outras regiões do planeta, propiciar o acesso e o controle
direto das fontes de água por meio de ações de desmonte e sucateamento dos
serviços e, por fim, um terrorismo total sobre a população. Não se trata, neste
caso, apenas da real possibilidade de privatizar os serviços de abastecimento e
fornecimento de água, mais do que isto, o ataque para o acesso direto às
reservas que estão aí. Esses atos revelam a violência total, objetiva e direta
do Estado-nacional para garantir ao capitalismo mundial o acesso direto aos aquíferos
no Brasil.
Tais
atos consistem em acordos subliminares com a grande mídia para escamotear as
realidade e criar um fato político estrutural para a legitimação dos seus
interesses; o cumprimento das orientações advindas das associações de
capitalistas e suas corporações; preparação para o confronto militarizado, ou
seja, a militarização total das relações sociais de dominação política e econômica
em que as forças de segurança passam a cumprir o papel decisivo de proteção jurídica
dos interesses globais; o avanço sobre os direitos relativos ao uso da água,
destituindo, gradativamente, o acesso a fim de criar as condições efetivas para
a sua total privatização e controle – a ordenação jurídica nesse sentido ainda
cabe ao Estado-nacional .
Isso
demonstra que por enquanto não há necessidade de desmonte total do
Estado-nacional brasileiro, uma vez que este cumpre fielmente todas as etapas
que lhe são designadas pelas determinações impostas pelo grande capital e desde
que cumpra com os acordos e garanta o acesso direto. Assim ocorre também com a PETROBRAS,
uma vez que é de interesse as jazidas de petróleo.
Isso
demonstra que o capitalismo, em seu atual estágio, está mais mobilizado para
ter o domínio total dos recursos energéticos que o sustentam, os esforços de
guerra, em que as forças de segurança têm atuado, são no sentido de controlar
as rotas de fornecimento em conjunto com a sua extração. Essa etapa do sistema
revela em seu cerne maior brutalidade e maior concentração de força pulverizada
em grupos de interesses locais que dominam regiões inteiras.
A
forma do Estado-nacional se torna, a cada dia, uma ficção para o próprio capital
transnacional. Basta apenas que alguns estados continuem fortes para manterem
as estruturas de poder associado aos grandes capitalistas, enquanto os países periféricos
serão alvo desse processo de desmonte contínuo. Onde for possível manter o
controle dominando as condições gerais de produção garantidas pelo Estado-nacional,
muito que bem, nesse lugar, ele cumprirá o papel de impingir a todos a força
dos interesses capitalistas; mas onde isso não for possível, haveremos de
presenciar a sua desintegração total.