Por Atanásio Mykonios
Uma mentalidade contra
presos, cuja alegação reside nas questões econômicas, a saber, de que um preso
é mais custoso que um aluno, levando a uma espécie de fascismo econômico contra
os pobres confinados nas cadeias brasileiras.
O discurso contra os
trabalhadores em geral, já desmobilizados pelo sindicalismo tacanho e omisso.
Esse discurso contra os
homossexuais, que atinge em cheio as liberdades e direitos individuais e
coletivos.
O discurso contra
movimentos sociais, que encarnam a precária condição social das massas
desvalidas.
Uma polícia pronta para
exercitar com ferocidade a sua condição de cão de guarda da sociedade escravagista.
Uma política
educacional que leva à eficiência mercadológica em todos os seus níveis de
aplicação.
No meu entendimento, o
eleitorado paulista votou em Alckmin não por Alckmin, mas contra o PT e contra
o resto do país. Em parte, na undécima hora, migraram os votos de Marina Silva
para Aécio, não por causa de Aécio, mas por causa do PT.
Os que me conhecem
sabem que eu, de modo sistemático tenho anulado meus votos desde a eleição de
2006 – não foi diferente nesta e não o será para o segundo turno. Não acredito
mais em voto útil nem acredito na escolha do “menos pior” ou na escolha contra
o fascismo ou coisa que o valha. Já estamos em plena barbárie do estado-nacional,
seja ele comandado por qualquer uma das correntes que se arvoram ao poder.
Pode também parecer que
esta pequena reflexão seja uma defesa dos governos do PT e seus aliados desde
2002. Seria demais me estender nas mazelas que foram cometidas pelo PT e pelo
lulismo desde a chegada ao poder central-nacional. Suas alianças foram uma
vergonha para a política e para a esquerda em geral. Parte da esquerda foi
tragada por esse mecanismo sórdido burocraticamente articulado para dar
continuidade à governabilidade perpetrada pelo PT.
A corrupção petista não
foi diferente da cometida por outros grupos políticos. O aparelhamento das
estruturas do Estado seguiu a velha cartilha gramsciana de controle hegemônico das
estruturas de poder.
Os quadros petistas
engordaram e aumentaram suas áreas de influência sobre setores da sociedade
como sindicatos, partidos menores, movimentos sociais e organizações não
governamentais. O lulismo soube separar problema social de ganho econômico. Tratou
a pobreza como política social (incluindo aí as organizações não governamentais,
os psicológicos, as polícias, as igrejas, etc., enquanto a economia caminhava incólume
com a própria logica do capital).
No entanto, os
ignorantes e acéfalos que vociferam tantas idiotices contra as esquerdas e
contra as forças que comandam o Estado-nacional brasileiro, deveriam se dar
conta de que o PT não abriu mão, sequer por um instante, do capitalismo que
vige entre nós e no mundo inteiro.
A lógica capitalista
está também no modo como o Estado-nacional brasileiro guiou e articulou as
ações de políticas sociais que beneficiaram materialmente uma parcela
significativa da sociedade. Não houve revolução, não houve redistribuição de
renda dos mais ricos para os mais pobres. O capitalismo do PT e do lulismo foi
uma alavanca inteligente em que propiciou a que parte deste capitalismo de
desenvolvimento interno garantisse o crescimento interno, ampliando o mercado
por meio de uma vasta cadeia de produtores, que gerou condições gerais de robustez
de uma parte dos produtores internos e externos. Nada mais do que a ampliação
de um mercado interno, mesmo que aos olhos das classes mais abastadas isto
signifique uma espécie de revolução cabocla, para inserir no modo de produção e
exploração os que já são explorados.
O que guindou o PT a
esta ação histórica se deve a muitos fatores. De minha parte eu considero que o
Estado-nacional não deixou de ser o braço jurídico e armado do próprio capital,
interno e externo, produtivo e financeiro. Mas, caminhou para fazer ascender um
contingente populacional que estava, no meu entendimento, lançado à própria sorte.
E por quê?
Porque a escória social
e indigente está por toda parte. O capitalismo não necessita do trabalho vivo
dessa massa imberbe. Necessita de que compre mercadorias. É uma massa que, de
alguma forma, está na zona do rebaixamento humano, irrecuperável. Mas, se
considerarmos a fábrica social do valor, ou, dito de outro modo, o sistema
social de produção de valor, o PT não fez nada mais que ampliar a exploração do
capital de modo mais qualificado.
Essa massa, agora, está
no mercado, passiva ou ativamente. No capitalismo, até mesmo a indigência é um
elemento de exploração do sistema social do valor – quer dizer que a miséria também
é um alvo duplo do capital, primeiro porque é um sintoma da estupidez da
exploração do tempo excedente de trabalho socialmente necessário para a
produção de mercadorias e, por outro lado, é alvo do capitalismo social que
avança sobre essa forma social – a miséria, para dar aos produtores mais fôlego
de produção e para que as massas não se sintam desamparadas totalmente.
Ou seja, os pobres
derivados do capitalismo, no próprio capitalismo, não têm alternativas. Ou são
sustentados ou são eliminados.
Então, qual o recado
que o eleitorado paulista deu a uma parte do Brasil?
Ele não quer mais
prosseguir com essa estratégia de alavancar a pobreza com os instrumentos do próprio
capitalismo. Quer fazer com que as leis que regem livremente o mercado sejam
aplicadas aos pobres porque este eleitorado faz parte do Estado da federação
onde essas leis foram aplicadas em sua radicalidade. A riqueza do Estado de São
Paulo se deve, no entendimento deste eleitorado, ao próprio esforço liberal da
livre concorrência entre empresas e trabalhadores e entre trabalhadores em
geral.
A máxima da ideologia
do capital, que implica levar às últimas consequências a sua própria contradição,
revela aqui, neste pleito, um caráter selvagem e destrutivo. Em outras palavras,
trata-se de um recado segregacionista. Isto é, a economia política mostra a sua
condição em que, de alguma forma, se alia a identidades regionais que se
ampliam para identidades religiosas e étnicas. De certa forma, a impressão que
tenho é de que os paulistas de fato se sentem superiores ao resto do país.
O PT de Dilma não mudou
uma vírgula no cenário que se avizinha quanto à da crise global do capital,
um cenário que, diga-se, será catastrófico em vários aspectos. O PT não diz o
que fará. O PSDB já tem em sua prática o que fará.