sábado, 24 de agosto de 2019

A Amazônia é do capital!



 Por Atanásio Mykonios



As fronteiras agrícolas são ampliadas, gradativamente. Não há um único dia em que o desmatamento seja estancado. E para quê? Para produzir mais. Produzir grãos e carnes e explorar a terra para ouro e outros minerais.
A Amazônia nunca foi protegida no sentido ambiental como imaginamos na atualidade. Está ali, foi motivo de orgulho ufanista por algum tempo, agora o tempo urge para explorar com a voracidade necessária. As mercadorias continuam a ser produzidas em escala planetária, a ciência desenvolve novos instrumentos que avançam sobre a natureza.
Tudo isso para os brasileiros? Não. Mais de 90% do que se produz nessas regiões devastadas e para a exportação. Uma parte dos países está gritando, mas a China, até o momento, está calada. A maior parte do comércio exterior praticado pelo Brasil é realizada com a China. Insumos, carnes, minérios etc. 



O governo brasileiro instiga ainda mais a devastação, por meio de uma política bem articulada – agricultura, meio-ambiente, Itamaraty, ciência e tecnologia, agências reguladoras universidades. Além disso, as terras de proteção, as terras indígenas são parte da estratégia de acelerar a exploração da terra.
Tudo isso, bem no começo do atual governo, foi habilidosamente desmontado e em seguida rearranjado em novos moldes.
Esse mesmo governo agora afirma que a Amazônia é dos brasileiros e acusa as grandes potências de ingerência. Por outro lado, os EUA estão “mais ou menos” preocupados. Os países europeus posam de humanitários. A China fica quieta e observa o desenrolar dos acontecimentos.
Os países do mundo destinam alguns milhões de dólares para “proteger” o que não pode ser protegido nem pelos Estados nem pelos governos. O cinismo e a hipocrisia são o comportamento dessa economia desembestada.
Soja e gado, madeira e minérios são as principais commodities produzidas no interior do Brasil. Petróleo e gás nos litorais e em alto mar.
As corporações é que de fato mandam nessa bagaça toda!

terça-feira, 20 de agosto de 2019

Ontem e hoje

Por Atanásio Mykonios

Ontem e hoje.

     Cresci na ditadura militar. Na minha casa nunca se falou sobre aquela ditadura. Na minha vizinhança, era como se nada disso existisse. Na escola, um ou outro comentário no banheiro ou em algum banco de jardim. Muitas pessoas que conheci, acreditavam que Paulo Maluf estava certíssimo em utilizar a ROTA para matar pobres e estes votavam em peso nesse cretino. Conversas sobre política eram sempre abafadas, mas aquela mentalidade de que eram todos os políticos corruptos era recorrente, mas os votos eram contabilizados para os partidos da situação. Mulheres, negros, gays, menores, tinham o mesmo tratamento, só que havia mais "timidez". Pessoas mais velhas nunca falavam sobre o golpe de 1964. 
     Os trens viviam abarrotados de trabalhadores e vendedores ambulantes, não se ouvia nada sobre as barbaridades dos governos. A indiferença sobre o mundo era grande. Eu só vi as pessoas se mexerem depois da ditadura, quando a hiperinflação devastou a economia das famílias e trabalhadores. Pessoas da pequena burguesia destilavam seus pequenos ódios particulares em reuniões familiares, sem nenhuma consequência, ironias furtivas recheavam o almoço de fim de semana. A esquerda era um demônio que não podia entrar na casa das pessoas. As pessoas ficam estupefatas com o grau de estupidez atual. Sim, ela é real. Mas eu vivi no meio de um ambiente tão propício à estupidez quanto agora, talvez com a diferença de que, na atualidade, a idiotice teve acesso ao universo virtual encapsulado. Antes, eram as manchetes de jornais mentirosas, hoje são Fake News, na mesma ordem de má fé. A direita e a extrema-direita sempre tiveram bases eleitorais e políticas sólidas e bem articuladas. Indígenas foram mortos às centenas e presos sem motivo algum, torturados etc. As redes sociais exercem o mesmo poder que a TV Globo exerceu quando teve poder sobre a sociedade com a maior audiência da história das telecomunicações mundiais. A gente achava que aquilo duraria para sempre. A burguesia saiu da ditadura mais rica em comparação de quando começou o regime militar. 
     O Brasil foi destruído lá como agora. Milhões foram parar na pobreza, desemprego, fome. A morte pela fome era o flagelo de imensos contingentes da população. O Brasil não era nada no cenário mundial, nem serviu de exemplo ou de estímulo para nada nem para ninguém. O Carnaval seguia em frente, as mulheres desfilavam seus corpos sob o tacão da censura pelas avenidas. A burrice era muito grande, tolerada, mas imensa. 
       Ontem como hoje.

Desmatamento em Rondônia, de 1984 a 2016


sábado, 10 de agosto de 2019

Por trás da cagada

Por Atanásio Mykonios



Obviamente devemos fazer chacota das sandices que Bolsonaro diz. Mas há uma convicção por trás de cada pronunciamento. Dessa vez é a lógica malthusiana. Isto é, o problema da alimentação se deve ao aumento da população e, leia-se, o aumento dos pobres. Marx combateu a ideia de Malthus de que o problema social estaria no crescimento da população e que tal aumento traria problemas para a solução de alimentos e outras questões.
Logo, a lógica para enfrentar a escassez seria a contenção do crescimento dos pobres, a regulação da alimentação a poucas doses diárias e a consequência natural é que defecaremos menos. Até hoje há pessoas que ingenuamente acreditam que a guerra é uma das soluções para barrar o crescimento dos pobres. Extermínios, genocídios, confinamentos etc. Todas essas supostas soluções têm defensores em todas as esferas sociais.
Daí a conclusão um tanto darwiniana de que os pobres são responsáveis pela poluição, pelas condições precárias, pela fome, pelos impasses ambientais, isto é, quanto mais pobres, mais consumo, mais demandas estruturais e isto é um entrave para o bom desempenho da economia e, sobretudo, do ponto de vista da limpeza social, as soluções finais seriam um caminho natural e viável para a sobrevivência social.
Portanto, poluiremos menos o ambiente. Assim, essa é também a lógica de milhões de ignorantes e incautos pelo mundo afora. Barrar o crescimento dos pobres. No meu entendimento, isso não é uma piada, é uma crença enraizada que agora ganha status oficial, e política pública estatal.