domingo, 27 de setembro de 2015

O processo de produção e a transformação das famílias

Por Atanásio Mykonios


À medida que os processos de produção se transformaram nos últimos trinta anos. À medida que as forças de produção criam uma fragmentação dos tempos sociais. À medida que esse processo afeta a organização social na sua totalidade, como a força de trabalho, esfacelando-a em migalhas de tempos diversos, com ocupações das mais diversas, ocorre que o tempo da sociedade industrial - o tempo da fábrica - é substituído por tempos que afetam também a organização da família, da educação, do Estado, etc.

São os tempos de novas formas de produção, em que a maioria não se encontra mais na indústria de transformação direta. A maioria está em outros setores, com tempos de trabalhos também diferentes e fragmentados.

Aquela família nuclear que foi instituída ao longo do processo da primeira e segunda revoluções industriais do capital, tinha sentido para aquela determinação histórica. Famílias nucleares, que contavam com alguma segurança estrutural na era fordista, principalmente, foram consolidadas nesse período. Essa forma de organização familiar perde seu estatuto à medida que a transformação da produção implica a mudança dos tempos e das formas de família.

Além disto, o papel monogâmico imposto historicamente à mulher começa a perder seu condicionamento devido à transformação desse processo de produção. Assim é que as interposições familiares ganham espaço em todos os quadrantes da sociedade capitalista. É a mudança interna que influencia as estruturas familiares.

Dessa forma, o que as religiões exigem, até mesmo do ponto de vista legal, ou seja, a preservação de uma família nuclear aos moldes do passado será impossível. Seria necessário, para tanto, que a própria sociedade capitalista (defendida por esses religiosos) parasse no tempo ou que voltasse aos moldes de produção anteriores. Impossível!

É preciso entender que essa tentativa de restringir a família a um núcleo heterossexual nada mais é que uma tremenda ilusão, uma imensa energia gasta cujo resultado será apenas o controle esquizofrênico de grupos religiosos sobre a sociedade. Mas eles não serão capazes de alterar uma vírgula no que o capitalismo provoca: a constante transformação das forças produtivas que implicam a mudança da organização social.

Quem não entende esse processo histórico, fica desfraldando discursos e bandeiras sem qualquer conteúdo.

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Migração?

Por Atanásio Mykonios



As palavras são portadoras de significados. Não há neutralidade nelas. Elas expressam a construção de um processo de poder e de luta pelo poder. Em tempos de manipulação de opiniões públicas, elas são minuciosamente conduzidas para refletirem a vontade de grupos de poder.

Os meios de comunicação são especialistas em distorcer a realidade em favor de interesses políticos e econômicos.

O que a Europa está vivendo não é uma crise de migração (ou imigração), mas é uma crise de REFUGIADOS. Milhões estão fugindo à guerra para não serem mortos. O refugiado tem uma condição em que busca exílio político contra a perseguição contra si e sua família.

Ao eliminar esse termo e substituí-lo por Migrações, quer-se tornar o problema um problema pessoal, de escolha das pessoas que querem mudar de vida entrando em outro país para melhorar a sua condição de vida.

Assim, coloca-se sobre os ombros dessas populações perseguidas uma ideia distorcida de que desejam invadir outra cultura para dela se apropriar com o tempo.

Não é o caso! Os refugiados são uma realidade que expressa a destruição, a guerra, a perseguição. Em outas palavras, são vítimas e não algozes da cultura ocidental e também da cultura oriental.

Hoje há mais de 4 milhões de refugiados somente no Oriente Médio. Jordânia, Líbano, Turquia, têm no interior de suas fronteiras milhões de desterrados pela guerra.

O ponto que deve sofrer uma crítica radical, entre tantos pontos, é que se tratarmos essas vítimas como simples migrantes, estaremos cometendo uma barbárie cujo princípio está na manipulação dos termos que passam a ser consagrados pelos meios de comunicação e nós ao repeti-los, somos massa dessa manobra política.


Os racistas, xenofóbicos, escravagistas e outras aberrações se atêm à distorção dos termos para legitimarem suas posições contra refugiados e toda espécie de perseguidos. 

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

PARTIDO NOVO E PARTIDO VELHO: Há semelhanças?

Por Atanásio Mykonios



Nesta semana, o TSE aprovou a inscrição do partido político de nome NOVO. De “Novo”, não parece ter quase nada. A não ser o fato de que surge numa contexto histórico marcado pela emergência de grupos despolitizados, grupos que, ao que parece, passam a figurar nas fileiras da institucionalização. É mais um dos partidos, que recebe o No. 30. Emblemático? Talvez!

O mais interessante é que a lista de fundadores do partido é composta por administradores, engenheiros, economistas, empresários, estudantes, médicos, psicólogos, advogados. A pessoa mais conhecida figura em penúltimo lugar na lista, o número 180 pertence a Tamy Duarte Macedo, cantora, domiciliada no Rio de Janeiro. Mas ao que tudo indica que ela se filiou ao PP, nas últimas semanas.

