domingo, 19 de janeiro de 2020

A individuação cidadã


“E, como se trata de um sistema econômico totalizante, que não rege apenas a produção de bens, mas também a própria produção de força de trabalho, tendendo, portanto a desenvolver extensiva e intensivamente até abranger a globalidade da sociedade, a individualização dos trabalhadores encontra-se reproduzida na individualização dos cidadãos. A nação ideal se firmaria no relacionamento de cada cidadão com as instituições políticas e só esta prévia subordinação à autoridade inspiraria cada um a relacionar-se com os outros. O povo, para esses tipos de concepções e de práticas, não é uma teia de solidariedade, mas uma adição de unidades individualizadas. E assim se passou da velha definição do cidadão como animal social à sua definição como ser psicológico, em função precisamente daquele aspecto que opõe cada um aos restantes. Se na cidade grega todo animal social podia vir a ser um dirigente político, na nação contemporânea cada ente psicológico é potencialmente um ente patológico. É este o estágio último da individuação.”

João Bernardo, em Economia dos conflitos sociais, na página 335.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado pelo seu comentário