sexta-feira, 6 de novembro de 2020

Unidade para quê?

 Por Atanásio Mykonios

 

"Toda unanimidade é burra", disse Nelson Rodrigues. Por que se cobra tanto que a esquerda tem de ser "unida"? Tem-se o pensamento de que a direita é unida e por isso, todas as alas à esquerda têm de se unir também. A direita não é unida, são os capitalistas que conseguem, minimamente, unir-se em torno do Estado para controlá-lo, com sua força política. A esquerda tem de ser plural. O que tem de ser uma força política consistente é a organização dos trabalhadores, pois somos nós, os trabalhadores que sofremos na pele, o poder econômico e político sobre nós, na forma da luta para impor a lógica da exploração da nossa capacidade de trabalho. A esquerda existe e não necessariamente pode representar os trabalhadores. Essa confusão persiste, em grande medida, porque em nossa condição de trabalhadores, somos obrigados a viver sob a égide da subjetividade, devido à total dependência diante do capital. Se temos apenas a nossa capacidade de trabalho para trocar pela subsistência, somos lançados, por consequência, na subjetividade quase absoluta. O problema da esquerda e suas alas é ser capturada pela subjetividade e nisso, nós trabalhadores, vivemos a confusão ideológica, que é típica do fetiche social da mercadoria. Demora para compreender esse processo. A direita sofre do mesmo mal, sua suposta unidade é apenas a soma dos fatores do bloqueio do real significado da exploração e do papel do Estado. A maioria dos membros da direita vive no reino da subjetividade, tanto quanto os trabalhadores em geral.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado pelo seu comentário