Atanásio Mykonios
Sucumbir às formas sociais que banalizam a existência. Calar-se radicalmente ante a necessidade de uma expressão que manifeste as mazelas do mundo e sua reprodução. Admitir o torpor social e a condição de impossibilidade de refletir sobre uma realidade mortificante. A ideologia burguesa do modo de reproduzir e reificar a existência alcançou os estertores da vida. Não só a vida humana reproduz a banalização e a sua mortificação, como também as coisas ao seu redor gritam a forma de um aprofundamento das estruturas de alienação. A vida crítica deixou de existir há muito tempo, os indivíduos sociais se contentam, cada vez mais, com a possibilidade de não serem tragados definitivamente pelo ocaso das relações materiais; temem serem lançados de modo irreversível no limbo material e suas afeições dizem respeito a um condicionamento no núcleo familiar decadente e repleto de idiossincrasias. Não há nada mais do que a aridez de uma totalidade desertificada. Com muito esforço, tentamos de nos manter sóbrios no furor de uma sociedade embasada na complexa relação impregnada pelo fetichismo social da mercadoria. Nem mais parece possível uma análise pública das estruturas de exploração impostas pelo capitalismo. Assim, o que importa é simplesmente uma fonte inesgotável da própria consciência banalizada que persegue ininterruptamente sua própria realização, sem saber para qual horizonte apontar.
O único objetivo fundamental é a realização material, quantitativamente superior aos patamares experimentados no presente e qualitativamente incrementados pela necessidade incomensurável de ganhar mais e pagar menos. Assim, a teoria avança no interior dos gabinetes, mas os teóricos se tornam autistas sociais, confinados aos seus espaços restritos, sem qualquer perspectiva de serem ouvidos a não ser na forma de concessão que a mídia lhes oferece quando se trata de abordar tecnicamente algum problema social. Mais uma vez, o processo devastador das condições de reprodução social e material, impostas pelo capitalismo, se torna a real realidade sem qualquer contestação. O mundo vive como se nada de fato existisse para além das necessidades banais, a não ser a própria forma imediata de satisfação, confundidas com uma suposta aura de fundamentação espiritual, conduzida pelo adestramento dos indivíduos às tarefas cotidianas sem a percepção de que algo não cheira bem no reino das relações sociais. O niilismo político é um caminho para a sobrevivência intelectual.
Grande texto! Expressa toda a nossa indignação e demonstra a nossa percepção! Talvez, todo este torpor, que atravessa de cabo a rabo a nossa sociedade, do homem mais simples ao mais alto escalão da academia estão mergulhados na alienação e submersos aos interesses impostos a eles pelo capital e pela razão instrumental, só esteja acontecendo aqui neste país. Lá fora, mesmo que seja tentando conseguir mais do mesmo, mas pelo menos tensionando, o tempo ferve!
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