Por Atanásio Mykonios
Só
para vermos o que ocorre.
Diamantina
é Patrimônio Cultural da Humanidade. Tem um centro histórico que deve ser
preservado. As propriedades desse centro estão nas mãos de uma elite branca,
herdeira do poder escravista. O centro é rodeado de bairros, em cuja maioria
reside a população negra, que representa a maioria dos habitantes de
Diamantina.
Os
pobres trabalhadores frequentam o centro para trabalhar ou para circular. São
balconistas, garçons, caixas de banco e mercearias,
recepcionistas nos hotéis e pousadas, lavadeiras, faxineiras, entregadores,
vendedores, serventes, pedreiros etc.
A relação e o vínculo não são históricos nem de
pertencimento. Apenas é uma relação de venda e compra de tempo de trabalho. Em
outras palavras, a relação é de subsistência e comercial. Todo mundo se vale do
turismo para ganhar dinheiro.
Os turistas chegam em levas à cidade, especialmente nos
fins de semana. Basta ver a cor e o aspecto estético para identificar quem são
e de onde vêm. A maioria é de classe média alta ou de aposentados. Ocupam o
centro, aos sábados percorrem as ruas e de noite a eles é reservado um espaço
no centro, cercado por cordas, com mesas e a boa comida mineira, para ouvirem
música. Os pobres circulam em volta, ou servem aos turistas.
A presença da Universidade não alterou esse cenário. O
mundo real, com seu movimento, continua a explorar os negros como antes da
chegada da Universidade. Os pobres e os negros, quando conseguem ingressar no
mundo acadêmico, ingressam, na grande maioria, nos cursos noturnos, nas
licenciaturas e humanas.
São discriminados, humilhados e têm os piores
desempenhos. Nós, de dentro da universidade, não conseguimos mudar isso.
O compromisso com o "Patrimônio" é da ordem do
interesse comercial. Apenas isto. Essa população que circunda o centro
histórico não tem nenhuma identificação nem pode ter. É cinismo querer esse
compromisso. É desprezar a herança escravista que ainda impõe a dominação
econômica, política e social.
As relações de poder estão presentes em todos os
ambientes, 80% dos vereadores são negros, mas nada muda. O centro é repleto de
igrejas católicas tombadas. Ao redor só há igrejas evangélicas e alguns
terreiros.
A Igreja no Distrito da Sopa foi destruída pelo fogo. E
daí?
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