domingo, 19 de janeiro de 2020

Agora é a farsa

Por Atanásio Mykonios


          Eu penso que veremos isso aumentar. Será preciso que essas forças cresçam ainda mais e nos coloquem encurralados para que o confronto ocorra. Enquanto continuarmos a abrir mão da nossa capacidade, como trabalhadores, de criarmos a solidariedade, seremos esmagados. Seremos esmagados pelos fascistas e pelo capital. Agora estamos sendo atacados por todos os lados. Não nos enganemos, o momento do confronto está chegando e só depois do confronto é que saberemos quem prevalecerá. Pois essa turma da pesada que está aí não vai parar. Nem a turma que dá as cartas na economia nem os sanguinários fascistas. Essa turma quer o confronto e nós não. Mas teremos de ir.

          As duas forças são de um lado o Guedes e de outro o Bolsonaro. Ambas as partes estão entrelaçadas. Para os capitalistas, a meu juízo, não faz muita diferença que essas forças estejam juntas, a burguesia é apátrida. Nós é que ficamos com a ilusão de que os capitalistas darão um jeitinho na sanha fascista do Bolsonaro. Penso que para ela, tanto faz.

A individuação cidadã


“E, como se trata de um sistema econômico totalizante, que não rege apenas a produção de bens, mas também a própria produção de força de trabalho, tendendo, portanto a desenvolver extensiva e intensivamente até abranger a globalidade da sociedade, a individualização dos trabalhadores encontra-se reproduzida na individualização dos cidadãos. A nação ideal se firmaria no relacionamento de cada cidadão com as instituições políticas e só esta prévia subordinação à autoridade inspiraria cada um a relacionar-se com os outros. O povo, para esses tipos de concepções e de práticas, não é uma teia de solidariedade, mas uma adição de unidades individualizadas. E assim se passou da velha definição do cidadão como animal social à sua definição como ser psicológico, em função precisamente daquele aspecto que opõe cada um aos restantes. Se na cidade grega todo animal social podia vir a ser um dirigente político, na nação contemporânea cada ente psicológico é potencialmente um ente patológico. É este o estágio último da individuação.”

João Bernardo, em Economia dos conflitos sociais, na página 335.

domingo, 12 de janeiro de 2020

SUFOCAR O ENSINO COM CORTES DRÁSTICOS EM CUSTEIO E INVESTIMENTOS


Por Atanásio Mykonios


     O Projeto de Lei Orçamentária para 2020 foi aprovado em 17 de dezembro de 2019. Nele constam os gastos previstos e aprovados para a Educação, especialmente para as universidades, institutos e demais organismos da esfera do Ministério da Educação. No geral, os cortes para custeio da universidade e investimentos foram drasticamente cortados.

     O orçamento destinado para a UFVM em 2019 foi no montante de R$ 269.972.865,00 e para 2020 foram aprovados R$ 273.211.740, 00, um aumento de 1,20%. 

     No entanto, para custeio (ou seja, o recurso que faz a universidade de manter com despesas gerais de manutenção) houve uma redução, para a UFVJM de 37,46% em relação a 2019 e para os investimentos (aqui que é destinado para construir novas instalações e aquisição de equipamentos etc.), os cortes foram ainda maiores, chegando a uma redução de 44,19%.

     Houve cortes ainda maiores em outras universidades, por exemplo, a UFRJ teve um corte de 88% para os seus investimentos. 

     Portanto, a estratégia é sufocar as universidades de maneira geral, impedindo-as de realizar planos de desenvolvimento de suas capacidades, cercear as condições gerais de produção de pesquisa, extensão e ensino, precarizar instalações e condições de trabalho em geral. 

     Este é o cenário invisível que nos acomete sem que possamos reagir a contento, porque a maioria de nós nunca se preocupou com a vida financeira das instituições onde trabalhamos.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

Por cima da ilusão nacional

Por Atanásio Mykonios 



      Os Estados hoje são uma ficção. O conceito de Estado amplo, concebido por João Bernardo, tem melhores condições de dar conta de explicar o que ocorre atualmente, mas não é visível para a maioria. Nossos cálculos ainda estão no campo visual das relações entre Estados, países, nações e esse espectro histórico. Assim como também insistimos em analisar o mundo sob os limites das religiões, que se opõem aos limites das fronteiras. Ainda não somos capazes de analisar o mundo sob a ótica do poder e das relações entre corporações, grandes empresas transacionais, bancos, circulação de capitais por cima dos Estados e seus governos. Um louco aqui e ali, a governar seu país é parte do espetáculo de uma economia controlada de fora do poder de seus povos, eleitores ou seja lá o que venha a ser isto. O mundo está aberto, mas os povos não têm poder sobre suas economias, ao mesmo tempo, a fragmentação da classe trabalhadora implica a impossibilidade histórica de luta concreta de âmbito internacional contra o sistema mundial do capital. Qualquer guerra deve ser entendida, também, não como um capricho de lunáticos no poder, cabe analisá-las a partir das condições de confronto entre empresas e os governos que lutam, de alguma forma, para manter algum controle sobre pedaços da produção capitalista, seja na forma de controle de recursos, seja no controle da força de trabalho, mantendo seu preço em níveis de concorrência incompatíveis com os interesses globais das empresas etc.