terça-feira, 23 de julho de 2019

Doentes e sem perspectiva!

Por Atanásio Mykonios


Muita gente em Diamantina pensa que eu nado em dinheiro porque estou professor da universidade, também pudera, numa região tão empobrecida, talvez meu salário seja alto para o grosso dos trabalhadores em geral. Estou docente de Graduação e Pós-Graduação. Sim, estou, porque não nasci docente e ando pensando o que vai acontecer conosco aqui na universidade.
É muito mais barato ter de manter docentes com um mesmo salário, atuando nas duas formações. Além disso, a pesquisa, a extensão e atividades administrativo-burocráticas tomam a semana. Durante o fim de semana, leio, pesquiso, escrevo. Sou obrigado a publicar, procurar quem aceite os meus escritos, isso é um verdadeiro périplo. É bem verdade que não tenho como defender o isolamento, a elitização, a hierarquização das universidades brasileiras. É um espaço de conservação das estruturas de exploração social, por isso, a universidade é um lugar de luta pelo poder, não pelo poder do conhecimento, é o espaço onde as forças internas reproduzem o que ocorre na sociedade. Mas eu estou nessa universidade e não em outra.
Tenho de me manter sóbrio, apesar de todos os ataques, não tenho bola de cristal, é evidente que os ataques à universidade têm criado um clima de tensão e terror contínuo, as pessoas fingem que ainda a situação não as atingiu, por isso agem numa espécie de mundo paralelo – a normalidade que as pessoas tentam mostrar para manterem-se de pé. Por outro lado, a universidade não está politizada, ao contrário, as esferas administrativas e especialmente as burocráticas, são ocupadas por técnicos que na sua imensa maioria são de direita e de ultradireita.
As universidades, no seu âmbito funcional e financeiro, são administradas por grupos de técnicos e contabilistas absolutamente apartados e despolitizados, tendendo a uma adesão a forças de direita, são liberais e neoliberais. As esquerdas representam um grupo isolado e absolutamente limitado. Nada do que se diz corresponde à realidade, ao contrário, as forças que atuam na universidade em grande medida, atuam em suas pesquisas por meio de fundações. Há universidades, como a UFMG, que boa parte de sua estrutura de pesquisa é financiada por relações mediadas pela fundação.
Por outro lado, empresas que querem financiar pesquisas, não o farão sem que haja a certeza de que tais pesquisas sejam utilizadas para aprimorar as posições no mercado. No entanto, há uma parte da pesquisa que requer tempo para a sua maturação, as empresas sabem disso e delegam ao Estado essa tarefa.
Com tudo o que tem sido noticiado, a saúde mental, psicológica e física dos profissionais nas universidades e especialmente onde trabalho, é cada vez mais precária, estamos adoecendo vertiginosamente. O estresse é notório, por todos os lados, estamos sendo premidos e não encontramos um veio para nos organizar e lutarmos com dignidade. Sabemos que a nossa organização sindical é muito frágil, os sindicatos estão também sob forte ataque e desmantelamento generalizado.
Sem dúvida, a luta não pode ser fragmentada e isolada. Estamos isolados no interior dos muros das nossas universidades, a sociedade não tem muita noção da importância das universidades, mesmo que elas ainda reproduzam as estruturas de exploração. A universidade é elitista, sem dúvida, mas é preciso, de alguma forma, encontrar elementos para sairmos do casulo e avançarmos para a construção de solidariedade.
A vida está se tornando insuportável, em todos os sentidos, no interior dos ambientes de trabalho, sem perspectivas.