Por Atanásio Mykonios
(Trecho extraído do estudo sobre A mulher no centro das exploração: a cor e a raça da economia brasileira)
O
problema da mulher no Brasil, quanto ao capitalismo, revela algumas faces de
uma pretensa mesma moeda. A exploração da força de trabalho, num determinado
momento da história do capitalismo não conhece gênero, a princípio. Mas conhece
formas de exploração que são estruturais na medida nas condições das economias
nacionais, que ainda se mantêm sob o rótulo de estados-nacionais. Por todos os
lados, a sociedade produtora de mercadorias tem de, ela mesma, se transformar
num imenso parque de mercadorias, a serem trocadas e os seres humanos, de modo
geral, também são transformados em mercadorias, como força de trabalho e também
como bases da exploração social do capital.
(...) a própria força de trabalho humana tem de se tornar uma
mercadoria. Expropriada de qualquer acesso autónomo e voluntário aos recursos,
uma parte cada vez maior da sociedade foi sendo submetida ao jugo dos
"mercados de trabalho", ficando a capacidade humana de produção
fundamentalmente heterodeterminada. Só nestas condições a actividade produtiva
se tornou “trabalho abstracto”, que mais não é que a forma de actividade
específica do fim em si abstracto do aumento do dinheiro no espaço funcional da
"economia empresarial" capitalista, ou seja, separado do contexto da
vida e das necessidades dos próprios produtores. (SCHOLZ, 2000)
Por
outros motivos que não apenas o ingresso no mercado das explorações, a mulher
enfrenta também as condições adversas de uma economia dependente, que não se
estabelece como um eixo normativo dos altos negócios do sistema global do
capital. Ao contrário, a economia nacional é conduzida e administrada como uma
grande fazenda, aos moldes dos tempos coloniais, tanto quanto no que tange às
formas de exploração de gênero, de cor e raça que ainda prevalecem, não como
resquícios de um mundo deixado para trás, efetivamente são formas de exploração
que reproduzem o poder econômico sobre as populações de mulheres e, sobretudo,
na atualidade, com a força do poder político estruturante.
Não
se pode deixar de escamotear o fato de que a estrutura econômica nacional é
androcêntrica, racista, mais ainda do que ser apenas patriarcal, trata-se do
poder masculino. O masculino que está enraizado em todos os mecanismos de
controle da vida social, especialmente na forma da sociedade que produz
mercadorias. Para o bem ou para o mal, a sociedade brasileira produz
mercadorias, está inserida nas relações de produção global, seus instrumentos
de controle financeiro são aos mais rentáveis e os mais bem-sucedidos do ponto
de vista tecnológico, cuja eficiência é reconhecida mundo afora e com todos os
atributos de uma economia aparentemente moderna, permanece na fronteira entre a
exploração geral e a exploração que tem cor, raça e, sobretudo, tem no
masculino a sua maior fonte de dominação.
O “dissociado” assim definido que, do ponto de vista do contexto
androcêntrico da forma coberto pelo valor, no limite leva ao consumo de certo
modo no vazio, aparece por isso, na teoria social masculina unidimensionalmente
relacionada com a reflexão do valor, como a-histórico, uma massa mole e
informe, tal como o feminino em geral na sociedade ocidental cristã, ao qual
não se consegue aceder com a análise da forma do valor. Pelo contrário, o
consumo de meios de produção utilizados na economia empresarial, como máquinas,
bens de investimento etc. não está relacionado com a dissociação; esses
mantêm-se espontaneamente no "universo masculino" do valor. (SCHOLZ,
2000)
Roswitha
Scholz nos mostra que a mulher é um elemento dissociado da vida social e
poderemos mostrar isto ainda mais nas condições em que se encontra a divisão do
trabalho no Brasil, os ganhos, as médias salariais, a empregabilidade das
mulheres em relação aos homens, a divisão das faixas de escolaridade, da raça,
da cor, que nos oferecerá um quadro que reafirmará as condições estruturais ao
mesmo tempo que lançará outros dados sobre a mesa a fim de que possamos
compreender o modo de exploração que atinge as mulheres em todos os níveis de
trabalho e atividades econômicas.
A
pesquisa que ora é apresentada tem como base de dados o CAGED, órgão vinculado
ao Ministério do Trabalho, que trata de recensear os dados que as empresas, com
seus trabalhadores em registro formal são alvo de cadastros regulares,
monitoramentos etc.
Referência Utilizada
SCHOLZ, Roswitha. O Sexo
do Capitalismo: Teorias Feministas e Metamorfose
Pós-Moderna do Patriarcado. [Excertos]. Original Das Geschlecht des Kapitalismus. Auszüge. In www.exit-online.org. Tradução de Boaventura Antunes.
Disponível em http://obeco-online.org,
acesso em 13 jan. 2019.
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