terça-feira, 16 de agosto de 2011

Fascismos velhos e novos

Atanásio Mykonios



Houve uma tentativa histórica das classes dirigentes e das elites culturais nos países estados do capitalismo industrial de assimilarem todo processo econômico embutido na escala capitalista. Por períodos cíclicos, as elites sentiram o fluxo do valor sobre valor, como expressão de sua própria identidade cultural e étnica. Foram levadas a imaginar que seus ganhos e seu conforto sócio-material se deviam à sua forma de agir, aos caracteres genético-histórico-culturais. Nesses períodos em que havia menos turbulência social, nos pós-guerra, os movimentos políticos e sociais emergem das contradições do conservadorismo moral e ganham ares de liberação moral e política. As esquerdas avançavam e os movimentos contra-morais assume o controle das ações sociais. O sexo, o comportamento, as escolhas, as relações de natureza privada pareciam mais abertas e menos cerceadas pelo patrulhamento dos grupos morais. Parece que a prosperidade econômica gerava, na modernização, uma espécie de colchão para efetuar novas demandas políticas e morais.
Mas na história, nenhum povo que alcançou prosperidade material foi capaz de abrir mão de suas riquezas. Foi com os gregos, os romanos, os europeus, os japoneses e hoje com os europeus e os norte-americanos. Ao não abrir mão de suas riquezas, qual é a expressão desse processo na modernização? Fascismo! As identidades xenófobas, com sua cultura dominante, explodem por toda parte, a barbárie não se concentra apenas com os pobres e viciados, desempregados e confinados. As elites reagem com ferocidade, voltam a atacar as minorias, voltam a assumir o poder político, acusam e assumem a guerra total contra seus inimigos – pureza da raça contra seus detratores.
As elites são vítimas sua ilusão, pois ao gerenciarem o processo da sociedade que produz mercadorias, criaram em si a presunção de que são efetivas controladoras do sistema. A mercadoria não tem dono, não tem etnia, cor, formação cultural, não assume nenhuma história local ou regional, não assume nenhuma forma social autóctone, apenas se permite a um encapar das condições culturais, na relação entre valor-de-uso e valor-de-troca. A ilusão que essas elites alimentam na sociedade das mercadorias tem a mesma proporção alimentada pelas religiões em sua luta contra a modernização.

A decadência do capitalismo e seu colapso farão surgir por todos os lados novos e velhos fascismos com a pecha de salvação dos nichos nacionalistas e a condenação dos grupos fantasmas, supostamente aliciados pelos conspiradores históricos contra a cultura nacional.