sexta-feira, 5 de julho de 2019

O que está por trás da vontade do presidente Jair Bolsonaro com o trabalho infantil?


Por Atanásio Mykonios


Não deveríamos nos escandalizar com a proposta do presidente do Brasil sobre o trabalho infantil. Temos de analisar os fatos que envolvem o movimento real do sistema do capital. O capitalismo vive uma contradição em seu interior, absolutamente insolúvel. O sistema é forçado a eliminar gradativamente o trabalho humano, teoricamente chamado de trabalho vivo. Isso se deve ao fato de que a concorrência entre os produtores faz com que os processos de produção material progridam com a implantação de novos procedimentos tecnológicos, novas máquinas, novos modelos de administração, eficazes, funcionais, que, por sua vez, enxugam os quadros de trabalhadores no mundo inteiro. A especialização também é um fato decisivo para o incremento das condições gerais de produção.
Por outro lado, o capital precisa absorver uma quantidade imensa de novos trabalhadores, além das massas que estão trabalhando pelo mundo afora. Segundo a Organização Internacional do Trabalho – OIT, em 2019, o número de trabalhadores assalariados, com direitos trabalhistas chega a 1,81 bilhão de pessoas. Mas o número de trabalhadores empregados, isto é, pessoas com e sem carteira assinada, chega a 3,34 bilhões de pessoas. Ou seja, 1,53 bilhão de trabalhadores está totalmente na informalidade, são trabalhadores que não têm salários fixos, trabalham de forma intermitente, etc.
Segundo a OIT, “Em 2016, 152 milhões de crianças entre 5 e 17 anos eram vítimas de trabalho infantil no mundo - 88 milhões de meninos e 64 milhões de meninas.”
Do total de 152 milhões de crianças exploradas, 70,9% estão na Agricultura, 11,9% na Indústria e 17,2% nos Serviços (incluindo o Comércio).
Além disso, o sistema de produção de mercadorias precisa de trabalhadores, porém, que estejam em condições de serem cada vez mais explorados, em troca de cada vez menos salários e mais tempo de trabalho.
E com isso, aumenta a necessidade de diminuir a idade para que sejam mais explorados e por mais tempo. Ou seja, o capitalismo precisa de trabalhadores que estejam em condições de passar a vida toda trabalhando, se possível desde o 9 ou dez anos em diante.
A distribuição do trabalho infantil pelo mundo está assim configurada, do total de crianças.

Na África, são 19,6%
Na Ásia e no Pacífico, são 7,4%
Nas Américas, são 5,3%
Na Europa e Ásia Central, 4,1%
Nos Estados Árabes, são 2,9%

Portanto, a tendência no mundo e no Brasil é diminuir a idade para criminalizar e forçar a exploração da força de trabalho, pois com a nova revolução tecnológica, restarão poucas atividades econômicas rentáveis, o resto será de serviços pesados e todos os níveis. É uma tendência estrutural para fazer valer a rentabilidade do que resta do sistema de produção de mercadorias.
Não se iludam, o governo jogará pesado para impor moralmente a necessidade de as crianças voltarem, como no passado, a serem exploradas, uma vez que a escola e a educação estão prestes a se tornarem obsoletas. 


Referência
ILO. Global Estimates of Child Labour. RESULTS AND TRENDS, 2012-2016. International Labour Office (ILO), Geneva, 2017.

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