segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Perdidos no Espaço

Perdidos no espaço



Estamos como astronautas vagando no interior de abstrações que a modernidade capitalista foi capaz de construir em seu processo histórico. Estamos perdidos no espaço como quem vive uma realidade flutuante. As nuvens parecem ter mais substância que a terra. O palpável parece não existir, a materialidade se tornou um mal. Tudo está flutuando, tudo é etéreo e tudo se desmancha. Mas parece que é aí que a sociedade encontra seu refúgio, crê no que não tem qualquer sustentação, como se tudo pudesse ser por si sem qualquer fundamento material. O epifenômeno se apresenta e tem mais verdade que a terra que nos alimenta. Arrancamos do mundo tudo que ele nos dá e como Platão queria, nós o desprezamos em favor das nuvens. A sociedade da modernização capitalista é, sobretudo, platônica na sua mais profunda condição, na construção de sua consciência fetichizada. Conseguimos realizar o sonho de Platão, o mundo das ideias agora domina a consciência dos indivíduos sociais. Basta ter boas ideias e infiltrá-las na consciência que esta se tornará boa como as boas ideias – Platão, Descartes, Aquino, Kant, Hegel, Heidegger, Sartre, Foucault, Gramsci, todos de mãozinhas dadas. Vencemos, agora podemos nos considerar livres e felizes com o nosso multiculturalismo, as máquinas nos darão tudo de que precisamos. A tecnologia irá nos salvar, fará a revolução por nós e continuaremos felizes em nossas nuvens. Parabéns, no dia dos mortos, estamos mais mortos que as próprias abstrações criadas por nós em forma de um sistema cego e caótico. 

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