Por Atanásio Mykonios
Por razões diversas, não nos demos conta de que o
Brasil é um país militarizado desde os anos 1920. A tradição militar não é
apenas a farda, a sociabilidade militar está entre nós e em nosso cotidiano.
Até do ponto de vista positivista, os militares se arvoraram ao direito de
chamarem para si uma missão quase civilizadora em alguns momentos, noutros,
assumiram a pecha de educadores da pátria brasileira. Isso tudo deitou raízes
profundas que, de alguma forma, naturalizaram a presença dos militares na vida
brasileira, com direito a bandeiras e defesa constante de sua intervenção.
Parece que a maioria das pessoas não vê problemas
nisso. Aliás, se lançarmos um olhar mais detido pelo mundo, veremos a escalada
da militarização social e da socialização militar em todos os cantos do
planeta. Aproximadamente 150 países vivem alguma forma de conflito armado,
interno ou externo. Se isso não é uma guerra mundial, então teremos de rever
nossos conceitos de paz. Mas não nos esqueçamos de que esse princípio
socializante da onda militar é um filhote da sociabilidade capitalista em
sentido de manter a sociedade sob controle da punição, ao mesmo tempo em que
oferece as condições para produzir, mesmo que de forma cada vez menos
eficiente, o acúmulo de capital. Aqui como acolá, as armas são parte formal e
informal do nosso cotidiano, a morte, a destruição, a farda e o medo.
Nesse aspecto, a militarização se coaduna com as
práticas de violência contidas na história brasileira. A escravidão foi um
regime social de absoluta imposição por meio da violência, assim como todas as relações
sociais e, além disso, as instituições atuam por meio da violência – não exatamente
a violência pura, brutal, trata-se da violência em forma de coerção permanente.
Na educação, nas famílias, nas ruas, nas repartições, nos ambientes de
trabalho, a violência se reveste de mecanismos militares, não é preciso da
farda, se bem que a farda cria um mecanismo de repressão psíquica.
Além disso, a suspeita permanente para com a
maioria da população. Os militares são a prática do Estado, não apenas
terrorista, como ação programada, é também a constituição do Estado, sua
política, com a estrutura do encarceramento. O Brasil teve o maior índice de encarceramento
do mundo, do ano 2000 a 2016 a população carcerária aumentou 212%, saltou de
232.755 para 726.712 presos, somente entre os homens, não contabilizadas as
mulheres encarceradas.
No entanto, os levantamentos foram realizados até
2016. Portanto, dada a tendência do aumento exponencial do encarceramento,
podemos inferir que essa população deve ter ultrapassado os 900 mil presos. Este
mecanismo brutal encontra na militarização uma das formas mais eficientes para
manter as populações sobre controle permanente, enjaulando a sociedade como um
todo. A militarização é um processo social de larga amplitude, sua ideologia
mantém a sociedade em camisa-de-força, tanto quanto a superexploração,
estrutura da sociedade capitalista brasileira.
A sociedade mundial está sob o tacão da ordem
militar, por todos os países, encontramos instâncias militares que atuam nos
governos e se espalham tanto para manter a economia oficial quanto as organizações
paralelas. As armas e os barões assinalam as condições da sociedade global que
ruma para uma ameaça iminente – sua própria destruição.
Referência utilizada
WPB. Word Prison Brief. Highest to Lowest -
Prison Population Total. Disponível em http://www.prisonstudies.org/highest-to-lowest/prison-population-total?field_region_taxonomy_tid=All
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