Por Atanásio Mykonios
Dizer o mais do mesmo pode não ser de bom alvitre. Por todos os lugares
do mundo, o contexto é de confrontação. Os conflitos sociais irrompem em violência
desmedida. Grupos organizados, de diversas denominações, atuam com a força das armas,
subjugam populações, os refugiados transitam por todas as fronteiras. A África
está mergulhada em um banho de sangue. Os interesses econômicos conflitam com
os interesses locais. Na Europa, o massacre no leste da Ucrânia nos mostra que
grupos fascistas e neonazistas estão em franca ascensão. A extrema-direita
assume uma posição preocupante no continente europeu e os indícios são de que
ainda há mais espaço para conquistarem. Podemos contar mais de 50 países
mergulhados em conflitos de várias espécies, todos, contudo, de caráter extremo
de violência. Após o fracasso das esquerdas gestoras da crise, o capitalismo faz
guindar aos postos de comando estatal os representantes da tecnocracia
transnacional – os novos gestores assumem postos políticos, porém, não
conseguem responder às demandas sociais e econômicas. Os trabalhadores estão
encurralados nos seus territórios, seus respectivos estados-nacionais são uma
ficção histórica. A Ásia está entre um crescimento econômico que empurra a concorrência
capitalista para o extremo leste e a iminência de uma decadência inevitável da
produção de valor paira sobranceira sobre as sociedades asiáticas. As américas
começam a viver a crise dos estados-nacionais, a queda da atividade econômica
se apresenta como fracasso das esquerdas pelo continente latino-americano, sem que nem mesmo a direita tenha recursos
para responder às demandas que surgem do interior do processo de produção
industrial, que perde fôlego, ao mesmo tempo em que os juros continuam altos
para os trabalhadores. Greves, paralisações, manifestações. Por outro lado, o imaginário
coletivo e as formas urbanas de interpretação do contexto atual criam
mecanismos de interpretação de aprofundamento dessa crise com contornos e
nuances catastróficas. Pelo mundo, o que posso constatar é que estamos já em um
ambiente de profunda destruição. Que definição é possível para esse contexto? Mas
há os que não conseguem perceber esse processo ou o negam a fim de se manterem incólumes
o barbarismo que se espalha como rastilho de pólvora. A velha máxima das
esquerdas, “socialismo ou barbárie” está às nossas portas, mas com uma funesta
constatação, a saber, onde está o socialismo das esquerdas? Isso revela uma dramática
condição, o capital está em um declínio não virtual nem contingencial, está em
franca decadência, que se torna uma perspectiva definitiva. Por outro lado, uma
forma de organização social, que está reagindo com toda a violência (e isto não
parece ser reconhecido nem mesmo pelas esquerdas e suas vanguardas) são as religiões,
com seu discurso messiânico, apocalíptico e insurrecional. As religiões poderão
responder com a violência que lhes é característica, nas variações regionais conforme
a cultura e o lugar social em que se encontram. Ora com ações de violência total,
ora como discurso de re-fortalecimento do próprio capital e sua consequente
sociabilidade. Os conflitos que explodem escondem um sintoma de uma causa comum
– o capital. No entanto, o que emerge como mais o trágico é a constatação,
feita por alguns de modo claro, da falta de um projeto articulado por parte das
esquerdas. Somos muitos e fragmentados, e parece que continuaremos assim. E dessa
forma, o capital entra em colapso e leva à barbárie a humanidade. Estamos imersos
no obscurantismo! Estamos à deriva? A sociedade mundial não tocou no modo de
produção capitalista, procurou criar condições para uma justiça distributivista
– o capital é dado como certo e irrevogável. Esse mundo está muito perigoso
para termos uma esperança. Talvez o fim do caminho esteja próximo! Um projeto
mundial está longe de se tornar ao menos uma parca esperança, a centelha da
vida que ilumina a sociedade.
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