Por Atanásio Mykonios
A ONU não é nem nunca foi exemplo a ser
seguido. Não tem poder real. Suas assembleias sobre temas globais nunca
avançam. Quando se trata de clima, os avanços são pífios. Quando o
problema é conflito entre países, a guerra fala mais alto. Na economia, a
ONU é a expressão da impotência frente às corporações e o sistema
financeiro. Os documentos emitidos pela ONU sobre fome, educação, saúde
etc., têm relevância secundária. Os discursos de líderes e presidentes
têm um caráter de verniz meio aristocrático. As pessoas, no seu
cotidiano, pouco ficam atentas à ONU. A repercussão de um discurso da
ordem de um Bolsonaro tem a dimensão de sua estatura cognitiva. Se o
mundo associa seu discurso aos brasileiros em geral, isto é difícil de
mensurar, se o discurso tem a função de apresentar o Brasil, como um
projeto político e econômico, talvez o mundo leve a sério esse intento.
Se o discurso de Bolsonaro representa o Brasil e o mundo assim
considera, talvez a visão leve em conta que somos atrasados, mas isso
pode afetar os negócios? Não sei. O mundo faz negócios com a Arábia
Saudita que tem uma família real assassina e não reclama disso. O mundo
faz negócios com países cujos governos são facínoras e nada muda. O mundo também realiza muitos negócios com Israel, mesmo sabendo que se trata de
um governo genocida. Daí eu não ficar tão mobilizado com o discurso de
alguém que logo após a posse, em Davos, fez a mesma coisa, apresentou um
país a ser vendido. Na ONU, o que mudou, no meu entendimento, foi que
Bolsonaro não vendeu nada, disse o que vai fazer para vender do jeito
que o governo quiser.