sexta-feira, 17 de julho de 2015

Quando A = B

Por Atanásio Mykonios


Estou estarrecido com algumas coisas no atual contexto político.

Em primeiro lugar, uma onda anticorrupção se levantou, a princípio com a aparência de um discurso moralizador. Mas eu sabia que quem levantava a bandeira contra a corrupção não tinha qualquer autoridade para isto e rapidamente pude perceber que daqueles que defendem a derrubada do atual governo, ou de parte dele, não encontrei ninguém em condições ilibadas para de fato exigir com autoridade o fim de um governo. Dia após dia, aqueles que se mobilizam ferozmente contra o governo são pegos em questões no mínimo duvidosas para não dizer escandalosas. A lista é interminável e eu não preciso elencar os envolvidos, estes são notórios. 

Como é possível esperar de um país esse tipo de postura? Sabemos que políticos, organizações, empresas, como as midiáticas, grupos extremistas, todos são flagrados ou têm seu passado metido em corrupções, subornos, sonegações, mentiras, etc. Na verdade, quem tem autoridade para isso? Não é apenas um movimento fascista, mas, sobretudo, um movimento de gangues quase armadas, que chantageiam, mentem, manipulam, têm um viés estupido sem qualquer escrúpulo, defendem políticos corruptos como se estes pudessem de fato passar a limpo o país. É um verdadeiro antro de bandidos, eles se sentem acima da lei e a pisam, justamente eles que tanto dizem defender.

Em segundo, é mais do que sabido que o processo da Lava-Jato está eivado de irregularidades. Sabemos que muitos delatores nem provas apresentam. Como confiar em delatores? Quem viveu o tempo da ditadura sabe que os delatores são a pior espécie num processo revolucionário ou num processo de luta contra qualquer coisa. Sabemos que a prática desse processo é irregular e tem sofrido, por parte de juristas e juízes, críticas contundentes apontando o fato de que os procedimentos estão cheios de vícios e que provavelmente esse processo de prender e exigir delação é algo estapafúrdio. E justamente agora que um delator aponta o presidente da Câmara como um suposto achacador, a esquerda ligada ao governo vibra com todos os seus poros e todos os seus pelos. 

Então, se estamos vibrando para que o Cunha se foda, estamos aceitando todo esse processo que se arrasta desde o ano passado e que tem por objetivo desgastar o governo, o Lula e o PT e sabemos que os que apoiam esse processo de investigação são os mesmos que se articulam para derrubar o governo. 

O que me deixa muito angustiado é o fato de que eu, em particular, me vejo na obrigação histórica e ideológica de lutar contra esses golpistas e fascistas, de todo tipo, me posicionar contra todos esses ignorantes sociais e políticos, mas não posso aceitar que agora vale o mesmo remédio que esses golpistas tentam aplicar ao país, como se fosse justo isso. 

A minha consciência diz que não é. Estamos enveredando por um caminho em que a racionalidade é extirpada por completo, as ações visam a um imediato relativo à defesa de qualquer circunstância contra os fascistas. Aos poucos corremos o risco de nos igualarmos a eles, torcendo que o remédio utilizado pelos fascistas sirva para que possamos fazer a justiça contra eles. Isto é muito perigoso. 

O Eduardo Cunha tem de ser deposto porque ele representa o que há de pior e mais nojento na política nacional, ele alia a hipocrisia religiosa com um caráter extremamente marcado pela vilania e pelo comportamento autoritário, chantagista, golpista e inescrupuloso. Ele tem de cair porque é o melhor para o Brasil, ele e seus aliados, mas não por meio de um instrumento judicial que é um justiçamento ideológico contra o governo.