Por Atanásio Mykonios
Muita gente em Diamantina pensa que eu nado em
dinheiro porque estou professor da universidade, também pudera, numa região tão
empobrecida, talvez meu salário seja alto para o grosso dos trabalhadores em
geral. Estou docente de Graduação e Pós-Graduação. Sim, estou, porque não nasci
docente e ando pensando o que vai acontecer conosco aqui na universidade.
É muito mais barato ter de manter docentes com um
mesmo salário, atuando nas duas formações. Além disso, a pesquisa, a extensão e
atividades administrativo-burocráticas tomam a semana. Durante o fim de semana,
leio, pesquiso, escrevo. Sou obrigado a publicar, procurar quem aceite os meus
escritos, isso é um verdadeiro périplo. É bem verdade que não tenho como
defender o isolamento, a elitização, a hierarquização das universidades
brasileiras. É um espaço de conservação das estruturas de exploração social,
por isso, a universidade é um lugar de luta pelo poder, não pelo poder do
conhecimento, é o espaço onde as forças internas reproduzem o que ocorre na
sociedade. Mas eu estou nessa universidade e não em outra.
Tenho de me manter sóbrio, apesar de todos os ataques,
não tenho bola de cristal, é evidente que os ataques à universidade têm criado
um clima de tensão e terror contínuo, as pessoas fingem que ainda a situação não
as atingiu, por isso agem numa espécie de mundo paralelo – a normalidade que as
pessoas tentam mostrar para manterem-se de pé. Por outro lado, a universidade não
está politizada, ao contrário, as esferas administrativas e especialmente as
burocráticas, são ocupadas por técnicos que na sua imensa maioria são de
direita e de ultradireita.
As universidades, no seu âmbito funcional e
financeiro, são administradas por grupos de técnicos e contabilistas
absolutamente apartados e despolitizados, tendendo a uma adesão a forças de
direita, são liberais e neoliberais. As esquerdas representam um grupo isolado
e absolutamente limitado. Nada do que se diz corresponde à realidade, ao
contrário, as forças que atuam na universidade em grande medida, atuam em suas
pesquisas por meio de fundações. Há universidades, como a UFMG, que boa parte
de sua estrutura de pesquisa é financiada por relações mediadas pela fundação.
Por outro lado, empresas que querem financiar
pesquisas, não o farão sem que haja a certeza de que tais pesquisas sejam
utilizadas para aprimorar as posições no mercado. No entanto, há uma parte da
pesquisa que requer tempo para a sua maturação, as empresas sabem disso e
delegam ao Estado essa tarefa.
Com tudo o que tem sido noticiado, a saúde mental, psicológica
e física dos profissionais nas universidades e especialmente onde trabalho, é
cada vez mais precária, estamos adoecendo vertiginosamente. O estresse é
notório, por todos os lados, estamos sendo premidos e não encontramos um veio
para nos organizar e lutarmos com dignidade. Sabemos que a nossa organização sindical
é muito frágil, os sindicatos estão também sob forte ataque e desmantelamento
generalizado.
Sem dúvida, a luta não pode ser fragmentada e isolada.
Estamos isolados no interior dos muros das nossas universidades, a sociedade não
tem muita noção da importância das universidades, mesmo que elas ainda
reproduzam as estruturas de exploração. A universidade é elitista, sem dúvida,
mas é preciso, de alguma forma, encontrar elementos para sairmos do casulo e
avançarmos para a construção de solidariedade.
A vida está se tornando insuportável, em todos os
sentidos, no interior dos ambientes de trabalho, sem perspectivas.
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