terça-feira, 10 de dezembro de 2019

O fetiche do fetiche

           Por Atanásio Mykonios



               O fetiche da sociedade da mercadoria é também o fetiche do trabalho e do consumo. Ambos estão conectados, mas de forma absolutamente perversa. A lei da oferta e da procura é apenas o aspecto fenomenológico das relações econômicas no capital. Vele o capital, acima de tudo e acima de todos e não o interesse de consumidores. Se consumidores, que na verdade, devem antes de mais nada, adquirirem as mercadorias para consumi-las, têm ou não direito à comida, à água, ao abrigo, à vestimenta, isto é de somenos importância para o capital. Todas as semânticas que envolvem o princípio básico dessa realidade, servem para escamotear o mundo concreto que o capital impõe sobre as sociedades do mundo inteiro. A lógica da produção capitalista não é a lógica das necessidades sociais nem mesmo as das individuais. Enganam-se aqueles que pensam que o mundo está à sua disposição só porque o dinheiro que têm no bolso lhes basta para satisfazer necessidades espetaculares. Morrer de fome não é uma opção existencial muito menos um luxo de quem não quer trabalhar. O fetiche do trabalho é o mito salvacionista de uma sociedade que crê na ordem do trabalho como merecimento. Mas não entrega o que promete. Carne, ovos, frango ou celulares, tanto faz. Não existe a mão invisível do mercado, existe sim o fantasma da lei do valor sobre valor que impulsiona as formas sociais em sua derradeira condição histórica.