terça-feira, 22 de dezembro de 2020

A síntese do poder no Brasil

 Por Atanásio Mykonios

 

A burguesia brasileira é realmente estranha. Ela parece ser feita de uma mentalidade, ao mesmo tempo, semelhante à de todas as burguesias, mas também é única. Seu capitalismo praticado, em grande medida, parece negar o capitalismo. É difícil entender o jogo e as estratégias dessa classe. Ela parece manter na mais absoluta dependência econômica, mas isso também não explica tudo. Ela também mantém o Brasil autossuficiente, do ponto de vista das relações de produção e exploração. Explico. Para aquilo a que se propõe produzir e trocar, parece bastar o quinhão que sempre lhe coube. Estrangular a classe trabalhadora, com a extração do excedente, jogá-lo no mercado da rede de bancos e também delegar aos bancos parte do poder. É bem verdade que toda burguesia é apátrida, suga tudo que pode, a qualquer momento, sob quaisquer circunstâncias, onde quer que esteja. A brasileira é a que consegue exercer o maior poder sobre a classe trabalhadora pelo mundo afora. É por isso que sua estratégia é de extermínio da classe trabalhadora, mantida, no interior do território, como se estivesse num imenso campo de concentração. A criação de mais valor, aqui, é a custa de uma guerra campal contra os trabalhadores. Por isso não importa a essa burguesia avançar socialmente, avançar para relações mínimas de contenção de poder ou minimizar os efeitos do massacre sobre trabalhadores negros, mulheres, minorias etc. Ela quer o poder absoluto e o exerce sem medo ou piedade. É preciso compreender que essa classe é a expressão que mais se aproxima da perfeição, capaz de juntar a eficiência do modo escravista de produção e seus métodos de violência material em último grau e o modo capitalista, com suas nuances e firulas tecnocráticas. A burguesia brasileira é a síntese de que é possível a prática do capitalismo selvagem e sua convivência com países cujas engenharias sociais são menos predatórias ou, diria, com um traço menos genocida. A revolução que aqui vier a ocorrer, será um marco na história da luta de classes pelo mundo.

 

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Os apóstolos da Educação

Por Atanásio Mykonios


 
A gente luta pra defender a "Educação". A gente luta pra defender o "Ensino público de qualidade e gratuito", a gente luta pra defender a "Universidade", a gente luta pra defender os "Pobres na Educação". E não conseguimos defender a nós na Educação como trabalhadores. Nós parecemos apóstolos da Educação. Mas parece termos vergonha de lutarmos como trabalhadores. A gente defende essas coisas em abstrato, mas não sabe lutar como classe explorada. A subjetividade transformar essas causas em lutas totalmente vazias e com isso a gente acredita que pode conquistar as pessoas para defenderem a "Educação", o "Ensino", a "Universidade", os "Pobres". Tudo vira utopia, tudo vira esperança, tudo vira música, tudo vira meme. Por dentro, a gente só pode enfrentar quem nos explora, reconhecendo a identidade de trabalhadores da Educação. O trabalhador vive concretamente os problemas, na pele, no preço da comida, do aluguel, das condições reais da sua vida. Na universidade, a gente não se considera trabalhador, não fala disto, não se organiza como tal. A vergonha é tanta que a gente fica lutando por dentro, contra a destruição da "Instituição", de novo, de forma abstrata, mas a gente não se levanta como trabalhadores que ainda somos. Congelam salários, reduzem o que temos, ameaçam etc., e a gente só discute o que o reitor faz e como ele tá destruindo a "Universidade". O terrível é dizer isso pros "Colegas" e todo mundo fazer cara de paisagem.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

A ciência nunca será abandonada pelo Capital

 Por Atanásio Mykonios




        A destruição do sistema de saúde não é causada por um psicopata ou pelo seu governo composto por topeiras. É a burguesia que se aproveita desse psicopata e de seu governo para impor os interesses do Capital. Acusar o psicopata de que é um energúmeno negacionista, não passa de ingenuidade. O Capital nunca pode prescindir da ciência. A forma material com que o Capital realiza seu objetivo é a ciência. Ao transformar tudo na forma mercadoria, ele o faz cientificamente. Ao substituir ações estatais ou semi-estatais por atos privados, coloca no seu lugar o mecanismo de exploração direta, mas não deixa de utilizar a ciência. A diferença é que será utilizada na forma mais acaba de troca de valor.