Por Atanásio Mykonios
Entre
45% a 47% dos cursos de graduação em Filosofia no Brasil estão sob o domínio da
igreja católica. Ela oferece cursos seminarísticos, licenciaturas e
bacharelados. O maior número desses cursos se concentra no Estado de São Paulo.
As universidades públicas oferecem geralmente bacharelados que tendem à
pesquisa de forma específica, elas não se preocupam muito com a formação de
professores de filosofia, chegam mesmo a dar de ombros quando a questão é
formar licenciados em Filosofia. A outra fatia fica a cargo de diversas
instituições privadas, algumas de origem protestante e outras católicas.
Vê-se,
de alguma forma, que o ensino de filosofia oferecido pela igreja, cursos
confessionais, forma um contingente de professores e pensadores que tendem a um
hermetismo no que concerne ao fazer filosofia. Em outras palavras, a
perspectiva teórica é fundamentalmente metafisica, tomista, aristotélica e com
poucas brechas para um pensamento dialético. É compreensível que um número
significativo desses formados (padres, ex-padres, seminaristas,
ex-seminaristas, freiras, ex-freiras, etc.) pense e atue de forma conservadora,
tanto em seus textos quanto em suas aulas e prática social.
Há um pensamento
razoavelmente comum que parece indicar que professores de filosofia e filósofos
são “maluquinhos”, que vivem no “mundo da lua” ou que tendem a um constante
questionamento da realidade. Puro engano! A escola platônico-aristotélico-tomista
nos leva a um sistema de pensamento rígido e sobretudo de uma ontologia cuja
aplicabilidade ao mundo real só pode ocorrer por meio de um processo a fórceps.
Longe
de mim desqualificar essa corrente quase originária do pensamento filosófico ocidental.
Ao contrário, é preciso reconhecer os elementos fundantes de um pensamento que
deitou raízes até hoje. Platão e Aristóteles têm aspectos que merecem ser
melhor refletidos, sua ética e seus conceptos sobre a sociedade refletem um
mundo controlado por uma elite cujo poder impunha uma dominação histórica sobre
as diversas esferas da sociedade.
Não
é à toa que o fundamentalismo católico é, de longe, o mais pernicioso e
perigoso, supera em teoria e em prática os fundamentalismos pentecostais e
neopentecostais. Vemos que na origem do discurso reacionário que o Brasil
experimenta, muitos dos seus fundamentos vêm de pensadores com formação em
Filosofia, diretamente ligada à igreja.
Gabriel
Chalita soube identificar esse quadro. Quando assumiu a Secretaria de Estado da
Educação, promoveu uma pesquisa sobre o ensino de Filosofia na rede pública, e
percebera, à época, que mais de 90% dos professores de Filosofia, advinham de
escolas da igreja. Oficializou o ensino de Filosofia, com a segurança que este
ensino se aproximava do ensino religioso que era uma proposta que não vingou. Com
essa matriz teórica seguida pela maioria, não haveria problemas.
Afinal,
quando 1,641 milhão de alunos matriculados no Ensino Médio têm regularmente
duas aulas de Filosofia por semana, era pra termos alguma mudança no pensamento
da base, mas a realidade é outra. A disseminação de correntes reacionárias,
fascistas, autoritárias, militares, etc., surgem nesse ambiente marcado por uma
Filosofia do ordenamento metafisico.
Será
difícil reverter esta situação. As universidades públicas têm de assumir seu
papel histórico. Não se trata de defenestrar o modo de pensar praticado pela
igreja, mas é preciso ampliar o leque e apresentar mais do que esta ou aquela
Filosofia, mas abrir as portas para a riqueza das correntes que ficam
enclausuradas nos gabinetes e nos artigos de especialistas.