Por Atanásio Mykonios
Os trabalhadores na China nas áreas de tecnologia,
especialmente, da informação, têm sido levados a trabalharem 9 horas por dia, 6
dias por semana. O modelo é denominado 996 – 9 am to 9 pm, isto é, das 9 da
manhã às 21 da noite, na semana com apenas uma folga. Ao que tudo indica, esse
modo de exploração está por se alastrar em outras áreas de desenvolvimento
tecnológico e produtivo. Grandes empresas como ALIBABA estão empenhadas em
impor o regime de trabalho, uma vez que a chantagem se torna um elemento
natural.
As empresas impõem inclusive sanções e censura
deliberada contra os trabalhadores que se manifestam contrários a essa
exploração. O que mais chama a atenção é que o governo chinês não mobiliza uma
única ação para coibir essa exploração estrutural, ao que parece, muito pelo
contrário, o governo tem se calado sistematicamente. Para aqueles que imaginam
que a China fará frente ao mostro estadunidense, engana-se redondamente. Todo
mundo, na verdade, nas lutas comerciais, por mercados, por fatias e pela
concorrência estrutural, não faz nada diferente, a exploração sobre os
trabalhadores é a mesma, porque segue com a mesma lógica do capital em todas as
partes.
Os dados são mais do que informações, revestem-se de
valor de mercado, mercadorias a serem produzidas, vendidas e comercializadas no
geral. Os trabalhadores da informação são também mercadorias em duplo sentido. São
trabalhadores e como tal vendem sua força de trabalho e transformados em dados
vivos, como toda as pessoas pelo mundo afora.
O fato de que algo é difícil de medir não significa
que ele não exista, e é claro que o uso generalizado de computadores para
processamento de informações e o uso de telecomunicações para transmiti-las têm
introduzido uma nova e enorme variedade de escolhas de localização do trabalho
de processamento de informações. (Huws, 2017, p. 196)
Ursula Huws apenas mostra a amplitude das novas formas
de exploração e de auto-exploração nas novas condições de produção. As informações
e os meios de comunicação concentrados na e pela Internet, impõem uma
diversidade nas condições dos trabalhadores.
Seja lá onde for, no Brasil, na China ou na Alemanha,
as condições de produção foram profundamente transformadas e o controle sobre
os produtores de conteúdo também são exacerbados. Além disso, as metas a serem
atingidas foram gradativamente colocadas sob o tacão do tempo, o instantâneo é
a ordem, a lei, a regra. Todos devem produzir em tempo real, os dados devem ser
produzidos para ampliar os controles e ativar mercados promissores. Todos trabalham
para dar forma ao valor numa estrutura social virtual.
HUWS,
Ursula. A formação do cibertariado:
trabalho virtual em um mundo real. Tradução de Murillo van der Laan.
Campinas: SP: Editora da Unicamp, 2017.
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