quarta-feira, 13 de março de 2013

O CINISMO DA IGREJA



É chegado o momento histórico em que a sociedade deverá enfrentar sua relação com as religiões. É bem verdade que a religião leva uma vantagem histórica sobre todas as formas de conhecimento e experiência humana, a ciência, a política, a arte, a razão. Por um motivo: a religião é anterior notadamente à forma moderna com que fazemos ciência. E essa vantagem se deve ao fato de que a religião oferece um sentido ao mundo que nenhuma outra experiência foi capaz ainda de apresentar, por isso a religião também, por motivos metafísicos, se coloca acima do mundo e dos homens. A sociedade do século XXI deverá confrontar a si no contexto das religiões. O mundo é coberta pelas religiões, mas ao mesmo tempo o homem contemporâneo anseia por uma liberdade em vários aspectos da sua vida social. As instituições atuais parecem que não prescindem das religiões, mas é apenas uma aparência, pois as religiões estão incrustadas na vida social, na vida política e nas relações de toda ordem. E por quê? Porque é papel visceral da religião, de sua natureza, intervir na vida concreta dos indivíduos a fim de que estes tenham o merecimento para alcançarem a vida eterna. É de uma imensa ingenuidade imaginar que as religiões não deveriam ou não poderiam se imiscuir na vida social e política, elas deverão fazê-lo sob pena de traição aos seus preceitos ditados pela revelação. Cabe à sociedade refletir sobre essas questões e outras ainda mais importantes, se deseja que instituições autoritárias, anti-democráticas, virulentas em muitos casos, obscuras quanto ao seu cotidiano material, convivam com a sociedade que exige cada vez mais transparência diante do dinheiro público e de sua aplicação para a vida social. É interessante observar como os meios de comunicação no Brasil tratam a questão da escolha do novo Papa. A hierarquia católica é tão cínica quanto mentirosa acerca de uma série de questões. Inicialmente podemos notar o descaso da hierarquia para com o povo e a sociedade. Como uma entidade divina, extra-terrestre, os indivíduos mortais não existem para a cúpula da Igreja Católica, os leitos (assim chamados pelo clero) não têm nenhuma ascendência sobre absolutamente nada, suas opiniões, a opiniões de jornalistas, estudiosos, pesquisadores não representam nada para a hierarquia da Igreja. Continuamente todas as observações do povo são desconsideradas e tudo recai sob a responsabilidade de 115 cardeais que, como príncipes da Igreja invocam o Espírito Santo, e todos os clérigos pelo mundo, em seus depoimentos e entrevistas, dão de ombros para a realidade concreta, para as dificuldades dos pobres, para a vida miseráveis de católicos pelo mundo. Enclausuram-se em segredo absoluto para decidirem entre si a escolha de um novo condutor da Igreja. É notável assistir aos clérigos, padres, bispos e membros da Igreja destilando seu cinismo com toda calma medieval que lhes é própria, não estão preocupados com o mundo, com escândalos, desvios, abusos de autoridade ou sexuais. Nada disso os incomoda, pois a Igreja, segundo eles, não deve se abalar por isso, a sociedade perfeita, a morada ideal, o clero em forma de confraria secreta, sob os holofotes do mundo, não se preocupam com nada. Se é o povo que lhes paga o dízimo, se são as propriedades que lhes dão o sustento, nada disso lhes é importante. Atribuem sua condição a-histórica à sua criação dada pela sucessão dos que seguiram Jesus Cristo. O poder está presente na Igreja, dos 115 cardeais, 28 são italianos. Como pode um Papa designar tantos cardeais sendo que a população católica da Itália não equivale à população do Estado de São Paulo? E dizer que o Brasil com a maior população católica do mundo tem 5, dos quais 2 trabalham na cúria romana. E dizer que não há posicionamento político no processo de escolha, que não há preferência? Isso é ridículo. É certo que não irão escolher um para não europeu porque isso daria margem para que este passasse a designar cardeais de fora da Europa, afinal, dos 115, 60 são do Velho Continente. Quem tem de fato o poder na Igreja? Todas as religiões se assemelham nesse aspecto, todas não se preocupam com o povo, com os seres humanos. E com a liberdade que lhes é imputada, cometem suas barbaridades intra e extra muros. O que podemos esperar das religiões organizadas?