De qualquer forma, a sua base de criação parece não ter nenhum apelo a não ser a experiência no campo empresarial e liberal da maioria de seus fundadores. Ou imaginam que terão sucesso convencendo os eleitores de que bastam boas intenções e experiência administrativa para gerir o Estado com suas empresas ou, o que também não deve ser descartado, trata-se de mais um partido de fachada.

Em seu Estatuto, especialmente no Artigo 2º, podemos observar a pérola dos objetivos do Partido NOVO, a saber:

ESTATUTO DO PARTIDO NOVO
TÍTULO I - DEFINIÇÃO, SEDE, OBJETIVO E SÍMBOLO

"Art. 2.º - O NOVO tem como objetivo zelar pelo cumprimento da Constituição Federal, defender os direitos fundamentais nela garantidos, assegurar a autenticidade do sistema representativo, defender a democracia e as instituições a ela inerentes, contribuir para o desenvolvimento sócio-econômico sustentável, zelar pelo respeito à liberdade de expressão, defender os princípios republicanos de respeito à coisa pública e ao bem comum, buscar a eficiência e qualidade na gestão pública, arregimentar filiados com identidade de objetivos, e concorrer a eleições para a composição do Poder Executivo e do Poder Legislativo, municipais, estaduais e federais, com candidatos próprios ou em coligação partidária."

“respeito à coisa pública” e “ao bem comum”; “buscar a eficiência e qualidade na gestão pública”, “zelar pelo cumprimento da Constituição Federal”; “assegurar a autenticidade do sistema representativo”. Estas são afirmações que, num primeiro momento, podem soar como democráticas, efetivas do estado de direito. Mas por serem excessivamente genéricas, podem conter um duplo caráter em seu conteúdo. De um lado, uma forte tendência ao estatismo, um partido voltado apenas para atender as necessidades da “coisa pública”. Mas a segunda interpretação pode ser ainda mais terrível. 

Uma vez que apresenta generalidades, tudo pode caber nelas. Não há nenhuma consideração acerca de sua base teórica, histórica ou, quiçá, ideológica. Continua a sua generalização ao afirmar que deseja “contribuir para o desenvolvimento sócio-econômico”, de tal sorte que esta afirmação é tão ampla que por desenvolvimento sócio-econômico pode implicar qualquer condição e prática. Me parece que uma afirmação colocada no interior do artigo parece ser mais um compromisso com os meios de comunicação do que com a liberdade de expressão, ao afirmar que deseja “zelar pelo respeito à liberdade de expressão”.  

Enfim, um projeto político que em suas palavras tanto pode ser uma social democracia, um partido ruralista, um partido da imprensa golpista ou qualquer outra coisa, inclusive um partido eminentemente intervencionista, de cunho burocrático e formalmente composto por gestores sem qualquer politização, a não ser a politização dos gestores em favor do sistema econômico. Parece não ter nenhuma pretensão a não ser “o bem comum”, o que, como despretensioso, este partido é mais um embuste que procura escamotear ou omitir as suas reais intenções.

Só para lembrar, em 1920 o Partido Nacional-Socialista Alemão publicou seu programa com 25 pontos. Alguns deles estão ainda disseminados pelos estatutos de diversos partidos. Mas para começar, no ponto 24, ao seu final, lê-se em letra garrafais: “BEM COMUM ANTES DO BEM INDIVIDUAL.”

No ponto 9, lê-se: “9. Todos os cidadãos devem possuir iguais direitos e deveres.” Além disto, no ponto 11, encontramos a seguinte pérola:
“11. Que toda renda não merecida, e toda renda que não venha de trabalho, seja abolida. Quebrando as Algemas do Interesse.”

Pois é... de alguma forma, sempre há que podemos encontrar semelhanças, até entre os partidos de esquerda e os 25 pontos do Partido Nazi.

E há mais, pontos interessantes que nos remetem a uma confusão de ideologias e posicionamentos. Será que essa turma de hoje é fascista ou nazista?

“24. Nós exigimos liberdade para todas os credos religiosos no estado, à medida que eles não coloquem em risco a existência ou ofendam a moral e senso ético da raça germânica.
O Partido como tal representa o ponto-de-vista de um cristianismo positivo sem ligar-se a qualquer credo particular. Ele luta contra o espírito judaico materialista internamente e externamente, e está convencido de que uma recuperação duradoura do nosso povo só pode vir de dentro, sobre o princípio: BEM COMUM ANTES DO BEM INDIVIDUAL.

É bem verdade que os 25 pontos são agressivos e apontam para um contexto de destruição da Alemanha, mas não podemos olvidar a sua importância e quiçá a sua influência em dias atuais.


Quais as semelhanças?