É chegado o momento histórico em que a sociedade deverá
enfrentar sua relação com as religiões. É bem verdade que a religião leva uma
vantagem histórica sobre todas as formas de conhecimento e experiência humana,
a ciência, a política, a arte, a razão. Por um motivo: a religião é anterior
notadamente à forma moderna com que fazemos ciência. E essa vantagem se deve ao
fato de que a religião oferece um sentido ao mundo que nenhuma outra experiência
foi capaz ainda de apresentar, por isso a religião também, por motivos metafísicos,
se coloca acima do mundo e dos homens. A sociedade do século XXI deverá
confrontar a si no contexto das religiões. O mundo é coberta pelas religiões,
mas ao mesmo tempo o homem contemporâneo anseia por uma liberdade em vários
aspectos da sua vida social. As instituições atuais parecem que não prescindem
das religiões, mas é apenas uma aparência, pois as religiões estão incrustadas
na vida social, na vida política e nas relações de toda ordem. E por quê? Porque
é papel visceral da religião, de sua natureza, intervir na vida concreta dos
indivíduos a fim de que estes tenham o merecimento para alcançarem a vida
eterna. É de uma imensa ingenuidade imaginar que as religiões não deveriam ou não
poderiam se imiscuir na vida social e política, elas deverão fazê-lo sob pena
de traição aos seus preceitos ditados pela revelação. Cabe à sociedade refletir
sobre essas questões e outras ainda mais importantes, se deseja que instituições
autoritárias, anti-democráticas, virulentas em muitos casos, obscuras quanto ao
seu cotidiano material, convivam com a sociedade que exige cada vez mais
transparência diante do dinheiro público e de sua aplicação para a vida social.
É interessante observar como os meios de comunicação no Brasil tratam a questão
da escolha do novo Papa. A hierarquia católica é tão cínica quanto mentirosa
acerca de uma série de questões. Inicialmente podemos notar o descaso da
hierarquia para com o povo e a sociedade. Como uma entidade divina,
extra-terrestre, os indivíduos mortais não existem para a cúpula da Igreja
Católica, os leitos (assim chamados pelo clero) não têm nenhuma ascendência sobre
absolutamente nada, suas opiniões, a opiniões de jornalistas, estudiosos,
pesquisadores não representam nada para a hierarquia da Igreja. Continuamente todas
as observações do povo são desconsideradas e tudo recai sob a responsabilidade
de 115 cardeais que, como príncipes da Igreja invocam o Espírito Santo, e todos
os clérigos pelo mundo, em seus depoimentos e entrevistas, dão de ombros para a
realidade concreta, para as dificuldades dos pobres, para a vida miseráveis de católicos
pelo mundo. Enclausuram-se em segredo absoluto para decidirem entre si a
escolha de um novo condutor da Igreja. É notável assistir aos clérigos, padres,
bispos e membros da Igreja destilando seu cinismo com toda calma medieval que
lhes é própria, não estão preocupados com o mundo, com escândalos, desvios,
abusos de autoridade ou sexuais. Nada disso os incomoda, pois a Igreja, segundo
eles, não deve se abalar por isso, a sociedade perfeita, a morada ideal, o
clero em forma de confraria secreta, sob os holofotes do mundo, não se
preocupam com nada. Se é o povo que lhes paga o dízimo, se são as propriedades
que lhes dão o sustento, nada disso lhes é importante. Atribuem sua condição a-histórica
à sua criação dada pela sucessão dos que seguiram Jesus Cristo. O poder está
presente na Igreja, dos 115 cardeais, 28 são italianos. Como pode um Papa
designar tantos cardeais sendo que a população católica da Itália não equivale
à população do Estado de São Paulo? E dizer que o Brasil com a maior população católica
do mundo tem 5, dos quais 2 trabalham na cúria romana. E dizer que não há
posicionamento político no processo de escolha, que não há preferência? Isso é ridículo.
É certo que não irão escolher um para não europeu porque isso daria margem para
que este passasse a designar cardeais de fora da Europa, afinal, dos 115, 60 são
do Velho Continente. Quem tem de fato o poder na Igreja? Todas as religiões se
assemelham nesse aspecto, todas não se preocupam com o povo, com os seres
humanos. E com a liberdade que lhes é imputada, cometem suas barbaridades intra
e extra muros. O que podemos esperar das religiões organizadas?
Crítica Social. Crítica sobre a sociedade que tem no sistema do capital sua fundamentação atual, sua condição de moldar os indivíduos e suas instituições. Entre muitos aspectos, a necessidade, o trabalho, a produção de valor, a alienação e o fetiche são os alvos desta crítica. Como superar o capitalismo? Daí não perdermos de vista a capacidade de indignação ao sistema que historicamente desumaniza a todos. Atanásio Mykonios