sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

O capital é uma forma social militar

 

Interessante observar que ao longo da história do sistema do capital, as guerras sempre foram em uma quantidade muito maior. as guerras, olhando para a história do capitalismo, nunca foram capazes de abalar efetivamente um sistema produtor de mercadorias. Grandes guerras, guerras setoriais, guerras por Independência, guerras anticoloniais, guerras imperialistas, guerras por território, guerras por recursos estratégicos, guerras étnicas etc. Ao contrário, ao longo dessa história, as guerras favoreceram o capital, significa dizer que o capital e as guerras não são inimigos. O capital se vale das guerras em determinados contextos, mas também as provoca com o único objetivo de produzir mais capital. Pode não produzir mais capital para a sociedade, mas funcionalmente as guerras são importantes e são um instrumento muito eficiente de manutenção da própria lógica do capital na forma de produção de valor. Dito de outro modo, o capital precisa das guerras, de modo que a sociedade capitalista se tornou uma sociedade estratocrática. Isto é, o capital tem, do ponto de vista da sua forma social, um caráter eminentemente militar e por isso a guerra é a consequência do desenvolvimento das forças produtivas e das forças concorrenciais. Alguns países são organizados militarmente como os Estados Unidos e a Rússia. Interessante é que nesses países os governos são civis, são as máquinas de guerra as mais eficientes, como também Israel. São países organizados para a guerra.Somente em países periféricos como o nosso, é que os militares se arvoram e se arrogam no direito de impor um controle social por meio da espada. Mas, o que importa aqui é refletir que a guerra é umbilicalmente necessária à estrutura do capital. O capital é uma forma social militar.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

Os negócios estatais

Por Atanásio Mykonios

 

Em geral, a gente não sabe o que é público ou estatal. Também pouco entende sobre empresa pública ou estatal ou privada. Dizem por aí, que quando alguém é eleito, fará as coisas que prometeu e a gente então, dá uma espécie de carta branca. Além disso, a gente não sabe quase nada de patrimônio estatal ou público. A gente pensa que público é uma coisa é estatal é outra. A gente recolhe impostos. O governo então decide vender uma coisa que é de todo mundo. Mas ele não pergunta pra gente. Vai lá e vende. Também, a gente não se importa muito. A turma quer viver, sobrevir e fugir de problemas. O governo vende, mas o serviço continua. O governo sempre diz que dá prejuízo e que é pro nosso bem, assim como a nossa mãe. Aí alguém compra e o serviço continua. Geralmente fica mais caro. Vendeu. E agora? O que faz com o dinheiro? Afinal ele não é da galera? Não tinha de repartir com o pessoal? Em geral, o governo não tinha de tentar vender mais caro? Bom, eu só acho que a gente é sempre engambelado nessa história.

A Tese 9

 

Em 2015, para quem não sabe, o Grupo Crítica Social elaborou as suas 11 Teses, que apresentam as conclusões a que o Grupo elaborou ao longo daqueles anos de atuação, desde 2004. Destaco aqui a Tese 9.
 
"As esquerdas que chegam ao poder, tanto no Brasil, quanto em outras partes do mundo, fracassam em seus objetivos, passando a gerenciar as crises cíclicas, até o ponto que em a crise estrutural atinge os Estados-nacionais e colapsam as políticas desenvolvimentistas e sociais dependentes da produção de mercadorias, da valorização do capital e do endividamento estatal. As extremas-direitas enfurecidas se voltam contra os Estados-nacionais. Muitos destes, por sua vez, experimentam o desmonte gradativo de seu território (ou a fragmentação de barbárie pós-política deste) e de sua força de controle sobre os recursos e sobre a produção – ao passo que o Estado Amplo transnacional assume a primazia política. Assim, colapsou o nacional-desenvolvimentismo e os motes tradicionais das lutas de libertação nacional das esquerdas tradicionais. Urge um novo projeto de internacionalização dos trabalhadores e de desmercantilização que constitua uma nova e real alternativa viável."

