sábado, 13 de julho de 2019

Ilusões e mentiras sobre os investimentos


Por Atanásio Mykonios

Investimento não cria empregos em escala para repor as taxas de desemprego, informalidade, subemprego etc., como o senso comum alardeia por aí. Também não é a solução para o desenvolvimento da economia, como tantos podem crer. Quem investe, o faz em negócios de ponta, cuja capacidade de empregabilidade é tendencialmente menor. O investimento ocorre em setores cuja expectativa de ganhos são efetivos e promissores. De modo mais atualizado, investimento implica empréstimos, isto é, não há investimento que não tenha o caráter de empréstimo, no campo da economia privada. A não ser a prática estatal de colocar dinheiro público em setores que são transformados em condições gerais de produção, o dinheiro-capital não gera salários em condições para superar crises empregatícias. Se o Estado não “investe”, os agentes privados (bancos, investidores, especuladores, rentistas etc.) utilizarão seu capital para fazer mais capital. Não há nenhum caráter filantrópico nos negócios realizados pelos investidores.

O que ocorre, na atualidade, é o fato de que os recursos de empréstimos ocorrem por meio de instituições financeiras e bancárias, seja por meio de bancos privados ou estatais ou por meio das bolsas de valores e outros instrumentos especulativos. Os ditos emprestadores de dinheiro não estão disponíveis em um balcão de negócios, tudo isso é realizado pelas condições institucionais, os tomadores de empréstimos devem se dirigir ao mercado especulativo, ou, dito de outro modo, ao mercado do dinheiro e dos juros.

Na medida em que há um grande número de trabalhadores na informalidade, no desemprego, ou mesmo a massa de trabalhadores que não tem acesso à empregabilidade, a capacidade de recuperar o dito mercado de trabalho com investimentos é ilusória. A capacidade de captar dinheiro-capital para revitalizar uma economia cambaleante é cada vez mais precária, a não ser em setores e nichos muito seletos, como em mercados que absorvem tecnologias de informação e propiciam mercados e mercadorias que garantem oferta e procura robustas.

Nisso, reside também uma contradição insolúvel nesse processo histórico. Quanto mais as empresas que desenvolvem procedimentos de ponta, menos trabalhadores necessitam. Essas empresas contratarão trabalhadores cada vez mais especializados e em menor número. Assim, ocorre que os emprestadores de dinheiro-capital designarão seus recursos para empresas que deem melhores condições de possibilidade de lucros. Não há caridade nesse sentido. Por outro lado, quanto mais investimentos específicos em empresas especializadas, menos empregos os investimentos podem gerar.

Investimentos, empréstimos, em última instância, expressam, para os esperançosos, de modo objetivo, empregos e salários. Será que os empréstimos podem gerar salários? Esta é uma pergunta de fundo, que expressa o centro da questão capitalista no que concerne à criação de empregos e salários. O senso comum imagina que basta um capitalista tirar o dinheiro do bolso e transferir para empresários empreendedores para que os empregos surjam, num passe absurdo de mágica.

As empresas de tecnologia de ponta têm maiores chances de captar investimentos, porque têm maiores condições de se manterem no universo concorrencial. De outro lado, para captar recursos as pequenas empresas, o comércio, os pequenos empreendimentos precisam ter a segurança de que haverá aquecimento econômico. Do contrário, haverá estagnação das atividades econômicas. O dinheiro será tomado a taxas altas. As reformas desde a PEC 95 empurraram o Brasil para um limbo e o sistema financeiro não poderá suprir a tremenda desigualdade nas atividades econômicas.

O mercado das mercadorias obedece a uma lógica estranha e anterior à sua condição fenomênica. Está no processo de produção, é nele que se encontram as determinações do sistema do capital e é a partir dele que devemos compreender as condições em que ocorrem os ditos investimentos de dinheiro-capital.

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