quinta-feira, 8 de agosto de 2019

996

Por Atanásio Mykonios



Os trabalhadores na China nas áreas de tecnologia, especialmente, da informação, têm sido levados a trabalharem 9 horas por dia, 6 dias por semana. O modelo é denominado 996 – 9 am to 9 pm, isto é, das 9 da manhã às 21 da noite, na semana com apenas uma folga. Ao que tudo indica, esse modo de exploração está por se alastrar em outras áreas de desenvolvimento tecnológico e produtivo. Grandes empresas como ALIBABA estão empenhadas em impor o regime de trabalho, uma vez que a chantagem se torna um elemento natural.
As empresas impõem inclusive sanções e censura deliberada contra os trabalhadores que se manifestam contrários a essa exploração. O que mais chama a atenção é que o governo chinês não mobiliza uma única ação para coibir essa exploração estrutural, ao que parece, muito pelo contrário, o governo tem se calado sistematicamente. Para aqueles que imaginam que a China fará frente ao mostro estadunidense, engana-se redondamente. Todo mundo, na verdade, nas lutas comerciais, por mercados, por fatias e pela concorrência estrutural, não faz nada diferente, a exploração sobre os trabalhadores é a mesma, porque segue com a mesma lógica do capital em todas as partes.
Os dados são mais do que informações, revestem-se de valor de mercado, mercadorias a serem produzidas, vendidas e comercializadas no geral. Os trabalhadores da informação são também mercadorias em duplo sentido. São trabalhadores e como tal vendem sua força de trabalho e transformados em dados vivos, como toda as pessoas pelo mundo afora.

O fato de que algo é difícil de medir não significa que ele não exista, e é claro que o uso generalizado de computadores para processamento de informações e o uso de telecomunicações para transmiti-las têm introduzido uma nova e enorme variedade de escolhas de localização do trabalho de processamento de informações. (Huws, 2017, p. 196)
Ursula Huws apenas mostra a amplitude das novas formas de exploração e de auto-exploração nas novas condições de produção. As informações e os meios de comunicação concentrados na e pela Internet, impõem uma diversidade nas condições dos trabalhadores.
Seja lá onde for, no Brasil, na China ou na Alemanha, as condições de produção foram profundamente transformadas e o controle sobre os produtores de conteúdo também são exacerbados. Além disso, as metas a serem atingidas foram gradativamente colocadas sob o tacão do tempo, o instantâneo é a ordem, a lei, a regra. Todos devem produzir em tempo real, os dados devem ser produzidos para ampliar os controles e ativar mercados promissores. Todos trabalham para dar forma ao valor numa estrutura social virtual.

HUWS, Ursula. A formação do cibertariado: trabalho virtual em um mundo real. Tradução de Murillo van der Laan. Campinas: SP: Editora da Unicamp, 2017.

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