Por Atanásio Mykonios
Analisando a movimentação do governo em relação às eleições, especialmente quanto à questão do processo material da votação, fica muito evidente que Bolsonaro sabe que perderá as eleições. Toda atitude dele é a de um candidato derrotado. Somente alguém que sabe que vai perder ou que está na iminência de perder age dessa forma. Quanto ao golpe ou no que diz respeito às ameaças golpistas eu vejo pelo menos três alternativas que têm alguma plausibilidade
Primeiro. Evitar que as eleições ocorram. Antecipar o processo. Para isso, seria necessário suspender todo o processo eleitoral antes do pleito e não apenas para a presidência. Isso implicaria impedir que as eleições ocorram em todo o território nacional, desmobilizando a máquina eleitoral de bilhões de reais e de milhares ou centenas de milhares de pessoas e candidatos que se mobilizam nesse período. Teria de suspender antecipadamente as campanhas para deputados estaduais e federais, senadores e governadores em todo o território nacional. Não parece plausível a suspensão apenas do pleito à presidente. Isto acarretaria, sem dúvida nenhuma, uma reação em cadeia que, possivelmente nem mesmo as forças de segurança, militares e policiais, seriam capazes de conter a fúria.
A segunda possibilidade seria anular o resultado das eleições. Anular o resultado só é possível, do ponto de vista lógico, após o processo eleitoral e a publicação dos resultados. Isto implica uma decisão muito difícil, pois seria necessário decidir entre a anulação total ou parcial. Imaginemos que Bolsonaro resolva agir logo depois do resultado e coloque suas bases milicianas e militares em ação para anular o resultado. Por coerência, deverá ele anular o resultado geral, o que provocaria uma crise sem precedentes, não apenas no âmbito na presidência, mas também nos estados. Seria interessante perguntar quantos estariam dispostos a aceitar a anulação total do resultado da eleição. Suponhamos que ele tente então anular apenas o resultado à presidência, o procedimento será extremamente desgastante e suponhamos ainda que institucionalmente o país aceite recontar os votos, suponhamos mais ainda, que ao final haja dois resultados. De um lado, o resultado oficial promulgado pelo TSE e, de outro, o resultado extraoficial ou paralelo divulgado pelo esquema Bolsonaro. Como seria possível encontrar uma solução para isso? quanto tempo levaria esse processo? Os deputados eleitos, os senadores eleitos, os governadores eleitos tomariam posse ou não?
E por último, a tentativa de arrastar o máximo de tempo uma espécie de impasse, criando uma anomia institucional cujas consequências, neste momento, são absolutamente imprevisíveis. Haveria posse? Haveria adiamento? De certa forma esta tentativa contempla as duas possibilidades anteriores. A pergunta que precisa ser feita aqui é a seguinte. até que ponto os negócios no país estariam em condições de suportar uma crise dessa envergadura? Seria possível uma espécie de ucranização do Brasil?
Lembremos também que Getúlio Vargas promoveu o autogolpe em 1937, que o manteve no poder até 1945. É possível um autogolpe? Ora, ora, sempre é possível. Apenas para se manter no poder? Isto redundaria numa ditadura, não com o contorno militar, obviamente com apoio militar, mas seria a ditadura de um homem só, com sua família. Seria necessário que ele tivesse muito poder, um poder absoluto sobre um país de quase 220 milhões de habitantes. Hoje, as condições concretas e materiais não apontam para essa possibilidade.
Bem, se vocês têm outras alternativas que sejam possíveis vislumbrar, contem-me.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado pelo seu comentário