sábado, 5 de julho de 2014

Ela é a mãe da nação?

Por Atanásio Mykonios

É impressionante o papel que a Rede Globo assume para si mesma. Imagina a si mesma como redentora e protetora da sociedade brasileira. Tem a obsessão de manter aquela espécie de nacionalismo por meio do futebol, como se fosse historicamente fundamental e necessário esse patriotismo a todo custo. Como se a Globo tivesse o papel do Estado-nacional, da Igreja nacional, da Cultura nacional, do Folclore nacional, etc. A Rede Globo vê seu papel histórico como porta-voz da sociedade brasileira como um todo, com sua pretensa capacidade de mobilizar as forças de identificação entre uma suposta nação e a frágil construção de uma cultura e uma etnia absolutamente abstrata. A Globo pretende transformar o futebol em expressão da forma da sociabilidade, de valores condensados e convergentes a um tempo de unidade ideológica. Esse papel realizado com maestria metódica é, no mínimo, uma monstruosidade, porque assume o caráter de um Estado-nacional amplo e formalmente legitimado por meio de uma complexa condição, baseada não apenas no cálculo econômico, mas também em uma negligência histórica de despolitização da sociedade brasileira.

É uma espécie de mãe da nação, seria? Mais parece uma aberração do vazio social, da ignorância política, das formas de manipulação características dos meios de comunicação, das novas e destruidoras construções de discursos hegemônicos. Como se fosse possível fazer surgir a nação ou consolidá-la por meio de um conglomerado de construções de imagens em movimento com conteúdo discursivo de caráter eminentemente difuso, mas poderoso para escamotear a realidade, a exploração, mentir acerca dos explorados, garantir as benesses dos exploradores a todo custo.


A Rede Globo é um organismo social que deve ser colocado no seu lugar, sua ação é estruturalmente um monumento ao fascismo moderno. Seu patriotismo tem por escopo a mobilização das massas para que não apenas consumam, ou que votem no que está nos planos políticos de seus interesses, mas que vejam nessa emissora a representante legítima de suas próprias aspirações, uma tentativa de simbiose quase naturalizada entre o povo e essa aberração. A construção dessa identidade é mais poderosa do que a sua capacidade de se manter no mercado, é mais intensa, mais profunda e disseminatória do que a força de suas mentiras. Serve como suporte para o seu poder. Mesmo quando fala a verdade (quando a comunica), sua imagem está estabelecida como fonte da identidade nacional. Atuou em parceria com o regime militar, atuou para erigir Collor de Mello e para o derrubar posteriormente; atua com o politicamente correto para defender o direito à livre expressão, mas com seu complexo aparato de manipulação social da informação, garante seu poder para impor sua necessidade de criar essa constelação identitária.


No futuro, a história reservará à Rede Globo talvez o mesmo papel que a Igreja exerceu na Idade Média, os Estados autoritários ao longo do século XX, o nazismo com sua máquina destruidora, etc. Pena não termos tido força social suficiente para nos emanciparmos dessa mãe falsa. 

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