sexta-feira, 3 de julho de 2015

Da Realidade e da Fantasia

Por Atanásio Mykonios



A nossa reação é interessante. Se assemelha a de muitos que conhecemos. Há uma espécie de incredulidade diante de todas as barbaridades que se cometem, na política, na rua, nas manifestações dos fascistas, por meio de grupos reacionários, etc.

Foi assim na Alemanha também. Muita gente não acreditava do que via e ouvia. Mesmo a olhos vistos e até quando passaram a experimentar na própria pele, ainda não suportavam a realidade.

A realidade parece tão fantástica que quando ela chega de fato, nos assusta tanto que criamos mecanismos de defesa e com eles tentamos dissimulá-la a ponto de criar uma interpretação paralela.

Então, ficamos à espera do próximo acontecimento, sempre imaginando que poderá ser pior e tentando convencer a nós mesmos de que não será possível nada pior.

Chamamos os nossos amigos e mostramos a eles e dizemos: "Vejam o absurdo que estão fazendo!" Todos se escandalizam, mas depois de alguns minutos, a realidade volta à sua fantasia.

Chega-se a um ponto em que a realidade adquire uma dinâmica tal, que nos tornamos reféns de um processo de medo e estupefação. E nesse processo, paralisamos.

É quando as ações dos fascistas e assassinos se tornam tão absurdas e as nossas reações tão pífias, que as palavras assumem um caráter mais importante do que a ação.

Enquanto tudo ocorre ante nossas mentes paralisadas, os fascistas ganham os espaços e até mesmo o que parece um argumento estúpido, ganha, por parte deles, um caráter de dogma insofismável.

E então, ficamos a ver os navios serem incendiados, acreditando que haverá alguma reação. Mas até os líderes se tornam caricaturas e a roda social entra numa nova realidade.

Esperamos que alguma instituição reaja e que a partir de sua estatura moral, social e política, os fascistas sejam barrados. Mas descobrimos que não há quem faça isso. Ficamos à espera de um herói, mas ele não vem.

O medo é mais forte e surge como instrumento de dominação. A maioria sucumbe!

Daí em diante, nos resta resistir e ser esmagado, sabendo que restará apenas a honra perdida da consciência histórica a ser salva no meio da arena repleta de feras e gente pronta para babar a nossa morte ou fugir e rápido, imaginando que assim poderemos readquirir as forças e lutar contra.

Alguns liberais num primeiro momento não se sentirão à vontade para apoiarem os fascistas, mas não negarão o prazer que lhes darão ao nos perseguirem até fim. Depois, os liberais poderão enfrentar os fascistas em nome da liberdade, libertando-nos, quem sabe...

E assim estamos mergulhando que diz respeito à nossa própria ilusão e fantasia em relação a realidade que nos aprisiona e paralisa.