Por Atanásio Mykonios
Cuide das pessoas, preocupe-se com elas, especialmente com
seus amigos. Não os faça esperar tanto tempo, tenha sempre um gesto de carinho,
pergunte, mande um recado, cuide deles, mas também de todos que estão com você.
Seus amigos são seu maior tesouro. Não pense que eles
estarão sempre ali, só porque alguém disse que amigos são para sempre. Não pense
que seus problemas são tão significativos que o mundo e os seus amigos podem
esperar. A presença é muito importante, sempre. Esteja presente.
Não se desculpe tanto, não encontre tantas justificativas para
fazer o que tem de ser feito. Se alguém se preocupa com você, se alguém lhe
oferece ajuda, aceite, aprenda a ser humilde.
Mas não procure seus amigos ou as pessoas só quando precisa
delas. Não seja fingido ou falso, com supostas preocupações quando o que quer
mesmo é que eles ajudem você.
Não os faça crer que eles não são importantes para você, ou
que apenas eles os são quando você quer que sejam. Não transmita a noção de que
você é tão forte e independente que não precisa de seus amigos.
Não seja daqueles que todos têm de girar ao seu redor para
que possam vê-lo e acarinhá-lo, você é mais um como todos nós. Não deixe o
tempo passar por causa de suas desculpas, seja mais atencioso, mais
compreensivo, aprenda a dizer que ama as pessoas.
Não fale tanto apenas de você e de seus problemas, o mundo
não está tão interessado neles. Afinal, você não é tão interessante quanto
imagina e não pense que o mundo gira à sua volta, na verdade, esse é um
processo de relação contínua. Você está no mundo, então procure compreender
como você está no mundo e como pode estar nele a partir de você.
Pare de se preocupar apenas com você e com o seu imediato. Pare
de mostrar ao mundo que você é uma pessoa maravilhosa, sem erros ou defeitos, e
que o mundo e as pessoas é que estão erradas a seu respeito.
Não se sinta tão valorizado a ponto de criar um tribunal de acusação
contra todos que rodeiam a sua vida social. Não crie a paranoia de que todos
são suspeitos. Entenda que você também é um problema para os outros.
Suas verdades não são as únicas que estão no mundo, saiba
que a verdade do mundo é bem outra. E que entre a sua verdade, a verdade do
mundo e as verdades que estão por aí, há um longo caminho a percorrer. Não defenda
tanto suas pequenas verdades como se elas fossem dizer o que o mundo não sabe a
seu respeito.
Não tenha medo das pessoas e de ter de recomeçar quantas vezes
forem necessárias.
Sua arrogância aparentemente lhe é útil, mas isso não passa
de uma grande ilusão. Você sabe de quantas ilusões você é feito.
Não finja que não precisa das pessoas e dos seus amigos. Você
não é tão autossuficiente quanto supõe ser. É bem o contrário, você só é o que
é graças a todos que estão, estiveram e estarão na sua vida.
Estenda a mão não só a quem precisa, mas estenda a mão
sempre. Olhe nos olhos, aperte a mão das pessoas, aprenda a ouvir antes de
falar.
Cuide e dê o que você tem de melhor para as pessoas. Não guarde
para você o que lhe foi dado gratuitamente. Cada um dá o que tem de melhor. Se você
não tem nada a oferecer, então encontre algo. A felicidade só existirá quando
você der aos outros o que sabe e tem de melhor.
Não prometa o que não pode cumprir. Não saia dizendo o que
quer fazer, mas não o fará jamais. Não espere que os outros façam o que você mesmo
não é capaz de fazer. Não diga aos outros o que têm de fazer se você mesmo não
o faria.
Não se arvore à coragem que não tem. Não se esconda atrás
dos computadores, não seja corajoso com as palavras, não prove nada a você nem
a ninguém.
Mas por outro lado, não seja indiferente à dor que está por
todos os lados. Não finja que não existem problemas à sua volta. Não finja que
isso não lhe diz respeito. Não finja a felicidade tão intensa em um mundo em
escombros e ruínas.
Não diga nada quando não sabe.
Seja generoso, compreensivo, aprenda a enxergar a realidade
para além da sua própria realidade. Aprenda a perdoar, porque um dos grandes
avanços na história da humanidade foi o perdão e hoje estamos em um mundo em
que a última coisa a ser pensada é o perdão.
Somos uma sociedade da punição, na perseguição, do medo, da
indiferença, do ódio.
Não seja tão egoísta e nem tanto quanto forem os que o
rodeiam. Não queira ser tão igual aos outros, nem sempre isso é sinônimo de
identidade ou de segurança psicológica ou mesmo de pertencimento.
Não se convença de que você é tão livre quanto seu desejo
quer nem tão escravo quanto o sistema assim o ensina.
Não tenha medo da pobreza, tenha medo de uma sociedade que
provoca deliberadamente a pobreza. Não se agarre ao que você tem com tanto
afinco a ponto de legitimar a exploração, a segregação, o fosso social que o
separa do resto do mundo. Não tenha orgulho dos seus pertences.
Não se agarre com unhas e dentes ao que você conquistou,
porque isso é resultado de um processo e você está nele.
Não seja tão alienado do mundo onde você mesmo vive. Não acredite
tanto no que vê e escuta. Aprenda a ter olhos de um crítico, adquira mais consciência
social e histórica.
Não insista em sua preguiça intelectual. Não é porque o
mundo está pronto para você usá-lo e usufruí-lo que não há mais nada a ser
feito.
Não se irrite com aqueles que sabem mais que você, ou que
leram mais, ou que refletem mais, ou que têm um senso crítico e de justiça que você
não tem. Aprenda que o conhecimento é um processo também doloroso e que não é
um piquenique. Não viva na crença de palavras soltas ou de afirmações que caem
do céu.
Não seja tão ingênuo nem tão infantilizado para que tudo
esteja sempre à sua disposição.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado pelo seu comentário