Perdidos no espaço
Estamos como astronautas vagando no interior de abstrações que
a modernidade capitalista foi capaz de construir em seu processo histórico. Estamos
perdidos no espaço como quem vive uma realidade flutuante. As nuvens parecem
ter mais substância que a terra. O palpável parece não existir, a materialidade
se tornou um mal. Tudo está flutuando, tudo é etéreo e tudo se desmancha. Mas parece
que é aí que a sociedade encontra seu refúgio, crê no que não tem qualquer
sustentação, como se tudo pudesse ser por si sem qualquer fundamento material. O
epifenômeno se apresenta e tem mais verdade que a terra que nos alimenta. Arrancamos
do mundo tudo que ele nos dá e como Platão queria, nós o desprezamos em favor
das nuvens. A sociedade da modernização capitalista é, sobretudo, platônica na
sua mais profunda condição, na construção de sua consciência fetichizada. Conseguimos
realizar o sonho de Platão, o mundo das ideias agora domina a consciência dos indivíduos
sociais. Basta ter boas ideias e infiltrá-las na consciência que esta se
tornará boa como as boas ideias – Platão, Descartes, Aquino, Kant, Hegel,
Heidegger, Sartre, Foucault, Gramsci, todos de mãozinhas dadas. Vencemos, agora
podemos nos considerar livres e felizes com o nosso multiculturalismo, as
máquinas nos darão tudo de que precisamos. A tecnologia irá nos salvar, fará a
revolução por nós e continuaremos felizes em nossas nuvens. Parabéns, no dia
dos mortos, estamos mais mortos que as próprias abstrações criadas por nós em
forma de um sistema cego e caótico.
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