domingo, 8 de novembro de 2020

Os mesmos discursos

 Por Atanásio Mykonios

 

Há um complexo nacionalista que afeta a todos os políticos quando são guindados ao poder. Os eleitos parecem que, em seus discursos inaugurais, voltam-se para os supostos valores da nação. A crise do capital em âmbito mundial é tratada com os argumentos subjetivos. Dos venezuelanos aos chineses, dos indianos aos brasileiros, dos estadunidenses aos uruguaios, dos gregos aos franceses. Dilma no seu segundo mandato, Obama, nos dois, Hugo Chaves também, Maurício Macri, Macron, Putin e tantos outros. A nação é exortada, as tradições são ressuscitadas para vencer os inimigos imaginários. A nação ainda é o lugar absolutamente abstrato para fazer frente a problemas estruturais, históricos, materiais e objetivos. A classe trabalhadora é submersa numa realidade fictícia, os problemas são tratados de modo que a nação pode superá-los. O apelo ao espírito nacionalista ressurge, como nos tempos nazistas ou stalinistas. O capital faz o que quer com os países e os seus estados-nacionais. Isso mostra que a mundialização do capital não conhece fronteiras. A ingenuidade está presente, se bem que depois, o movimento real do sistema social do capital e suas necessidades é mais imperioso que a boa vontade e as boas intenções dos governantes, supostamente nacionalistas. O Estado, as fronteiras e a exploração interna continuam imperando. O discurso com o verniz de salvação nacional é um elemento do bloqueio dos significados reais da situação.

 

sexta-feira, 6 de novembro de 2020

Este regime

  Por Atanásio Mykonios


Estamos sob um regime genocida há século e mais. O republicanismo não mudou a essência do regime brasileiro. O Estado é genocida, sob vários ângulos ou aspectos. Não devemos tratar os fatos que envolvem todo tipo de violência contra as mulheres brasileiras, como dados apenas de uma cultura, de maneira a individualizar os genocidas. Trata-se de uma política de Estado, que conjuga exploração, violência, brutalidade, estupro, dominação econômica e ideológica. O aparato judicial é um dos elementos de manutenção desse genocídio contra as mulheres. O sistema do Capital aprisiona as mulheres num campo de concentração social, o extermínio das mulheres é sistemático, metódico e mantém uma estrutura de opressão. A humilhação é um método eficaz de arrancar qualquer resquício de dignidade. A economia brasileira é um mercado de carne humana, exposta sob os holofotes da exploração sexual, cujo caráter reside nas mais profundas raízes da dominação patriarcal capitalista. E a carne da mulher é o elemento determinante desse regime, que encontra nela, sua razão de ser. As religiões vivem e transitam sib o tacão dessa bestialidade, nada fazem contra esse estado de coisas, ao contrário, reprimem e consolidam esse holocausto. Ainda não entendemos com alguma clareza o caráter genocida desse regime. A política e seus políticos não escondem a natureza desse regime, orgulham-se de sua obra. Somente uma revolução para por abaixo esse regime, sabemos disso, mas...

 

Qual a diferença?

 Por Atanásio Mykonios

 

Há quem comemore a demissão desse Rodrigo Constantino. É preciso observar que as empresas de comunicação que empregavam esse jornalista, têm ligações com o poder econômico e não seria diferente, não o é de fato. Assim como uma empresa como Facebook, que é um eficiente meio de comunicação para drenar a mercadoria mais valorizada que nós produzirmos - a informação. Qual a diferença entre o jornalista que emite opiniões e ganha dinheiro, em troca dessa atividade, e eu, que escrevo no Facebook? Primeira diferença, a audiência. Segunda, eu produzo pequenos textos, e os algoritmos transformam isso em mercadoria para o sistema do Capital sem qye eu nada receba em troca. Ambas as empresas atuam como elementos-chave tanto do ponto de vista ideológico quanto econômico. Eu e esse jornalista de merda temos mais em comum do que a minha vã filosofia pode supor.

Unidade para quê?

 Por Atanásio Mykonios

 

"Toda unanimidade é burra", disse Nelson Rodrigues. Por que se cobra tanto que a esquerda tem de ser "unida"? Tem-se o pensamento de que a direita é unida e por isso, todas as alas à esquerda têm de se unir também. A direita não é unida, são os capitalistas que conseguem, minimamente, unir-se em torno do Estado para controlá-lo, com sua força política. A esquerda tem de ser plural. O que tem de ser uma força política consistente é a organização dos trabalhadores, pois somos nós, os trabalhadores que sofremos na pele, o poder econômico e político sobre nós, na forma da luta para impor a lógica da exploração da nossa capacidade de trabalho. A esquerda existe e não necessariamente pode representar os trabalhadores. Essa confusão persiste, em grande medida, porque em nossa condição de trabalhadores, somos obrigados a viver sob a égide da subjetividade, devido à total dependência diante do capital. Se temos apenas a nossa capacidade de trabalho para trocar pela subsistência, somos lançados, por consequência, na subjetividade quase absoluta. O problema da esquerda e suas alas é ser capturada pela subjetividade e nisso, nós trabalhadores, vivemos a confusão ideológica, que é típica do fetiche social da mercadoria. Demora para compreender esse processo. A direita sofre do mesmo mal, sua suposta unidade é apenas a soma dos fatores do bloqueio do real significado da exploração e do papel do Estado. A maioria dos membros da direita vive no reino da subjetividade, tanto quanto os trabalhadores em geral.