sexta-feira, 9 de agosto de 2019

A agonia de um tempo

Por Atanásio Mykonios 


      Como tem sido emblemático e crucial este tempo de destruição! Como nos mostra a armadilha onde toda a humanidade está metida.
      Na mesma trilha, seguirmos na consolidação de uma forma social que se tornou hegemônica - a engenharia social do sistema produtor de mercadorias, suas instituições, sua sintaxe, sua sociabilidade.
      Mas agora, essa forma social agoniza, experimenta seu crepúsculo, suas instituições desmoronam, e com elas, a arquitetura social dá os primeiros sinais de implosão, causando terror consciente. 
      Todos os quadrantes estremecem e as multidões de trabalhadores não mais encontram conforto na sociedade das mercadorias nem guarida nas esferas estatais.
      A educação, a política, os sindicatos, os partidos, colapsam ao romper da luz que agora ofusca e faz com que vejamos a dimensão de nossa tragédia histórica.
      Jamais a humanidade teve à sua frente um desafio tão gigantesco. A passagem desta sociedade e deste tempo de agonia para algo novo será a  tarefa histórica mais importante de nossas vidas.
      Estamos em risco iminente, pois para manter o que está podre por dentro, somos capazes de nos esfacelar em praça pública, nos becos armamos emboscadas, nas nossas casas guardamos os segredos de nossos horrores, em nossos lugares sagrados ateamos fogo nos próprios corpos.
      Vemos estarrecidos a regressão intelectual atingir as raias do inominável e a marca desse tempo é o desprezo pela própria humanidade e a indiferença para com o sacrifício dos inocentes.
      Os cânones da economia falharam. Os preceitos morais ruíram. O conhecimento gira numa roda que não mais sairá do lugar. O gozo pelo sofrimento atinge o grau do entretenimento social.
      Toda brutalidade perpetrada pelos Estados e pelas forças do poder revelam a impotência dos poderosos sobre as massas porque apenas têm sobre elas o poder da força bruta para obrigá-las a continuar a produzir para alimentarem um monstro moribundo.
      Toda mortalha que nos assombra é o nosso fantasma, que bate à porta da nossa terrível solidão a nos chamar para o festim da morte social num ritual de ódio e cálculo econômico perverso. 
      Um novo mundo é possível. Ainda é possível. O que nos acomete agora pode ser o começo do fim de um mundo determinado pelas forças ingovernadas do capital. Veremos a manhã renascer se tivermos a coragem de enfrentar nossa miséria histórica e deixar este mundo se acabar.

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