segunda-feira, 8 de agosto de 2011

A última instituição está ruindo

Estados estão se dissolvendo. A banca mundial espera pelo regresso das operações financeiras com generosidade de um carrasco, à espera das migalhas que serão distribuídas pelos abutres do mercado. O colapso das instituições não é uma ficção de Hollywood, ela é visível e o Estado será o último bastião do castelo de areia que desmorona sem qualquer ato fúnebre a lhe garantir a passagem para a eternidade.
A fim de garantir o inominável metafísico da esfera do valor, o dinheiro volatiza as esperanças e não garante os pés, nem o chão, nem a comida, nem o patriarcado das gerações que se empenharam para a apoteose do capitalismo majestoso da concorrência e dos produtos fartos. Na sociedade da abundância, abundam Estados sôfregos numa espiral esquizofrênica.
O capitalismo de estado vingou a si mesmo, como forma de promover a segurança dos investidores, garantindo o ordenamento jurídico das relações de troca. Agora é refém de sua própria ideologia nefasta - haverá então pouco a esperar a não ser a lógica demarcada da racionalidade dos números que vagam pelo espaço, em busca de um cofre que lhes dê guarita e segurança final.
Não importa o tempo que levará, será uma longa noite de gemidos, em que o moribundo será exposto ao seu próprio criador – a humanidade, sedenta por liberdade e carrinhos cheios de produtos. Seremos um arremedo de nós mesmos, entregues à bestialidade dos momentos em busca de comida.
Os Estados sucumbiram! Pouco restará em breve do sonho de um Estado ordenado e racional, a democracia não dará conta de sua obrigação em salvar o mercado. Tragados, os Estados serão a última certeza de que há vida útil no planeta.
O último bastião está por ruir.

domingo, 24 de julho de 2011

Deserto Social

Atanásio Mykonios

Sucumbir às formas sociais que banalizam a existência. Calar-se radicalmente ante a necessidade de uma expressão que manifeste as mazelas do mundo e sua reprodução. Admitir o torpor social e a condição de impossibilidade de refletir sobre uma realidade mortificante. A ideologia burguesa do modo de reproduzir e reificar a existência alcançou os estertores da vida. Não só a vida humana reproduz a banalização e a sua mortificação, como também as coisas ao seu redor gritam a forma de um aprofundamento das estruturas de alienação. A vida crítica deixou de existir há muito tempo, os indivíduos sociais se contentam, cada vez mais, com a possibilidade de não serem tragados definitivamente pelo ocaso das relações materiais; temem serem lançados de modo irreversível no limbo material e suas afeições dizem respeito a um condicionamento no núcleo familiar decadente e repleto de idiossincrasias. Não há nada mais do que a aridez de uma totalidade desertificada. Com muito esforço, tentamos de nos manter sóbrios no furor de uma sociedade embasada na complexa relação impregnada pelo fetichismo social da mercadoria. Nem mais parece possível uma análise pública das estruturas de exploração impostas pelo capitalismo. Assim, o que importa é simplesmente uma fonte inesgotável da própria consciência banalizada que persegue ininterruptamente sua própria realização, sem saber para qual horizonte apontar.
O único objetivo fundamental é a realização material, quantitativamente superior aos patamares experimentados no presente e qualitativamente incrementados pela necessidade incomensurável de ganhar mais e pagar menos. Assim, a teoria avança no interior dos gabinetes, mas os teóricos se tornam autistas sociais, confinados aos seus espaços restritos, sem qualquer perspectiva de serem ouvidos a não ser na forma de concessão que a mídia lhes oferece quando se trata de abordar tecnicamente algum problema social. Mais uma vez, o processo devastador das condições de reprodução social e material, impostas pelo capitalismo, se torna a real realidade sem qualquer contestação. O mundo vive como se nada de fato existisse para além das necessidades banais,  a não ser a própria forma imediata de satisfação, confundidas  com uma suposta aura de fundamentação espiritual, conduzida pelo adestramento dos indivíduos às tarefas cotidianas sem a percepção de que algo não cheira bem no reino das relações sociais. O niilismo político é um caminho para a sobrevivência intelectual.

sábado, 9 de julho de 2011

Lançamento do Livro "Além dos muros da escola..."

Companheiras e companheiros de viagem!

Nosso amigo, irmão e companheiro CÉSAR AUGUSTO ALVES SILVA publicará sua obra.

É com imensa alegria que vos comunico a publicação da Dissertação de Mestrado em formato de livro e com o título de:

"Além dos muros da escola: as causas do desinteresse, da indisciplina e da violência dos alunos" 

Sinopse da obra:

A partir da observação e análise da configuração da sociedade produtora de mercadorias, o autor executa uma análise da cultura criada por tal sociedade e suas implicações sobre os seres humanos em sua relação com a educação formal. Para isso, utiliza os conceitos de experiência, formação, semiformação, racionalidade técnica e outros desenvolvidos pelos expoentes daquela que se convencionou denominar entre nós "Escola de Frankfurt" ou "Teoria Crítica". Suas conclusões são as de que tanto o desinteresse quanto a indisciplina e a violência de alunos e alunas, em relação a conteúdo e forma produzidos na escola, são produtos da mesma organização social responsável pelas agruras do Nazismo e de Auschwitz, o modo de produção capitalista.

