Atanásio Mykonios
Quanta saudade!
A arte é filha da liberdade. O artista deve assumir seu ser no mundo, lançando-o para que o mundo receba o que ele tem a oferecer. Talvez, por isso, é que tantos se sentem atraídos pela arte, talvez pela imensa possibilidade que ela nos dá – a liberdade pulsa pela arte e seu fundamento é criação.
Seu olhar, sua história, sua miséria, a arte revela-nos o que somos por nós mesmos. O mundo se refaz e sobre o mundo outros mundos são criados pela arte. Ela não é uma manifestação espiritual, é a instância suprema da existência humana, a ânsia da liberdade absoluta e o gesto angustiado da criação que bate à porta dos seres humanos para lhes manifestar que não veem nem sentem.
Alguns artistas absorvem o mundo em sua criação. Outros percebem com sofreguidão as agruras do mundo, anteveem o fim de um mundo e o começo de outro. Alguns se retiram do mundo e da sociedade quando intuem que não haverá mais lugar para eles. A obra de arte contém a história e a sensibilidade humana, não menos atenta aos problemas e à riqueza da cultura.
Mas poucos são os artistas que realmente mergulham na consciência da arte e da liberdade. Poucos são os que assumem visceralmente a arte a ponto de se entregarem a ela e aos seres humanos. Poucos foram os que, como Elis Regina, foram consumidos e consumados pela sua própria arte.
Ela nos deu um facho de luz, nos colocou em rota de colisão com a emoção que a arte nos oferece. Trágica, interpretou o mundo com seus olhos e os deu para que pudéssemos vê-lo por dentro de sua consciência. A inquietude foi sua marca, transpirada pelo olhar brilhante e certeiro.
Obrigado Elis.
Por aqui, a vida está muito chata! A música e a poesia estão mais pobres. A metáfora parece que deixou de existir. Descrevemos fatos e emoções, mas não sabemos criar pontes. Queimamos todas as nossas pontes, porque o mercado é quem manda na arte, até para além e aquém da indústria cultural.
Por aqui, o bêbado e a equilibrista estão nos subsolos das grandes cidades. Como os nossos pais, pouca coisa mudou e pouco pudemos viver. As prisões estão cada vez mais lotadas. Os pobres e seus gritos ecoam por toda parte. Pinheirinho é o símbolo de uma sociedade marcada pela indiferença da produção de mercadorias.
Seu sorriso me faz falta. Sua voz imensa e profunda, larga e oceânica me cobre o corpo e as lágrimas se misturam à saudade.
Vida e obra, morte e arte. Elis, uma estrela que ainda brilha na arte. Não importa o tempo, a ausência é sentida!
Fala Greco... como está?
ResponderExcluirBobagem perguntar, pelo que leio em seus textos, continua o eterno Atanasio. Deve com certeza estar passando pelas angustias e melancolias de toda nossa existência, que sempre achei, você parece tentar sentí-la com mais vontade. Aquela de Schopenhauer... acho.
Mas por favor, mande notícias.. tentei fazer contato pelo face... deve dar certo... de qualquer modo, tô aparecendo por aqui também.... achei muito legal o texto de Elis... to "chupinhando" para o blog do Plebeu... com as devidas referências, é lógico.... grande beijo no coração e na mente.... Rosenil.
Causando grande comoção nacional, faleceu aos 36 anos de idade em 19 de janeiro de 1982,22 devido a complicações decorrentes de uma overdose de cocaína, e bebida alcoólica. O laudo médico foi elaborado por José Luiz Lourenço e Chibly Hadad, sendo o diretor do IML Harry Shibata, médico conhecido por seu envolvimento no caso do jornalista Vladimir Herzog, assassinado por elementos da ditadura militar. Elis encontra-se sepultada no Cemitério do Morumbi em São Paulo.
ResponderExcluirEla poderia ter feito melhor