quarta-feira, 25 de setembro de 2019

Da venda ao gerente

Por Atanásio Mykonios


          A ONU não é nem nunca foi exemplo a ser seguido. Não tem poder real. Suas assembleias sobre temas globais nunca avançam. Quando se trata de clima, os avanços são pífios. Quando o problema é conflito entre países, a guerra fala mais alto. Na economia, a ONU é a expressão da impotência frente às corporações e o sistema financeiro. Os documentos emitidos pela ONU sobre fome, educação, saúde etc., têm relevância secundária. Os discursos de líderes e presidentes têm um caráter de verniz meio aristocrático. As pessoas, no seu cotidiano, pouco ficam atentas à ONU. A repercussão de um discurso da ordem de um Bolsonaro tem a dimensão de sua estatura cognitiva. Se o mundo associa seu discurso aos brasileiros em geral, isto é difícil de mensurar, se o discurso tem a função de apresentar o Brasil, como um projeto político e econômico, talvez o mundo leve a sério esse intento. Se o discurso de Bolsonaro representa o Brasil e o mundo assim considera, talvez a visão leve em conta que somos atrasados, mas isso pode afetar os negócios? Não sei. O mundo faz negócios com a Arábia Saudita que tem uma família real assassina e não reclama disso. O mundo faz negócios com países cujos governos são facínoras e nada muda. O mundo também realiza muitos negócios com Israel, mesmo sabendo que se trata de um governo genocida. Daí eu não ficar tão mobilizado com o discurso de alguém que logo após a posse, em Davos, fez a mesma coisa, apresentou um país a ser vendido. Na ONU, o que mudou, no meu entendimento, foi que Bolsonaro não vendeu nada, disse o que vai fazer para vender do jeito que o governo quiser.

sexta-feira, 6 de setembro de 2019

As lutas

        Por Atanásio Mykonios
 
 
             No capitalismo vivemos lutas constantes. A primeira luta é a econômica, sob a qual nós temos de enfrentar o poder e encontrar a melhor adequação à exploração, diminuí-la no que for possível ou fugir a ela saindo do capitalismo. Nesta luta, nós, ao menos no Brasil, estamos perdendo feio, nós os trabalhadores. Em seguida, perdemos feio a luta política, não tivemos condições para nos defender até mesmo dentro do sistema, agora tentamos encontrar forças para organizar estratégias sociais e políticas para retomarmos algum papel nesse processo. Por fim, parece ter restado a luta legal ou jurídica. Nesta, estamos sendo de fato perseguidos e agora com muito medo. A última luta que é a das leis leva a sociedade ao fascismo, como um mecanismo de destruição civilizadora. É nesta última fronteira das lutas – a jurídica – que se trava o fim de um processo, pois neste, vivemos patinando e passivamente tentamos encontrar alguma forma de reorganização. Cassados, vigiados, processados, ameaçados de demissões e prisões, a luta jurídica é o termo final dessa luta de classes. No entanto, ao perder a luta econômica e a política, nós não temos a quem recorrer.