Por Atanásio Mykonios
Investimento não cria empregos
em escala para repor as taxas de desemprego, informalidade, subemprego etc.,
como o senso comum alardeia por aí. Também não é a solução para o
desenvolvimento da economia, como tantos podem crer. Quem investe, o faz em
negócios de ponta, cuja capacidade de empregabilidade é tendencialmente menor.
O investimento ocorre em setores cuja expectativa de ganhos são efetivos e
promissores. De modo mais atualizado, investimento implica empréstimos, isto é,
não há investimento que não tenha o caráter de empréstimo, no campo da economia
privada. A não ser a prática estatal de colocar dinheiro público em setores que
são transformados em condições gerais de produção, o dinheiro-capital não gera
salários em condições para superar crises empregatícias. Se o Estado não “investe”,
os agentes privados (bancos, investidores, especuladores, rentistas etc.) utilizarão
seu capital para fazer mais capital. Não há nenhum caráter filantrópico nos
negócios realizados pelos investidores.
O que ocorre, na atualidade, é
o fato de que os recursos de empréstimos ocorrem por meio de instituições financeiras
e bancárias, seja por meio de bancos privados ou estatais ou por meio das
bolsas de valores e outros instrumentos especulativos. Os ditos emprestadores
de dinheiro não estão disponíveis em um balcão de negócios, tudo isso é
realizado pelas condições institucionais, os tomadores de empréstimos devem se
dirigir ao mercado especulativo, ou, dito de outro modo, ao mercado do dinheiro
e dos juros.
Na medida em que há um grande
número de trabalhadores na informalidade, no desemprego, ou mesmo a massa de
trabalhadores que não tem acesso à empregabilidade, a capacidade de recuperar o
dito mercado de trabalho com investimentos é ilusória. A capacidade de captar
dinheiro-capital para revitalizar uma economia cambaleante é cada vez mais
precária, a não ser em setores e nichos muito seletos, como em mercados que
absorvem tecnologias de informação e propiciam mercados e mercadorias que garantem
oferta e procura robustas.
Nisso, reside também uma contradição
insolúvel nesse processo histórico. Quanto mais as empresas que desenvolvem
procedimentos de ponta, menos trabalhadores necessitam. Essas empresas contratarão
trabalhadores cada vez mais especializados e em menor número. Assim, ocorre que
os emprestadores de dinheiro-capital designarão seus recursos para empresas que
deem melhores condições de possibilidade de lucros. Não há caridade nesse
sentido. Por outro lado, quanto mais investimentos específicos em empresas
especializadas, menos empregos os investimentos podem gerar.
Investimentos, empréstimos, em
última instância, expressam, para os esperançosos, de modo objetivo, empregos e
salários. Será que os empréstimos podem gerar salários? Esta é uma pergunta de
fundo, que expressa o centro da questão capitalista no que concerne à criação de
empregos e salários. O senso comum imagina que basta um capitalista tirar o
dinheiro do bolso e transferir para empresários empreendedores para que os
empregos surjam, num passe absurdo de mágica.
As empresas de tecnologia de ponta
têm maiores chances de captar investimentos, porque têm maiores condições de se
manterem no universo concorrencial. De outro lado, para captar recursos as
pequenas empresas, o comércio, os pequenos empreendimentos precisam ter a
segurança de que haverá aquecimento econômico. Do contrário, haverá estagnação
das atividades econômicas. O dinheiro será tomado a taxas altas. As reformas
desde a PEC 95 empurraram o Brasil para um limbo e o sistema financeiro não
poderá suprir a tremenda desigualdade nas atividades econômicas.
O mercado das mercadorias
obedece a uma lógica estranha e anterior à sua condição fenomênica. Está no
processo de produção, é nele que se encontram as determinações do sistema do
capital e é a partir dele que devemos compreender as condições em que ocorrem
os ditos investimentos de dinheiro-capital.
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