sábado, 5 de novembro de 2011

Submissão dos povos à racionalidade indiferente do capital

Atanásio Mykonios


No atual estágio do capital global, é possível culpabilizar um povo inteiro pela dívida que seu governo contrai? Será possível criminalizar os cidadãos pelo fracasso social do capitalismo em não mais gerar o valor substancial necessário para cobrir os hiatos de sua expansão? Será então que os bancos e o sistema financeiro podem ser considerados como outra espécie do capitalismo, talvez mais nobre, mais evoluída, mais sensata?
Não que o governo seja vítima dessa situação. Ou de todas as situações impostas pelo capitalismo. O fato é que esse sistema está em crise e obviamente seu processo revela a decadência lenta em que experimenta o fim de uma era histórica em que um modo de civilização foi determinado e que, rapidamente sairá de cena.
Ângela Merkel e Sarcozi deram um ultimato ao povo grego, submeteram-no à humilhação de não decidir acerca das propostas e ele oferecidas. Não há tempo para discussões. Os povos deixaram de ser donos de seu próprio destino. As ordens financeiras, a lógica do sistema deve prevalecer sobre toda e qualquer vontade social ou política. Sua racionalidade está acima das volições humanas e sociais.
É emblemático o que ocorre com os gregos. O esgarçar das relações e instituições pode ser um sinal limítrofe entre a barbárie e a superação.
Porém, não há espaço para tergiversar! É preciso prosseguir com a cirurgia do mercado em favor dele mesmo. A sociedade produtora de mercadorias deve ser um fim em si mesmo. A tautologia social assume a condução dos povos. Surge, dessa forma, a ditadura escancarada da sociedade que produz valor sobre valor, manietando as pessoas e sua vida.
TODOS PODEM PROMOVER A DEMOCRACIA, ESTABELECER INSTITUIÇÕES, REAVIVAR DIREITOS, GARANTIR O VOTO! Mas não se pode colocar em risco o próprio sistema capitalista. Ele é a existência própria dos sujeitos sociais, nada pode estar acima, nem mesmo os povos, as culturas, a sociedade, nada pode se contrapor a ela.
Dessa forma, o capitalismo começa a mostrar sua real face. Autoritária, anti-social. O processo humano não mais será considerado (nunca o foi). O Estado parece ser, atualmente, o sócio majoritário do capital, dita as ordens. regula o trânsito das mercadorias, submete os indivíduos. É ele quem deve fazê-lo, em nome da segurança do sistema, é ele quem tem a força, o ordenamento jurídico para garantir que nada saia do planejamento.
A tecnocracia se encarrega das formalidades, encaminha as soluções e determina as condições em que devem ser impostas. Como um carrasco frio e impessoal, a tecnocracia é o braço de ferro do capitalismo. Se for possível, usará a força, que submete os sujeitos em sua revolta, novamente em nome da racionalidade. Os povos são condenados à sua própria pena de morte, não podem ser consultados, não devem ser consultados!
A política passa a ser um empecilho para as decisões de grande porte! Parlamentos e congressos devem se submeter à objetividade da sociedade produtora de valor. Se for preciso, criminalizam-se os devedores. O Estado gerencia as condições de realização da rotina. Tudo deve voltar ao normal. Os mais fracos deverão obedecer ou sucumbir. Os mais fortes ditarão as quantias a serem pagas.
Os bancos precisam garantir o crédito. Este é o ponto! Não há mais como produz valor pela produtividade industrial, é preciso lançar o crédito para frente, comprometer o trabalho futuro de toda a sociedade e dos governos.
É o princípio do fim.