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

A base da exploração capitalista

Quando a gente estuda a evolução dos empregos no mundo, partindo de informações dadas pela OIT, existe uma característica muito interessante no sistema capitalista. Nos últimos 30 anos a tendência é que o número de homens que são trabalhadores empregados, no mundo todo, é de aproximadamente 60%, enquanto as mulheres ocupam aproximadamente 40% dos empregos, no mundo todo. Isso também ocorre no Brasil, nos últimos 20 anos, de acordo com o IBGE, é a mesma tendência, com a mesma proporção, os homens ocupam 60% dos postos e as mulheres ocupam 40%. Existem dois significados nessa realidade. Primeiro, que a estrutura do capitalismo não permite que as mulheres ocupem mais postos de trabalho do que os homens, significa dizer que o sistema é totalmente masculino. A oferta de emprego para as mulheres não cresce. Segundo significado é que existe uma massa de mulheres que não está no sistema e não será sequer empregada pelo sistema, ou seja, é a grande maioria que sustenta e dá suporte para que o capitalismo possa funcionar, tanto no Brasil quanto no mundo, de modo que as mulheres são a base da exploração e da Riqueza do sistema capitalista, aqui e em todos os lugares.

As diversas faces do fascismo

 Precisamos entender que o fascismo assume contornos diferentes conforme o lugar, as condições históricas, as condições estruturais e culturais. Não pensemos que seja o fascismo ou seja o nazismo, ambos devam manter as mesmas características dos seus similares na Europa. Uma das características do nazismo é a perseguição racial ou étnica. Ele pode assumir a perseguição racial em outros moldes, aqui no Brasil, os fascistas não ousam, pelo menos por enquanto, perseguir judeus, mas o fascismo brasileiro certamente tem como propósito não apenas a perseguição racial, almeja uma estrutura de poder e de controle com o firme propósito de estruturar uma espécie de nação. Ocorre que em todos os lugares onde os fascismos prosperaram, em nenhum deles houve a negação do capital, ou seja, uma característica comum de todos os fascismos é que todos são efetivamente capitalistas. Sonham com um capitalismo puro, praticado por puros, que seja também a expressão da nação. O fascismo tupiniquim treme quando os capitalistas, tanto de origem judaica quanto de outras origens tiram um Patrocínio, mas este fascismo é praticado em larga escala, principalmente contra a população negra e contra os trabalhadores mais pobres. A grande expressão da estratégia do fascismo brasileiro, contra os negros e os pobres, está na forma como o governo lidou com a pandemia. Deixou à própria sorte e em menos de 2 anos, mais de 620 mil mortos. Mas isso também foi um ganho para o Capital, em geral. O fascismo ou os fascismos não têm o mesmo padrão, não seguem os mesmos padrões, existem alguns elementos que são característicos, como a supressão da luta de classes, o princípio da nacionalidade, o controle exacerbado das relações de produção, um inimigo comum, que possa mobilizar as massas, mas quanto à forma ou o conteúdo de perseguição e eliminação de minorias, isso vai variar conforme cada país me cada região. Por isso o nosso fascismo é um fascismo que tem uma mistura macarrônica, com feijoada e sushi.

A batalha da linguagem

 

A Batalha contemporânea da extrema-direita está sobretudo no campo da linguagem. Ela partiu para o ataque contra as esquerdas, com uma estratégia muito inteligente, que é a de inverter as definições e os conceitos, colocando o peso da defesa e da argumentação sobre as esquerdas. Uma vez que as esquerdas, gradativamente se acomodaram e deixaram de encarar a luta anticapitalista, para se tornarem, de alguma forma, opositoras positivas no interior do sistema, a extrema-direita encontrou uma brecha para perverter a história e partir para o ataque e consegue transformar a história recente como um exercício do autoritarismo exercido pelos governos de esquerda. Se nós consideramos um fato histórico incontestável a ditadura militar, essa extrema-direita consegue inverter e colocar sobre os ombros das esquerdas a responsabilidade, não da ditadura militar, uma vez que não a reconhece, mas transforma ao período posterior em um governo e um período ditatoriais de esquerda. Haja vista o conceito de marxismo cultural. E com isto, perverte toda a linguagem e inverte os conceitos. Conceitos que foram extremamente importantes para nós, como liberdade e expressão, hoje são utilizados pela extrema-direita como uma forma de suposta defesa contra o autoritarismo da esquerda. É por isso que a vacina se tornou uma bandeira política, que não é necessariamente contra seu aspecto científico, mas porque fundamentalmente trata de inverter o ônus e acusar a esquerda de ser autoritária, que passou a restringir a liberdade das pessoas. No meu entendimento, é mais ou menos isso que nós estamos vivendo hoje e o problema maior é que a esquerda não consegue enfrentar essa questão no campo político e procura nas instituições uma forma de se defender. Nós precisamos então inverter novamente esse confronto político e linguístico, isto é, nós temos que partir para o ataque.