Se estamos pensando que vamos derrubar o capitalismo com esse comportamento careta, pastoso e sem espírito, estamos redondamente enganados. A nossa forma social em que parece haver uma espécie de permissividade que a tudo corrompe é uma grande falácia. Somos extremamente regressivos, chatos, pedantes, consumidores por excelência, conservadores que desejam manter as relações sob certos padrões ambientados, obedientes a uma estrutura apoteótica que nos subsume. E o pior é que esta subsunção ainda nos dá prazer e uma suposta dignidade.
Nossos corpos tatuados não são exatamente uma ordem à revolução corporal. A diversidade cultural garante mais e mais a nossa estimulante condição de direitos à mediocridade. Nossas profissões compulsórias não nos permitem um voo para além e acima das formações sociais que nos oprimem.
Até o consumo das drogas nada mais é que um reflexo da ação cega e indivisível da sociedade que produz o valor e o autovaloriza ao infinito.
Imaginar que uma sociedade pós-capitalista será organizada, arrumada, limpa, obediente, absolutamente consciente de suas necessidades e obrigações, estamos, na verdade, a sonhar com um mundo que já existe, o mundo da obediência, o da mediocridade, da selvageria e especialmente da escravidão.
Sem poesia e erotismo e a sem paixão da recriação de nós mesmos, não haveremos de superar o capital e seus tentáculos linguísticos, sociais e políticos. Não podemos deixar de reconhecer que nossa sociedade é chata, sem brilho, sem perspectivas. Perdemos o tesão de conhecer e recriar o mundo, deixamos isso a cargo da sociedade produtora de mercadorias e seus preclaros administradores.
Falta-nos a compreensão da nova percepção de um mundo que deve ser destruído e não estrangulado pela tecnocracia. Pela força criadora de um propósito que não se aliena ao mundo idolatrado do trabalho social abstrato. Precisamos de novas deusas, divas, ninfetas. Precisamos rever nossos rumos. Há 300 anos, o que há de novo é a instituição da miséria. O desencanto nos persegue. A angústia é nossa companheira. A culpa pequeno-burguesa e cristã inunda nossa consciência, somos inquilinos dessa consciência petrificada do capital em nós.
Nossa história não nos dará qualquer trégua. Daqui a 200 anos seremos julgados pela nossa covardia. Não haverá compaixão, talvez alguma compreensão sobre nossas idiossincrasias. Somos uma sociedade fracassada. Nossa caretice nos denuncia socialmente.
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