Por Atanásio Mykonios
Movimentos de superioridade racial são mais comuns do
que a vã filosofia pode supor. Tantos nos EUA quanto aqui no Brasil. Haveria semelhanças
entre ambos? Por certo sim. Mas como se configuram afinal? Nos EUA fica evidente
que os assassinatos em série têm relação direta com a ascensão de Donald Trump
ao poder central. Por outro lado, o governo central estadunidense não manifesta
repúdio veemente quanto a essas matanças, seu silêncio demonstra cinicamente
certo aval a esse tipo de ato supremacista contra imigrantes.
Foto: Andrew Caballero-Reynolds/AFP |
O discurso de Trump mostra a sua tendência, ao se
calar e ao não se manifestar publicamente acerca desses assassinatos, em
avalizar o comportamento, com posturas ideológicas e, sobretudo, deixa esses
movimentos ainda mais legitimados para desenvolverem suas ações sem repressão institucional.
E no Brasil? O modelo de superioridade racial aqui tem
uma vertente difusa e não explícita. Envolve um grande espectro de racismos,
superioridades raciais, religiosas e sociais, tudo isto misturado a caldo de
violência permanente contra as camadas mais fragilidades dos extratos social e econômico.
A burguesia, em parte herdeira das classes de senhores de escravos, reproduz a
estrutura social de repressão e violência institucional, especialmente no campo
social da criminalidade.
Aqui, em grande medida, o racismo e a superioridade
racial atingem aqueles que são vulneráveis e tragados pela miserabilidade
estrutural. Ainda mais agora com o governo que assume abertamente a luta contra
a sociedade, os trabalhadores pobres, as mulheres, os jovens e os negros em
geral.
O que chama a atenção é a reação das autoridades
nacionais e da sociedade em geral acerca do massacre de mais de 50 presos em
Altamira, no Estado do Pará. A superioridade racial é manifestada com todo o
cinismo, velado pela mentalidade de que os presos merecem o destino da tortura
e da morte sumária. Nada mais vivo em nossa história e no movimento real da
sociedade brasileira.
No Brasil, houve comemorações efusivas pelo massacre
dos presos, não houve nenhuma manifestação de pesar, solidariedade, seja lá o
que isto possa nos dizer. Os pronunciamentos foram, o que pudemos observar foi
a frieza, por um lado, e a indiferença por parte de outros tantos. O Brasil já
figura em terceiro no ranking de maior população carcerária do mundo, é neste
lugar completamente abandonado que, em grande medida, a superioridade racial e
social tem se manifestado pelo comportamento em geral da sociedade.
Estadão Conteúdo |
Cada qual com a sua condição social, tanto aqui quanto
nos EUA, a brutalidade contra os imigrantes, lá; a violência desmedida contra
os mais empobrecidos aqui, mostra claramente que o sistema social do capital não
produz, até o momento, condições de proteção às minorias de toda ordem.
Ao contrário, estamos presos a um cataclisma
estrutural que desemboca nas crises culturais, como a religiosa, a racial, a econômica
etc. Tudo isso sob a égide do Leviatã pós-moderno, com as nuances de crueldade,
somando características feudais, fascistas, nazistas e outros componentes que
tornam esse caldo ainda mais terrível.
Quanto mais o capital enfrenta sua crise estrutural
definitiva, quanto mais ruma ao seu limite absoluto, mais se esgarçam os
tecidos sociais, mais as visões de mundo colapso e suas instituições seguem o
mesmo caminho.
Talvez, uma diferença significativa seja que os supremacistas
raciais aqui não passam de imigrantes nos EUA. Mas isto não lhes retira o poder
e a suposta hegemonia de classe e social que distingue a burguesia que, por sua
vez, não é mais composta apenas por herdeiros dos senhores de escravos, a
estes, juntaram-se levas de imigrantes que garantiram seu quinhão no poder econômico
e social. os portugueses, afinal, se tornaram minoria nessa classe difusa, que
mistura, fazendeiros, banqueiros, aristocratas burocratas, tecnocratas, gestores
bem pagos, empresários e camelôs das comunicações.
As batalhas se sucederão. As lutas pelas migalhas
serão encarniçadas, as multidões à deriva serão lançadas à própria sorte e
terão de manter-se num campo de sobrevivência absurdamente limitado. A capacidade
de gerir o sistema social será reduzida ao máximo e as forças estatais também
serão reduzidas para manterem a propriedade e as estruturas gerais de produção.
As forças de segurança serão transformadas em grupos
de mercenários oficiais que protegerão os complexos produtivos e regiões geográficas,
os Estados-nacionais deixarão de agirem como guardiões de suas próprias fronteiras
e serão tornados apenas grupamentos legisladores para garantirem a sobrevida
dos negócios. As empresas e as corporações controlarão cada vez mais todas as áreas
da produção social e os racistas poderão transitar livremente e praticarem seus
ódios com a mão invisível do mercado.
Temos pouco tempo para reagir a essa hecatombe mundial.