Palavras do autor

“A Editora é a Papirus, mas a honra maior foi de contar com o prefácio de meu orientador à época do Mestrado, ié, o Prof. Mário Sérgio Cortella. Muito me honraria a vossa leitura, comentários, críticas, sugestões e até, quem sabe, elogios... divulgação também eu agradeço demais!
Forte abraço a todos e todas!
César”

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Por que estamos mais pobres

Atanásio Mykonios



Ora, pode parecer estranho, mas mesmo com toda a abundância e a produção em escala gigantesca e mundializada, estamos mais pobres e muito mais explorados pelo capital.
Isto foi previsto no século XIX, em paralelo a Marx, outros pensadores já observavam a tendência do sistema em aumentar a exploração à medida que não mais prescindia de trabalhadores em quantidade. Isto significa dizer que a exclusão do mercado principal do capitalismo, que é o trabalho, não exclui os trabalhadores da própria exploração, ao contrário, suga-os para dentro do sistema e a ordem primordial é que a exploração se torna relativa e mais perversa.
Jean-Charles-Léobnard de Sismondi, foi um economista e historiador suíço, morto de 1842, que influenciou Marx e outros pensadores posteriormente. Ele observou que o aumento da tecnologia, inevitavelmente levava a um aumento real da produção – algo que hoje é uma redundância, o que implica a necessidade de ampliar o escoamento das mercadorias. É possível encontrar qualquer bugiganga na porta de qualquer banheiro público. Mas isto não ocorre sem submeter ao mercado toda forma social, indo para além das fronteiras estabelecidas – é preciso colonizar a face da Terra e as suas profundezas. Com isso, todos se tornam subsumidos ao modo de produção que se expande interminavelmente. 
No início do capitalismo industrial, isso se dava pelo aumento do tempo de trabalho e pela espetacular diminuição dos salários para competir com a concorrência. A exploração selvagem submetia os trabalhadores em uma infindável jornada de tarefas, a especialização não era tão necessária.
Quanto mais se torna sofisticado o processo produtivo, a ciência qualifica o conhecimento, ao mesmo tempo em que o fragmenta. São necessários novos saberes a fim de cumprir o complexo social das tarefas do trabalho. As profissões se multiplicam juntamente com as exigências e os serviços.
Mas atualmente, esse processo não precisa da massa qualificada de trabalhadores e sim de consumidores, mesmo que a tecnologia e a diminuição do valor-trabalho seja um componente fundamental para vencer a concorrência. Um pequeno número será suficiente no futuro para mover a máquina capitalista.
Enquanto as empresas têm um rosto marcado pela sua identidade – a marca, o nome, a imagem – a massa de despossuídos não tem rosto, todos que fazem parte dela não passam de números formalizados nas listas oficiais. Permanecem, no entanto, presos à necessidade de sobreviverem no contexto do mercado, e se tornam mendicantes das migalhas que o sistema espalha com sua indiferença generalizada.
A crueldade desta forma social reside no fato de que há dois elementos que substanciam a dependência na exploração. De um lado a força da tecnologia que abrange a totalidade dos modos de produção e quanto mais sofisticado torna-se o processo, maior o grau de exploração sobre a especialização dos trabalhadores que passam a ser sugados ininterruptamente. Seu corpo, seu cérebro sua mente e seus conteúdos morais passam a ser dominados por um inquilino mordaz e efetivo, uma espécie de sanguessuga permanente. Não é mais uma exploração datada, ela deixa de ser temporal para ser onipresente.
Trabalhadores com competências multidisciplinares atuam aparentemente com maior desenvoltura, são tratados como maior reverência social, têm acesso ao emprego remunerado, mas são cada vez mais explorados, diríamos, sugados diuturnamente. Seu valor no mercado está relacionado à capacidade de produzir mais valor em menos tempo. Estes trabalhadores cada vez com formação com propriedades acima da média assumem a condução formal do sistema, mas a maioria, ainda, não tem poder decisório, apenas os gestores e administradores. Esta espécie de nova classe gestora garante a liturgia do processo e a aparente da acumulação.
Juntamente com esta condição, ao atingir o seu ápice, o capital estende a exploração para o âmbito da dependência, uma vez que mesmo na exclusão, não há outra forma de lidar com a sobrevivência que não seja a dura realidade de manter-se preso às relações de troca.
Significa pensar que a massa dos desempregados não se liberta do mundo das dependências sociais e das necessidades materiais impostas pela relação da troca do valor. Desempregados ou não, estamos presos, atados a esta forma histórica de relação humana.
Como disse Marx, em uma profética visão, o dinheiro é a máxima social que sustenta todas as formas de vida no capitalismo. O dinheiro é apenas a expressão de um equivalente necessário que faz a mediação entre o valor-trabalho e as mercadorias.
Seria o caso de as massas cada vez mais despossuídas romperem as amarras dessa dependência e encontrarem novas formas de vida, mas isto fica nebuloso em um horizonte distante, pois contrariamente a este determinismo social, os que permanecem no sistema, trocando sua força de trabalho pelo tempo excedente da exploração, não se dão conta de que não podem mais sair. E os que estão à deriva, lutam para serem explorados sem o saber.
Empobrecidos cada vez mais com a ilusão de ótica provocada pela imensidão de produtos que invadem o cotidiano e, também, pela impressão de que há um ambiente favorável promovido pelo progresso material em escala planetária. Este ambiente, por mais que nos ofereça o acesso a uma existência planificada, baseado no conforto, na informação, na velocidade das operações tecnológicas, há um empobrecimento gradativo, mas não visível.
A exploração não aumenta simplesmente porque as massas não podem consumir conforme as promessas do sistema, aumenta progressivamente porque se torna evidente a dependência.