Afinal de contas, em que consiste o trabalho de um docente na esfera estatal?
Temos de dizer que somos contratados pelo Estado, não é exatamente uma instituição pública, no sentido do controle público, mas no sentido de um controle estatal em que a sociedade, de alguma forma, acredita que o Estado tem a delegação para cumprir.
Por outro lado, os mecanismos de controle do trabalho em parte diferem das instâncias privadas, mas, de maneira geral são parecidas às formas com que os trabalhadores são coercitivamente conduzidos para objetivamente cumprirem com as metas da produção – ressalvando o fato de que cumprirão até o momento em que permanecerão rentáveis, ou seja, técnica, tecnológica e mercadologicamente conforme os interesses de produção, competição e venda.
O processo burocrático é a grande investidura do trabalho docente no âmbito da esfera estatal.
Como uma grande empresa, o Estado é o maior contratador do país, mas por várias razões, o planejamento estatal para com ele mesmo é sempre um problema confuso. Como programar uma empresa que tem como função estabelecer a dita “justiça social” por meio de uma sociedade civil que se empenha para a sua própria autodestruição com as relações de mercado e alienadas?
Todos acusamos o Estado de ser uma entidade gigantesca e sem possibilidade de individualização, mesmo assim a sua indiferença perante o trabalho é uma espécie de abstração que não se sustenta a não ser por conta das leis de mercado.
Em última instância, mesmo que o Estado brasileiro seja o braço de sustentação do capital em todas as suas nuances, e que sua presença é ostensiva, sua determinação na relação com os seus empregados obedece cegamente às leis de mercado.
Isto nos revela que os indicadores da economia nada mais são do que balizadores dos mecanismos da relação de trabalho assalariado, portanto, o Estado não é capaz de avançar e de propor qualquer superação, disso estamos concordantes.
E como trabalhadores temos um duplo caráter, de um lado somos trabalhadores como quaisquer que estejam lançados pela mão invisível do sistema e de outro, somos o próprio Estado. Isso demonstra as contradições em que estamos metidos.
As velhas formas institucionais que regulam o trabalho estatal estão com os dias contados. Isto quer dizer que a estrutura patrimonialista da sociedade brasileira, que também deitou raízes no serviço público e no Estado não se sustentarão por muito tempo, dadas as condições em que a economia setorializada imporá a todos novas formas de gestão para apurar os ganhos e gastos numa balança de equilíbrio econômico-financeiro.
Dessa forma, a universidade, na qual muitos ainda depositam as esperanças iluministas de uma formação humana ampla, em que sejam os alunos preparados para superarem problemas, é uma ilusão de ótica. Talvez nossa visão míope, não nos deixar observar o que a História tem mostrado sobejamente de modo a nos convencer de que estamos diante de uma universidade que sucumbe de modo atroz às condições de mercado.
Na defensiva desde o começo do século passado, os trabalhadores não foram capazes, em âmbito global, de oferecer alternativas, a não ser as de manterem-se na defesa diante de um sistema absurdo. E por isso, fomos historicamente convencidos de que dependemos do capital, mas exatamente o contrário, é o capital que depende exclusiva e peremptoriamente do trabalho e do trabalhador.
E os partidos trabalhistas em todo o mundo nada mais fizeram do que administrarem, a partir do lento mas gradativo distanciamento de suas bases, hoje, ironicamente, nada mais são do que tentativas de gestores do capital e sua crise. As elites parece terem percebido que seria mais cômodo delegar aos trabalhistas do mundo todo a gerência de um modelo que está em crise há tempos.
Essa greve nos ensina muitas coisas. Deve nos mostrar que temos, novamente, um longo caminho de reflexão sobre o contexto total das relações engendradas pelo processo de produção de valor.
Mesmo assim, sinto que é promissora toda a experiência. É promissora porque há um grupo que se colocou no processo, apesar de todas as dificuldades que emergiram durante esses meses. E acredito mesmo que temos ainda energia para continuarmos com o movimento porque é preciso. A greve está aí e não podemos nos deixar levar por informações desencontradas.
"Dessa forma, a universidade, na qual muitos ainda depositam as esperanças iluministas de uma formação humana ampla, em que sejam os alunos preparados para superarem problemas, é uma ilusão de ótica. Talvez nossa visão míope, não nos deixar observar o que a História tem mostrado sobejamente de modo a nos convencer de que estamos diante de uma universidade que sucumbe de modo atroz às condições de mercado". (MYKONIOS, 2012)
ResponderExcluirConcordo...
E gostaria que fosse bem diferente...
A universidade integra um sistema de metas e objetivos quantitativos, (nem sempre qualitativos), sufocantes, que nos aprisiona.
Mesmo os mais experientes não conseguem vencer a sua coerção, que dizer dos menos experientes, que as vezes nem percebem essa coerção e se iludem acreditando que são eles que decidem (o quê, como e quando).