Por Atanásio Mykonios
É impressionante o papel que a
Rede Globo assume para si mesma. Imagina a si mesma como redentora e protetora
da sociedade brasileira. Tem a obsessão de manter aquela espécie de
nacionalismo por meio do futebol, como se fosse historicamente fundamental e
necessário esse patriotismo a todo custo. Como se a Globo tivesse o papel do
Estado-nacional, da Igreja nacional, da Cultura nacional, do Folclore nacional,
etc. A Rede Globo vê seu papel histórico como porta-voz da sociedade brasileira como
um todo, com sua pretensa capacidade de mobilizar as forças de identificação
entre uma suposta nação e a frágil construção de uma cultura e uma etnia
absolutamente abstrata. A Globo pretende transformar o futebol em expressão da
forma da sociabilidade, de valores condensados e convergentes a um tempo de
unidade ideológica. Esse papel realizado com maestria metódica é, no mínimo,
uma monstruosidade, porque assume o caráter de um Estado-nacional amplo e
formalmente legitimado por meio de uma complexa condição, baseada não apenas no
cálculo econômico, mas também em uma negligência histórica de despolitização da
sociedade brasileira.
É uma espécie de mãe da nação, seria? Mais parece uma aberração do vazio social, da ignorância política, das formas de
manipulação características dos meios de comunicação, das novas e destruidoras construções
de discursos hegemônicos. Como se fosse possível fazer surgir a nação ou consolidá-la por meio de um conglomerado de construções de imagens em movimento com conteúdo discursivo de caráter eminentemente difuso, mas poderoso para escamotear a realidade, a exploração, mentir acerca dos explorados, garantir as benesses dos exploradores a todo custo.
A Rede Globo é um organismo social que deve ser
colocado no seu lugar, sua ação é estruturalmente um monumento ao fascismo
moderno. Seu patriotismo tem por escopo a mobilização das massas para que não
apenas consumam, ou que votem no que está nos planos políticos de seus interesses,
mas que vejam nessa emissora a representante legítima de suas próprias aspirações,
uma tentativa de simbiose quase naturalizada entre o povo e essa aberração. A
construção dessa identidade é mais poderosa do que a sua capacidade de se
manter no mercado, é mais intensa, mais profunda e disseminatória do que a
força de suas mentiras. Serve como suporte para o seu poder. Mesmo quando fala
a verdade (quando a comunica), sua imagem está estabelecida como fonte da
identidade nacional. Atuou em parceria com o regime militar, atuou para erigir
Collor de Mello e para o derrubar posteriormente; atua com o politicamente
correto para defender o direito à livre expressão, mas com seu complexo aparato
de manipulação social da informação, garante seu poder para impor sua necessidade
de criar essa constelação identitária.
No futuro, a história reservará à
Rede Globo talvez o mesmo papel que a Igreja exerceu na Idade Média, os Estados
autoritários ao longo do século XX, o nazismo com sua máquina destruidora, etc. Pena não termos tido força social suficiente para nos emanciparmos dessa mãe falsa.
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